Por AD Luna
Outrora classificada como doença mental pela Organização Mundial de Saúde, a homossexualidade deixou de ser tachada como tal no dia 17 de maio de 1990, pela própria OMS. Algumas décadas antes, devido à falta de comprovação científica, a Associação Americana de Psiquiatria excluiu, em 1973, a orientação da lista de transtornos mentais. Exemplo seguido, dois anos depois, pela Associação Americana de Psicologia. Aqui no Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) proíbe profissionais da área de trabalhar a homossexualidade como algo a ser revertido.
Apesar das negativas da ciência, na cabeça de diversas pessoas ainda persiste a ideia de que é possível “curar” gays. No dia 15 de setembro, o juiz Waldemar Claudio de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal, concedeu liminar que permite psicólogos realizarem estudos e terapias de reorientação sexual. Para Adriano Facioli, doutor em psicologia pela Universidade de Brasília, a decisão desrespeita a autoridade do CFP. “Não é um juiz, não é uma ação popular que vai passar por cima disso. Se você quer seu registro de psicologia, precisa se submeter às determinações do conselho do qual você faz parte”, expõe.
Acioli informa ainda que, caso psicólogos desejem fazer pesquisas sobre reorientação sexual, eles ficam impedidos de cobrar por isso em consultórios. “Mas querem tentar? [Então] devem, antes de tudo, submeter o projeto a comitês de pesquisa regulamentados”. No Brasil, quem exerce a função é a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), vinculado ao Ministério da Saúde.
Entre as pessoas que propuseram a ação, está a missionária evangélica Rozangela Alves Justino. Ela teve o registro de psicóloga cassado em 2009, pelo Conselho Federal de Psicologia, justamente por oferecer tratamentos que reverteriam a homossexualidade. Assim como nos Estados Unidos, parte geralmente de adeptos deste segmento do cristianismo tentativas de emplacar a “cura gay”. Adriano Facioli diz enxergar isso com “muito maus olhos”.
O que existe é psicólogo que pode se definir como cristão, que pode até montar uma associação de psicólogos cristãos, o que for. Mas acreditar que suas intervenções devem ser pautadas por uma religião específica… Isso está completamente fora do escopo da psicologia”, enfatiza.
Facioli faz questão de dizer que não há impedimento de profissionais terem suas crenças religiosas. Mas isso deve ficar fora do consultório, do trato com pacientes. De acordo com ele, todas as evidências produzidas demonstram que a melhor forma de entrar em contato com o outro devem partir dos referenciais do paciente e não de quem cuida deles. “Isso é jogar o diploma de psicólogo no lixo”, sentencia o doutor, referindo-se aqueles que transgridem essa orientação.
Entre os diversos casos de tentativas de reorientações sexuais que acabaram mal, uma delas foi abordada nos episódios “The boy who was turned into a girl” (2000) e “Dr. Money and the boy with no penis” (2000), na série documental “Horizon”, produzida pela BBC de Londres.
Em 1965, na cidade de Winnipeg, no Canadá, o jovem casal de fazendeiros Janet e John Reimer foi orientado a levar seus filhos gêmeos Brian e Bruce a um hospital para que fossem submetidos a uma circuncisão. Devido a um erro médico, o pênis de Brian foi totalmente destruído.
Preocupados com o futuro do filho, os pais aceitaram a orientação do psicólogo John Money e passaram a criar o pequeno Brian como uma menina, que se tornou Brenda. Isso lhe causou diversos problemas psíquicos e de identidade ainda na fase final da infância. Até que aos 15 anos, Brenda decidiu viver como homem.
David Peter Reimer (novo nome de Brian/Brenda) chegou a casar com uma mulher e adotar filhos. Mas, aos 38 anos, depois de sofrer com crises de identidade, aliadas à morte do irmão vítima de overdose de antidepressivos, e à separação da esposa, Reimer se suicidou.
Ouça “Cura gay, com o psicólogo Adriano Facioli #18” no Spreaker.
Publicado em 10/02/2017
Em relação a denúncias recebidas acerca da existência de cursos que oferecem formação em “Psicologia Cristã” e/ou profissionais que afirmam exercê-la, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) informa que:
1. De acordo com a Lei 4.119/1962, para se intitular psicóloga (o) e exercer legalmente a Psicologia, a (o) profissional deve ser diplomada (o) em instituição de Ensino Superior reconhecida pelo MEC e devidamente registrada (o) junto ao CRP, conforme estabelecem as leis 4119, de 1962, e 5.766, de 1971;
2. De acordo com a resolução CFP 13/2007, o Conselho Federal de Psicologia reconhece apenas uma Psicologia, que se constitui por 12 especialidades, técnica e cientificamente validadas. “Psicologia Cristã” não é uma delas;
3. A Constituição brasileira assegura a laicidade do Estado, e o Sistema Conselhos de Psicologia pauta-se por tal referencial ao realizar suas ações de orientação, fiscalização e regulamentação da profissão;
4. A autarquia comunica, adicionalmente, que encaminhou ofícios a estabelecimentos de ensino que não se referem à formação em Psicologia conforme a definição legal em que solicitou alteração no nome do curso e nas campanhas de divulgação.
Link: http://site.cfp.org.br/formacao-em-psicologia-crista-comunicado-do-cfp/
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