Em participação no programa InterD – música e conhecimento, apresentado pelo músico e jornalista AD Luna @interdmc veiculado pela Universitária FM do Recife, o escritor Alexey Dodsworth falou sobre a HQ brasileira de ficção científica “Saros 136”. Na ocasião, ele também abordou a relação entre ciência e imaginação. Abaixo, leia trecho em que ele trata do tema. O player com a entrevista completa está no fim do depoimento.
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Natural de Salvador e atualmente morando em São Paulo, Alexey Dodsworth é doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo e pela Universidade Ca’ Foscari de Veneza, é autor e roteirista de livros e HQs de ficção científica e fantasia. Além de “Saros 136”, é autor de “Dezoito de Escorpião” e “O Esplendor”, ambos vencedores do Prêmio Argos na categoria “melhor romance de ficção científica”.
Cursa atualmente outra pós-graduação em ensino de Astronomia pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, sob orientação do astrofísico Amâncio Friaça.
INTERD: “Saros 136” vem com um prefácio de Renato Janine muito interessante, sobre a importância da imaginação e da arte para a ciência. Poderia comentar a respeito. (NOTA: Renato Janine é o atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, professor, escritor e ex-ministro da Educação do governo Dilma)
ALEXEY DODWORTH: Ah, pois é! O Renato foi um querido em fazer esse prefácio. Ele toca num ponto que eu acho muito fundamental quando a gente fala de ciência. Existe uma ideia equivocada de que a ciência se pauta em pura lógica. Na verdade, não é assim. Na verdade, a gente parte, também, de suposições completamente imaginárias.
Quer dizer, a gente dá asas à imaginação. Imagina modelos. E aí, o que a gente faz com esses modelos que a gente imagina, que a gente fantasia? A gente testa. E aí, quando a gente testa – e esse é o método científico, você testa as coisas –, ou você estava certo ou você estava errado.
Quer dizer, houve muitas ideias ao longo da história da ciência que foram consideradas como sendo certas, que foram imaginadas como adequadas, como corretas, e, depois, se revelaram como incorretas. A pessoa não tinha como saber se a ideia dela estava certa ou não, mas ela exerceu a imaginação.
Aí você pega, por exemplo, a Física de Aristóteles, da época dele. Aristóteles foi um gênio! Não importa que Aristóteles estivesse completamente errado sobre a Física, sobre a natureza dos planetas, sobre a natureza do nosso próprio mundo, quando ele fala dos quatro elementos e tal.
Não importa que ele estivesse enganado. Para a época dele, aquela imaginação, aquilo que ele elaborou como sendo uma ideia de verdade pro mundo foi genial.
Isso depois foi testado e foi refutado, mas assim é com uma série de outras coisas ao longo da história da ciência. Progredimos imaginando coisas e às vezes a gente está certo, às vezes não está.
O problema não é imaginar, o problema não é fantasiar… o problema é quando a gente toma nossa fantasia como uma verdade irrefutável.
Eu acho que a diferença de um bom cientista para uma pessoa que rejeita o método científico é que a pessoa que rejeita o método científico transforma a fantasia dela num dogma. E esse dogma não pode ser contradito por evidências.
Quer dizer, a pessoa fica tão apegada à ideia que ela tem de mundo, à fantasia que ela tem – e não é nenhum problema ter essa fantasia –; o problema é quando você tem evidências que mostram que as coisas, na verdade, funcionam de uma outra maneira e você continua apegado ao velho modelo.
A diferença para o cientista – eu falo aqui do cientista, mas acho que seria melhor dizer “a pessoa que abraça o método científico” – é que ela não tem nenhum problema de abandonar a fantasia anterior que ela tinha e abraçar um novo modelo de realidade.
Mas praticamente todos os modelos de realidade começam lastreados em imaginação, não é a pura lógica que entra. Entra a aposta, entra o palpite, entra a fantasia, e, com o tempo, e não só com o tempo, mas com o método científico, com as mensurações, com as avaliações, a gente consegue avaliar se a ideia que a gente tinha era ou não correta.
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A LUZ SEPARA. A ESCURIDÃO REÚNE. Cinco caminhos se cruzam em uma estranha encruzilhada espaço-temporal onde o Sol traz a noite. Trevas inesperadas que portam consigo a última chance de sobrevivência para a humanidade.
O ano é 1865. Um sacerdote africano luta por sua liberdade em uma Angola tomada por colonizadores portugueses.
Em 1919, astrofísicos ingleses se reúnem no Ceará para testar uma controversa hipótese de Albert Einstein. A colisão de um cometa é uma ameaça real a ser enfrentada por uma astronauta brasileira em 2045.
2135 é o ano marcado por uma epidemia cuja solução está nas mãos de uma cientista indiana.
Eventos e personagens à primeira vista desconectados, mas unidos por uma missão que eles mesmos desconhecem: garantir um mundo para os nossos descendentes. Estaremos nós preparados para conhecer os filhos dos nossos filhos?
SAROS 136 é um romance gráfico de ficção científica sobre a constante luta de nossa espécie para se reinventar e sobreviver. Selecionada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo em 2020, com roteiro de Alexey Dodsworth e desenhos de Ioannis Fiore, esta história é mais do que uma aventura: é uma declaração de amor à existência, à vida e à consciência.
Alexey Dodsworth fala sobre a relação entre ciência e imaginação no InterD
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