O garimpo, aqui, é o tema central para esse agravamento. A fome, a desnutrição, estupros e as doenças foram causados pelas invasões de garimpeiros, que não foram combatidas e deixadas de lado pelo antigo governo. “Foi feito não apenas uma vista grossa, como também um incentivo de atividade do garimpo”, esclarece o pesquisador.
Sztutman ainda lembra que houve um desmonte na estrutura de atendimento à saúde. Os povos indígenas são vistos como um obstáculo para as atividades de mineração e agronegócio. Na avaliação de Sztutman, “foi, de certa maneira, um projeto de destruição, de demolição de uma estrutura de assistência dos povos indígenas. Eles foram tomados como inimigos por excelência”. Estima-se que mais de 20 mil garimpeiros estão nas terras yanomamis. “Teve todo um projeto de liberação de áreas adjacentes à terra [yanomami] e isso foi permitindo que essas pessoas fossem se infiltrando no território”, lembra o pesquisador. O governo já está tomando medidas, como a exoneração de pessoas que cuidam da saúde na Funai e mudanças na Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
Lula já começou, inclusive, a exoneração de militares de outras áreas do governo. “Pessoas que não só não conheciam direito a realidade, como uma pessoa que jogava contra”, diz Sztutman sobre a presença de militares cuidando das áreas indígenas e da situação desses povos. As exonerações já somam 155, sendo que mais da metade são militares de baixa patente, segundo levantamento do Estadão.
A contaminação por metais pesados, por conta do garimpo, também é um problema. Como acontece a longo prazo, os efeitos são sentidos tardiamente. Além disso, sabe-se que muitos desses garimpeiros se envolvem com os indígenas, e estes também trabalham para aqueles, algo que deve ser fiscalizado e evitado.
O professor classifica essa ocupação por garimpeiros como predatória. Para ele, a solução é o reavivamento das instituições e organizações que cuidam desses povos: “Agora é preciso fazer com que elas voltem a funcionar e que tenham um comprometimento, um compromisso com a questão. E, a partir daí, a ciência então possa ser retomada, assim como uma política de saúde efetiva”.