O que acontece quando você é excomungado?

 O que acontece quando você é excomungado?

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Por Alexey Dodsworth
Escritor, Doutor em Filosofia pela USP e Universidade Ca Fóscari (Veneza, Itália)

Trago notícias sobre excomunhão, conforme prometi a alguns amigos há alguns dias. Adianto que não sou católico, muito menos religioso de qualquer tipo, e pouco me importa ser excomungado (eu sou) ou que alguém o seja. Trago a informação como curiosidade, pois noto que muitos ignoram o assunto – mesmo quando se definem como católicos!

Sempre que rola algum problema envolvendo aborto, essa história volta. Recentemente, ficamos sabendo que o médico que realizou o procedimento de interrupção da gravidez numa criança de dez anos foi excomungado. “Pela segunda vez”, informa um jornal. “Todos os envolvidos no procedimento são excomungados”, informam as notícias.

“Quero que o padre me excomungue também”, escreveram alguns contatos meus, em apoio à menina e aos médicos. Com algumas variações, nada de diferente do que ocorreu anos atrás, envolvendo outra menina que passou pelo procedimento. Lembro bem da mesma celeuma.

E o que significa ser excomungado? Você vai pro inferno? É possível ser excomungado várias vezes? E se você quiser ser ex-excomungado?

Vamos lá

A excomunhão é – geralmente, mas nem sempre – um processo LATAE SENTENTIAE, expressão em latim que significa AUTOMÁTICO.

Isso quer dizer que se você já abortou ou ajudou alguém a abortar, você foi excomungado. Para os católicos, não importa o motivo do aborto: se fez, excomungou-se. Não é o padre quem lhe excomunga. É o ato em si. O padre, no máximo, só lhe informa sobre o que ocorreu caso saiba que você abortou ou se envolveu em um aborto. Mas, mesmo que o padre não saiba, você continua excomungado.

Deste modo, estão excomungados não apenas a criança, a família dela e os médicos, como também as pessoas ricas cujos abortos muito bem amparados e caros não causam nenhum estardalhaço. Adiciono: no caso da criança, há divergências. Algumas autoridades argumentam que ela não pode ter sido excomungada por ser criança. Outros dizem que sim. Mas e se ela nunca comungou?

Esse tipo de excomunhão difere da de outro tipo, denominado FERENDAE SENTENTIAE, emitido pela autoridade eclesiástica. Ocorre que, pelos critérios católicos, é bastante provável que você tenha sido excomungado e não o saiba.

Vejamos o que produz a excomunhão latae sententiae:

– Bater no Papa (não façam isso com o atual, muito gentil ele);
– Abortar ou provocar aborto ou ajudar alguém a abortar;
– Pegar qualquer objeto consagrado e o utilizar para fins não católicos. Algo como pegar uma cruz consagrada e usá-la para invocar Baphomet ou ir pra uma festa gótica.
– Invocar os mortos. Sabe aquele tabuleiro ouija que você usou? Pois é. Sabe o centro espírita em que você foi? Pois é;
– Consultar ou praticar astrologia e quaisquer oráculos. Anos atrás, um conhecido meu abandonou o trabalho como astrólogo ao ser informado de que tal prática produzia a excomunhão latae sententiae. Este ponto precisa ser confirmado. Um padre já me disse que sim, que consultar ou praticar astrologia produz excomunhão automática. Outro disse que não. A página do Vaticano, contendo o Catecismo da Igreja Católica, informa que:

 

“Todas as formas de adivinhação devem ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demónios, evocação dos mortos ou outras práticas supostamente «reveladoras» do futuro. A consulta dos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e de sortes, os fenómenos de vidência, o recurso aos “médiuns”, tudo isso encerra uma vontade de dominar o tempo, a história e, finalmente, os homens, ao mesmo tempo que é um desejo de conluio com os poderes ocultos. Todas essas práticas estão em contradição com a honra e o respeito, penetrados de temor amoroso, que devemos a Deus e só a Ele.” – ADVINHAÇÃO E MAGIA – 2116

 

Seria, portanto, apostasia, que faz parte do rol das coisas que geram excomunhão automática.

E o que acontece com quem foi excomungado?

Nada. Você só não pode comungar. Não é uma condenação ao inferno. E se você não disser nada, ficar quietinho e for até a missa comungar? Na verdade, você não comungou.

Para se ex-excomungar, é preciso se arrepender. Antigamente, só bispos e papas poderiam re-comungar a pessoa (salvo em risco de morte, daí um padre também poderia), mas o Papa Francisco determinou que padres também podem fazê-lo, se o pecador se confessar, mesmo sem risco de morte.

Conclusão: e daí? Isso só tem importância para quem é católico. Não é, nem de longe, meu caso.

Se a criança for católica e quiser se recomungar, não faltarão padres acolhedores. Eles existem, e são muitos. Idem pro médico e para qualquer parte envolvida.

E você, já fez algo que lhe excomungou hoje?

 

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Seria melhor se estivéssemos sós

Fim do século XX. Um astrofísico brasileiro descobre que uma pálida estrela da Constelação do Escorpião é uma gêmea perfeita de nosso Sol. Segunda década do século XXI. Vários adolescentes brasileiros entram em surto psicótico ao mesmo tempo, durante uma explosão solar.

Como podem eventos tão distintos ameaçar um mesmo segredo? De que forma esses fatos podem afetar uma vila no coração da selva? A Vila Muhipu, resguardada por índios da etnia Tukano, é um paraíso onde o sofrimento não passa de lembrança. Uma utopia que deve ser mantida escondida a todo custo, e o doutor Ravi Chandrasekhar não poupará esforços nesse sentido.

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Aprisionados a uma maldição alardeada por bárbaros liderados pela feroz Lah-Ura, os aphrikeianos nem desconfiam que seu paraíso está prestes a ser arruinado. Até que nasce uma aberração: um menino capaz de dormir. Uma pessoa capaz de, através dos sonhos, entrar em contato com Outromundo, um planeta como Aphriké, mas iluminado por um único sol amarelo.

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