Lirinha descreve músicas de seu novo disco, MÊIKE RÁS FÂN

 Lirinha descreve músicas de seu novo disco, MÊIKE RÁS FÂN

Lirinha por Thaís Taverna

 

“Uma rádio cósmica”. É a partir dessa ideia que nasceu MÊIKE RÁS FÂN, um disco, mas, não só. O novo trabalho de José Paes de Lira, também conhecido como Lirinha, envolve, além das canções, a poesia, a performance e uma série especial de podcast, envolvendo pesquisas sobre a Rádio Drama, que será lançada em um segundo momento. Portanto, esta viagem está só começando. Ouça aqui.

Concebido entre 2020 e 2022, o álbum apresenta oito faixas inéditas, produzidas pelo próprio artista. Construído sobre a investigação da Rádio Arte e do corpo da voz, o canto falado, desenvolvido nesse projeto, apresenta um protagonismo inédito na obra de Lirinha.

Já a composição musical, definida pelas melodias e arranjos harmônicos, “é inspirada na paisagem sonora de intensa experiência sensorial e emocional da sonoplastia da Rádio Drama”, comenta o autor. Além disso, o impacto das palavras e a força expressiva da sonoridade fazem de MÊIKE RÁS FÂN uma profunda mistura entre a música e a poesia.

As participações contam com as vozes de Gabi da Pele Preta, em Estrela Negríssima; Nash Laila em Bebe; Lana Balisa, em Mesmo; o coral de Dan Maia, em Oyê; Iara Rennó, em Amor Vinil; e, por fim, Sofia Freire, em No Fim do Mundo.

 

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Capa de MÊIKE RÁS FÂN – download aqui

A arte gráfica do disco tem assinatura do designer Rodrigo Sommer: “A ideia da capa foi construir uma ‘placa/letreiro luminoso’, da fictícia sede da estação da Rádio Cósmica: MÊIKE RÁS FÂN”, explica Lirinha.

Faixa a Faixa

Estrela Negríssima abre a jornada do álbum e se traduz como uma canção de amor para a fotografia de um buraco negro. Escolhida para ser o single de lançamento, a faixa apresenta o universo sensorial e imagético que conduz o disco. “A imagem do buraco negro em questão só foi possível ser registrada e construída através das informações captadas por ondas de rádio. Concretizando, assim, para nós que vivemos envolvidos no infinito tecido do espaço-tempo, a visibilidade de um corpo impossível. A faixa também introduz o conceito definidor da interpretação vocal do disco, onde a poesia recitada estabelece um constante diálogo com o canto”, comenta Lirinha.

Sobre Oyê, ele diz: “Essa canção é muito especial para mim. Emocionante em todos os processos, desde a composição. Nasceu de uma grande paixão, no mesmo momento que perdia a presença física do meu pai. Fala sobre a busca por novas palavras que permitam contar pra outra pessoa nossos profundos sentimentos, numa história que ainda não acabou. O arranjo instrumental nasceu de um encontro inusitado com um importante músico da minha cidade Arcoverde, Orlando Melo, representante da sofisticada tradição dos sanfoneiros do sertão nordestino brasileiro. Era noite de São João de 2021, estávamos num sítio recolhidos e lamentando a impossibilidade de festejar essa data tão importante na cultura do meu lugar devido à pandemia. Mas ficamos tocando entre a gente, acendemos uma fogueira e, assim, apresentei os primeiros rascunhos da música”.

Bebe, terceira faixa, começa com a voz de Nash Laila, declamando um texto num rádio intercomunicador, evocando a fictícia estação cósmica que dá nome ao álbum: MÊIKE RÁS FÂN. Com a força expressiva do arranjo e da letra, essa canção procura a visualização, através do som, de ondas, braços, guindastes, montanhas, da mudança das cores do céu entre a tarde e a noite, e a lua brilhando num cais molhado. Imagens que se revelam e se transformam constantemente. Também incorpora um surpreendente coral que interpreta estivadores numa madrugada de um porto imaginário. “A faixa nasceu do desejo de escrever uma poesia dos remadores”, comenta Lirinha.

Única regravação do álbum, a música Mesmo fala sobre “os sentimentos de um artista musical, durante suas viagens de trabalho pelo país dos sonhos”. Essa canção é uma releitura de uma poesia composta especialmente para o disco Quando Um Não Quer, do guitarrista e compositor brasileiro Martin Mendonça. “Recebi o desafio de Martin, através do seguinte mote: ‘O que faz tão fácil descrever, é o que faz difícil de esquecer, continuo no mesmo lugar’. Nessa época, ele estava em turnê com a cantora e compositora Pitty, num duo chamado ‘Agridoce’. A partir disso, desenvolvi a letra, pensando neles, como representantes de todos os músicos que constroem e atravessam histórias por onde passam. No conceito do álbum MÊIKE RÁS FÂN, essa faixa entra como uma mensagem sonora encontrada numa busca por estações de rádio, dentro de um automóvel, durante uma fictícia viagem”.

Composta especialmente para a inauguração do campo de futebol Dr. Sócrates, na escola de formação do MST: Florestan Fernandes, em Guararema – SP, O Campo é o Corpo retoma a parceria com Dan Maia, co-autor da música Ah se não fosse o amor, que abre o primeiro álbum solo do autor, LIRA (2011). “Das canções de MÊIKE RÁS FÂN, é a faixa que mais se aproxima da proposta de um ritmo e poesia própria e experimental. A letra reflete o pensamento de conexão entre o campo e o corpo. E a consciência de que as transformações de um, reconfiguram o outro”, explica Lirinha.

Chegando perto do final, Amor Vinil é “mais um movimento dramático de criação sobre o tema inesgotável e infinito do amor entre as pessoas”. A participação da voz de Iara Rennó provoca um intenso diálogo entre os personagens, desenvolvendo a comunicação poética da faixa, entre o canto e a fala. “A música começa sobre a textura sonora de um antigo disco de vinil. O cenário é uma ligação telefônica de um ouvinte solitário da Rádio Cósmica MÊIKE RÁS FÂN para a sua grande paixão, que é uma das vozes cancioneiras da programação”, comenta.

No Fim do Mundo traz a única letra que não é de autoria do artista. O arranjo instrumental é estruturado no coral de Sofia Freire, sobre as texturas sintetizadas de Paulo Kishimoto e os metais operísticos do maestro Parrô Melo. “Ela foi escrita por Micheliny Verunschk quando o atentado do World Trade Center, em Nova Iorque, completou 15 anos. Aparece como metáfora das profundas mudanças socioculturais do nosso mundo. A data marcante coincide com a revolução tecnológica da popularização da internet, no surgimento das redes sociais globais e da reelaboração do discurso e debates sobre as diversidades. A escolha de um texto de Verunschk para o disco acontece por sua obra exercer um forte impacto na história das minhas composições. Crescemos juntos em Arcoverde, minha cidade natal, e o contato com a sua poesia redirecionou minha rota de construção literária”, conta.

Single que deu início à divulgação do disco, Antes de Você Dormir foi a última música composta e produzida para o álbum, e começa com uma voz sintetizada, produzida por uma ferramenta de Inteligência Artificial, narrando uma ficcional viagem espacial. “A canção carrega todos os elementos que caracterizam a visão cósmica de multi horizontes presente no disco. Emoções universais num cenário ficcional de comunicação interplanetária. Já a letra é sobre o momento fantástico que precede o mergulho no sono. A zona intermediária entre o mundo acordado e o adormecido. O momento em que o corpo vivencia a ausência de gravidade e o desaparecimento das leis naturais da física. Entrando, assim, num infinito espacial, onde não somos mais nós mesmos e, sim, a composição total desse espaço, sendo possível acessar todas as emoções”, explica.

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