Sociedade

Redpills, Matrix e a fragilidade do mito da caverna de Platão

Termina que o mundo está repleto de redpills que se acham. O macho persuasivo que dá conselho a homi inseguro por milhares de reais é só uma versão mais escrota da atitude “vi a verdade e ela me libertou” que não falta por aí. Todo mundo se achando o corajoso que saiu da caverna de Platão e viu a luz

Por Alexey Dodsworth* 
@dodsworth.magnavita 

As irmãs Waschowski, autoras de Matrix, odeiam a apropriação do filme pela extrema direita. Como muitos dos que me leem provavelmente sabem, homens de extrema direita curtem se definir como “redpill”. A referência é aquele momento em que Neo se vê diante de duas pílulas, uma azul e uma vermelha. A azul permitirá que ele continue a viver uma existência virtual deliciosa, porém falsa; a vermelha o despertará para a realidade.
Eu entendo o desgosto das Waschowski, mas o que elas esperavam depois de se valer de uma metáfora tão escrachadamente platônica? Alegoria da caverna traduzida em filme – um filme que eu gosto, mas cuja mensagem passa por “existe a ilusão e existe a verdade, quem tem coragem encontra a verdade”.
Redpills e o mito da caverna de Platão
Termina que o mundo está repleto de redpills que se acham. O macho persuasivo que dá conselho a homi inseguro por milhares de reais é só uma versão mais escrota da atitude “vi a verdade e ela me libertou” que não falta por aí. Todo mundo se achando o corajoso que saiu da caverna de Platão e viu a luz.
Daí passam-se uns anos, a pessoa muda de ideologia, de religião, de política, e tome-lhe novas pílulas vermelhas: eu antes estava iludido, agora vi a verdade, veja você também etc., etc., que tédio É um lance Cássia Kis: antes de ter pirado no catolicismo mais reacionário e equivocado, ela já foi esotérica, já foi tudo o que vocês puderem imaginar. Daqui a pouco, larga tudo, vira ateia e vem encher meu saco por causa de imagens de Yemanja.
Eu gosto de uma provocação especial sobre a caverna de Platão: quem garante que o homem que decide dar as costas para as sombras na parede e sai pro mundo real não adentrou em uma caverna ainda maior? É a versão Buda da caverna: você trocou a ilusão por uma mais sofisticada. Você acha que está vendo a verdade, mas apenas saltou pra outra etapa do jogo.
Pensar assim ajuda a ter um pouco de humildade, acredito. É o que eu queria ter visto em Matrix: Neo não acorda pro mundo real porque ele não existe. As Waschowski teriam menos razões para se zangar se tivessem se inspirado em algo menos pretensioso que a alegoria da caverna do senhor Platão.
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