Bandas e artistas: “O fã do Instagram e Facebook não é seu fã, aproxime-se do seu público”
Quais as melhores estratégias para bandas e artistas lançarem suas criações sonoras? O InterD convidou cinco especialistas da área para falar sobre o tema
Por AD Luna*
@adluna1
No universo da cultura, uma das áreas que mais tem vivido um processo super acelerado de transformação é o da indústria fonográfica, da produção e consumo de música. Diante disso, quais seriam as melhores estratégias para bandas e artistas e iniciantes – ou mesmo com certo tempo de estrada – lançarem suas criações sonoras? Para isso, conversei com cinco especialistas da área.
Eles participaram da edição desta quarta (22), do programa InterD – música e conhecimento, que é veiculado, todas às quartas, às 20h, na Universitária FM do Recife, no site www.interd.net.br , e nas principais plataformas de streaming, além do Youtube. CLIQUE AQUI.
Seguem, abaixo, depoimentos de Mauricio Bussab (Tratore), Gabriel Thomaz (banda Autoramas e selo Maxilar Music), James Lima (Smart Rights e STRM), Alexandre Saldanha (Downtown Music) e Ricardo Leão (Selo Estelita).
Ao final, você também pode ouvir o programa na íntegra, que também apresentou músicas de
Oneide Bastos, Reverendo Frankenstein, Betina e Boogarins, Malu Maria (part. de Tatá Aeroplano), Os acossados, Edu K e Jonnata Doll, Gilmar Bola 8 e Tagore.
“SE VOCÊ NÃO TEM O PÚBLICO, VOCÊ NÃO TEM NADA”
Mauricio Bussab, sócio-fundador da Tratore
Obrigado, rapaz, por me chamar para falar desse assunto. Aqui é o Mauricio Bussab e a gente tem uma boa experiência com o que está acontecendo no mercado. A gente está, neste momento, trabalhando, lançando álbuns de, mais ou menos, 30 mil artistas. Então a gente já viu todo tipo de coisa… O que funciona, o que não funciona.
E o primeiro recado que tenho que dar para o pessoal é o seguinte: – eu não falo isso sempre, tá? Estou falando agora. – o mercado musical está em fluxo, de verdade. Ele está realmente mudando muito rápido, então grandes certezas de antigamente não valem mais, não são mais garantidas.
Uma delas é essa história de singles. Eu tinha um discurso muito claro que eu falava para o pessoal, que é o seguinte: não faz muitos singles, faz dois, no máximo três, se você tiver um tempo longo para lançar. Deixa o foco no álbum.
Essa era a minha recomendação de dez anos atrás, cinco anos atrás. Olha, eu já não dou mais essa recomendação só. Tem uma outra estratégia que funciona tão bem quanto, que é você lançar um monte de single e não dar mais o destaque no álbum. As duas funcionam.
“O público está consumindo de um jeito diferente”
Então é interessante porque você está num momento de trocar, de mudança de estratégia. O público está consumindo de um jeito diferente. Eu suspeito que o álbum conceitual, o álbum inteiro tem uma amarração, por exemplo, você vai cantar todas as músicas de um mesmo compositor, então é uma espécie de portifólio, é um painel daquele compositor.
Esse álbum tem sentido como álbum. Ou é uma história. Tem uma história que alinhava tudo. Se o álbum tem um conceito forte, a minha percepção é que vale ainda fazer a estratégia antiga, de você lançar poucos singles e focar no álbum.
Mas, se não, se são uma coleção de canções, por exemplo, mesmo que da mesma época, representando você numa mesma época, você pode perfeitamente usar a nova maneira de fazer as coisas e lançar um monte de single.
“Aproxime-se do seu público… Não existe mais uma maneira de você construir uma carreira em música a partir das instituições”
Uma coisa que não muda, aliás, cada vez mais é verdade, é o seguinte: aproxime-se do seu público. Crie público. Não existe mais uma maneira de você construir uma carreira em música a partir das instituições. Não existe mais… você não consegue. O que eu quero dizer com isso?
Antigamente você conseguia, trabalhando com os críticos, com o selo, construir um nome independente do público que você alcançasse. Hoje não é mais assim. Se você não tem o público, você não tem nada.
Se você tem um público fiel seu, você tem tudo. Se você tem um público que te acompanha nos shows – e aí é a grande constante que não mudou e eu não vejo mudar tão cedo –, se você tem um público que te segue, que gosta de você, que vai em shows, você pode fazer shows, ou seja, é um tipo de som que é passível de fazer show, faça shows!
“O fã do Facebook não é seu fã, ele é fã do Facebook… Faça uma rede de e-mails”
Pega o e-mail das pessoas, lembra que o fã do Facebook não é seu fã, ele é fã do Facebook. O contato é gerenciado pelo Facebook. O dono do contato é o Facebook, não é você. Mesma coisa para Instagram, tudo isso. Então capture o e-mail da pessoa, do homem e da mulher que estiver vendo você. Mantenha uma base de e-mails, isso é importante ainda, tá?
Faz uma rede de e-mails. Isso parece antigo, mas não é… porque o e-mail é constante, o e-mail não muda, o e-mail é um protocolo aberto, independente de empresa. E o Facebook é uma empresa, o Instagram é uma empresa, o Twitter é uma empresa. Lembra disso.
O e-mail do cara é independente de um controle por parte de uma empresa. Não estou falando mal do Facebook… inclusive, seguinte: vale mais você ter o e-mail do cara do que ele estar te seguindo no Facebook, ou no Instagram, ou no Twitter, ou no Linkedin, porque você consegue uma comunicação direta com ele, porque essas redes passam, o e-mail não passou.
Quem tinha e-mail há 20 anos atrás, continuou com o mesmo. Pode ler um pouquinho menos, mas se o cara é teu fã de verdade, vale bastante.
Então a minha recomendação é essa: contato direto com o público, estratégia de lançamento. Usa o que é forte para você.
Tem uma artista nova aqui, a Duda in the Sky, que ela é também uma grande desenhista e artista gráfica.
Ela faz as capas dela, ela faz todo o material dela. Se isso é o forte seu, usa também. Faz o teu público. Se você gosta, sei lá, de jogo de tabuleiro, vai botando isso no meio do teu projeto.
Esquece a instituição, esquece os críticos, esquece o jornal, esquece tudo… esquece gravadora. O importante é… quer dizer, não esquece, quero dizer não foca nisso.
O importante hoje é você falar com o público. Teu público tem que estar seguindo você, respeitando você e trabalhando junto com você, falando contigo. É isso.
NOTA
Mauricio Bussab pediu pra gente acrescentar:
Blog da Tratore, sempre atualizado com informações importantes para músicos: https://tratore.wordpress.com/
Youtube da Tratore, que sempre apresenta lives com especialistas da área.
“A MELHOR ESTRATÉGIA É TER UMA CONSTANTE DE LANÇAMENTOS”
James Lima, representante da Smart Rights e STRM
Bom, antes de falar da melhor forma de lançar o seu single, o seu EP e o seu álbum, eu gostaria de fazer um alerta aos iniciantes para eles organizarem sua carreira, para se associarem a uma sociedade de classe como autor, interprete, compositor e, se for o caso também, como produtor fonográfico.
Importante também é que eles gerem o ISRC de todos os seus fonogramas, que é o registro de nascimento do seu fonograma para garantir que todos os seus direitos autorais sejam pagos na execução pública e nas vendas nas lojas digitais.
Bom, sobre lançamentos: hoje eles são muito efêmeros no mercado digital e a melhor estratégia é ter uma constante de lançamentos. Nunca lançar um single sem ter outros singles prontos na sequência, estrategicamente pensados e organizados.
O ideal sempre é entender o seu tempo de produção e, baseado nisso, determinar qual será uma constante confortável de lançamento para você dentro das suas possibilidades de produção. E manter a sua base de dados engajada, informada desses passos, desses lançamentos.
Então, identificando a sua produção, você deverá fazer um plano onde consiga esticar ao máximo cada lançamento de cada single uns 15 dias; 15 em 15 dias, 20 em 20 dias, intercalando conteúdo de pré lançamento, fazendo teasers, e pós lançamento, como vídeos no youtube, usando o Instagram, o TikTok, com conteúdo desse lançamento. E já ter um cronograma para os próximos lançamentos, até o lançamento final de um EP ou um álbum.
Vou dar um exemplo aqui para vocês: se você quer lançar um álbum, no mínimo lance três singles de 15 em 15 dias ou 20 em 20 dias e intercale esse conteúdo com teasers de vídeo no youtube, com ações nas redes sociais e seja sempre constante.
Quer dizer, você identifica qual é a tua produção, quanto você consegue produzir. Quando tudo estiver organizado, você consegue olhar para a frente e lançar cada single e ir intercalando, até chegar o lançamento do produto final, que seria o EP ou o álbum propriamente dito.
“ESTEJA SEMPRE APARECENDO COM UMA NOVIDADE PARA OS SEUS FÃS”
Ricardo Leão, Selo Estelita
Atualmente, é muito importante que o trabalho seja mostrado constantemente. É importante que o artista independente esteja sempre aparecendo e se fazendo presente nas redes sociais principalmente.
Então acredito que seja muito importante que as bandas lancem os singles, escolher as melhores músicas para ir trabalhando.
E, depois de algum tempo, lançar o produto fechado, no caso, pode ser um álbum, pode ser um EP. Mas sempre a importância de planejar isso. Muitas vezes as bandas tem também não só o single, mas também um clipe. Então você precisa sentar, olhar o material que você tem na mão e planejar.
A ideia é que você esteja sempre alimentando e esteja sempre aparecendo com uma novidade para os seus fãs e que isso vá gerando um engajamento nas redes sociais da banda e, consequentemente, uma exposição maior do artista.
“É SEMPRE BOM TER UM PLANEJAMENTO”
Gabriel Thomaz, banda Autoramas e selo Maxilar Music
Na minha opinião, eu acho que a melhor coisa para uma banda nova é começar lançando singles, lançar uma música de cada vez. Mas, para isso, não é só lançar uma música solta. É legal fazer um planejamento.
Lança uma, no próximo mês lança outra. E, se você já tiver um álbum pronto, eu recomendaria fazer o single de todas as músicas que você acha que se destacam, antes de lançar o álbum. Aí, quando tiver tudo pronto, pega a melhor música e aí lança, puxando o álbum.
Essa eu acredito que seja a melhor opção. E também já preparando o próximo álbum ou o próximo single. É sempre bom ter um planejamento, assim os lançamentos não param. E o algoritmo vai trabalhar do seu lado.
“A RESPOSTA SIMPLES SERIA LANÇAR SEMPRE SINGLES, PARA ATIVAR O ALGORITMO”
Alexandre Saldanha, representante da Downtown Music
A resposta simples seria lançar sempre singles porque isso vai ativando o algoritmo das plataformas, mostra que o artista está em produção constante, aquela coisa toda. E também aumenta as chances de entrar em playlists editoriais.
Mas, aprofundando um pouco, acho que depende muito do gênero do artista ou do tipo de público. Alguns gêneros consomem mais álbuns; outros, o hip hop, por exemplo, trap, trabalham muito com single… funk, também, brega funk, que é muito forte em Recife.
Esses gêneros trabalham muito com single, mas sertanejo mais antigo, mais pro raiz, rock, já tem mais a coisa do álbum. O público espera aquela coleção de faixas ao invés de ouvir a conta gotas ali.
Mas é uma combinação, você tem que entender seu público, saber o que o seu público espera do artista e analisar isso para definir o que você vai fazer. E aí desenhar uma boa estratégia ao redor disso. Mas uma resposta simples, seria mostrar sempre singles, mesmo.
* AD Luna é músico, jornalista e apresentador. É baterista da Dom Lodo e Sargaço Nightclub. Tocou no Querosene Jacaré, Monjolo, Cruor, entre outras bandas. É formado em jornalismo e mestrando em comunicação pela UFPE. Foi repórter, apresentador e gerente de conteúdo do Showlivre.com, onde desenvolveu o programa Mão na Massa e roteiros para o Estúdio Showlivre. Atuou como repórter dos cadernos de cultura do Jornal do Commercio e do Diario de Pernambuco
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