As raízes de “Contemporâne@” estão numa pesquisa que estava fazendo para outro projeto
Por Fernanda Porto
Se existe algo que admiro nos meus ídolos é que eles foram pessoas do seu tempo. De Hans-Joachim Koellreutter a Tom Jobim, de Goldie a Chico Buarque (e mais outros que renderiam incontáveis horas de citação e discussão), todos criaram músicas a partir da mistura do que estava sendo feito no período juntamente com as influências que faziam parte de sua trajetória. O meu novo disco, “Contemporâne@”, honra, de uma certa maneira, essa ideia. É um trabalho de releituras no qual eu me conecto a autores da nova geração do pop brasileiro, num trabalho em conjunto com o DJ e produtor Zé Pedro, um amigo de longa data.
As raízes de Contemporâne@ estão numa pesquisa que estava fazendo para outro projeto. A ideia era selecionar um grupo de artistas da minha preferência e trabalhar numa composição inédita. Mas eis que Zé entrou no meio desse processo. Ele sempre mostrou interesse maior pela minha face acústica, através de gravações que fui enviando a ele, sem compromisso de gravação, ao longo dos anos.
Durante a pandemia, nas muitas de nossas conversas online, ele me propôs então que lançasse um álbum com um repertório focado na nova geração do pop brasileiro, valorizando o meu lado intérprete e musicista, além de servir de cartão de visita para esses novos compositores – que, em sua maioria, não conheciam meu trabalho, mas se mostraram disponíveis e interessados por uma artista que nascia agora para eles, através de contatos que tivemos pelas redes sociais.
Desde o início da minha carreira, nos anos 1990, fui atraída pelo novo e pela possibilidade de novos desafios. Surgi num período em que nasciam artistas como Zélia Duncan e Cássia Eller. Na falta de um empresário que embarcasse na minha visão artística, assumi as funções de artista e produtora. O meu primeiro álbum, no qual produzi e gravei todos os instrumentos, foi lançado em 2002 pela gravadora Trama. Ele era o resultado de um desafio que começou em 1998, de misturar os ritmos brasileiros com as batidas sincopadas de um estilo que surgia em Londres: o “Drum and Bass”. Derivado do “Breakbeat”, ele me foi apresentado pelo DJ e produtor Xerxes de Oliveira, o XRS Land. Remixada pelo Dj Patife, minha canção “Sambassim” ganhou as pistas e abriu a porta também para uma releitura do clássico de Tom Jobim, “Só tinha de ser com Você”.
Em 2003 veio o convite de Marina Lima para arranjar sua canção “Charme do Mundo” nesse estilo para o seu “Acústico MTV”. Na sequência o convite para compor a trilha sonora de “Cabra Cega”, de Toni Venturi, que contou com a participação mais que especial de Chico Buarque em “Roda Viva”. De lá para cá me dediquei mais aos shows e em 2020 lancei dois álbuns simultaneamente, “Elétrico e Alma Acústica”.
De volta à “Contemporâne@“, ele é um (re)encontro com o marco zero da minha vida de cantora, um elo amoroso entre a primeira plateia e as próximas que virão. De certa forma também é um encontro meu com o piano, instrumento que eu tocava na infância e juventude quando todos de casa já estavam dormindo. O piano tem essa natureza, de vestir a canção de modo sutil para que ela fique completamente transparente, nua. “Ao ouvir uma música no piano percebemos suas belezas e isso que eu quero mostrar com esse álbum. Há muitas boas canções contenporâneas.
“Contemporâne@” foi gravado ao vivo no estúdio Giramundo, nos dias 17 e 18 de junho de 2022 , eu cantando e tocando piano com a presença luxuosa de quem sempre me ouviu com o coração: Dj Zé Pedro.
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