Palestra sobre astronomia encanta turma de garotos da Fundação Casa, antiga FEBEM, em São Paulo. Leia relato
Por Alexey Dodsworth*
@dodsworth.magnavita
Ontem (16/12), atuei como facilitador na oficina de introdução à astronomia do sistema solar para uma turma de adolescentes na Fundação Casa. Para quem não conhece, é a antiga FEBEM, onde menores de idade são internados para medidas socioeducativas.
Eu realmente não esperava que a experiência seria tão boa. Eu achava que seria boa, gosto de adolescentes, mas não achava que seria melhor do que normalmente é, quando os adolescentes estão em circunstâncias comuns.
A turma tinha dezoito garotos cujas idades variavam entre 15 e 19 anos. Fiz questão de ir de uma forma que minhas tatuagens ficassem visíveis, pois queria que ficasse claro que eu não deveria ser visto como um adulto careta e formal. Deve ter ajudado, percebi que ficaram curiosos justamente com as tatuagens.
No começo da oficina, alguns mantinham a cabeça baixa e se recusavam a falar. À medida que o tempo foi passando, foi muito bonito ver a postura corporal sendo substituída por caras de espanto e olhos arregalados. Porque é isso mesmo que a astronomia faz com quem nunca se aproximou do assunto: ela espanta e encanta.
O método usado foi o expositivo alternado com estímulo ao debate, deixando claro que nenhuma resposta deles deveria ser vista como absurda ou boba. Livres para viajar nas especulações.
Imagens astronômicas impactantes ajudaram muito a tirar do torpor os poucos que pareciam entediados.
Em meia hora, a sala estava tomada por um falatório incessante, os garotos entusiasmados e conversando entre si.
Quem visse a cena, pensaria em adolescentes indisciplinados que não prestam atenção. Mas era justamente o contrário: eles ficaram tão excitados com o assunto que não paravam de falar sobre ele.
Fiquei sinceramente impressionado com a velocidade e precisão das respostas. Eles surtaram num sem fim de perguntas:
– nosso Sol é a maior estrela de todas?
– por que a Lua e o Sol parecem ser do mesmo tamanho?
– o Sol é feito de fogo?
– por que os planetas são redondos?
– tem água em outro planeta?
– quanto tempo leva pra chegar em Marte?
– e na Lua?
– eu já vi estrela caindo! O que é aquilo?
Como a proposta era mostrar que a imaginação deles poderia conduzi-los às respostas corretas, eu devolvia as perguntas para eles e ia estimulando o raciocínio.
O chocante foi que eles SEMPRE chegavam, após alguns minutos, à resposta certa ou quase certa.
Havia quatro garotos assustadoramente inteligentes, mas todos eram participativos e curiosos. Eles pareciam mais chocados do que eu, quando eu dizia:
– Seu raciocinio está certo.
Foram duas horas que, notei, eles queriam que durassem mais. Ao final, estavam todos com sorrisos imensos no rosto, e eu mais ainda.
Aqueles que quiserem continuar no caminho do estudo da astronomia sabem que, tão logo saiam de lá, podem me procurar.
Tiramos uma belíssima foto juntos, fazendo a saudação 🖖 vida longa e próspera [do personagem Spock, da série “Jornada nas Estrelas”], mas evidentemente não posso postar até que todos os rostos e marcas distintivas sejam borrados pela superintendência pedagógica.
Acho que o que mais me impressionou é como eles são afetivos e respeitosos. Notei que eram especialmente carinhosos entre si: se abraçavam muito, o tempo todo! Confesso que eu tinha uma ideia equivocada deles.
Dei de cara com adolescentes muito gentis e que me olhavam como se eu fosse algo muito fora do normal. Me fizeram umas perguntas interessantes: “o senhor já viajou pra outros países?”, “o senhor fala outras línguas?”. Coisas que pra mim eram banais, pra eles eram impressionantes.
Tudo o que um adolescente precisa é de modelos, acolhimento e estímulo. E de um pouco de maravilha na vida. Isso, a astronomia tem de sobra pra oferecer.
*Alexey Dodsworth é escritor, doutor em Filosofia pela USP e Universidade Ca Fóscari (Veneza, Itália)
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