Covid-19: quando as crenças são mais fortes que as evidências

 Covid-19: quando as crenças são mais fortes que as evidências

 

Pastor evangélico que disser que Deus mandou usar máscara terá em mim, ateu, o mais dedicado aliado

 

Por Alexey Dodsworth
Escritor, Doutor em Filosofia pela USP e Universidade Ca Fóscari (Veneza, Itália)

Escola foto criado por wirestock – br.freepik.com

É um fato, goste você disso ou não: há pessoas, e poucas não são, que não se guiam pela autoridade científica. Elas se guiam pelo padre, pelo pastor evangélico, pelo astrólogo, pela mãe de santo. E de nada adianta, em tempos de pandemia, oferecer argumentos de que elas devem se guiar pela ciência.

Crença é mais forte que evidência, e poucas coisas são mais poderosas que uma autoridade metafísica responsável.

Daí a importância do hackeamento metafísico, e muitos felizmente fazem isso: a mãe de santo que joga búzios e diz pra pessoa se cuidar, usar máscara, manter distanciamento social, evitar aglomeração.

O pastor evangélico que pinça partes da Bíblia que justificam os devidos cuidados. O astrólogo que fala dos trânsitos planetários e alerta: não saia de casa, o ano não está bom.

Você pode até achar ridículo, mas enorme quantidade de pessoas segue os conselhos dessas autoridades metafísicas à risca.

Em um momento catastrófico como o que estamos vivendo, pouco me importa se a pessoa obedece protocolos sanitários porque o cientista mandou (muitas vezes com linguagem pouco acessível), ou se segue porque o pastor evangélico disse pro fiel fazer isso depois de ter uma visão divina.

Imaginem o dano que causa, por outro lado, a autoridade religiosa que diz “quem tem fé nada deve temer, pois Deus protegerá”.

A pessoa passa a achar que não precisa de máscara, basta ser temente a Deus. Imaginem o dano causado pelo astrólogo que diz “este ano será mais auspicioso se você passar seu aniversário na cidade X”, estimulando viagem em plena pandemia.

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Os metafísicos não estão sozinhos nessa. Não falta médico receitando medicação inútil e sobrecarregando o fígado dos pacientes. Mais de um médico já veio a público falar de paciente (dos outros) que precisou se submeter a transplante de fígado após encher o corpo de ivermectina sei lá quantas vezes ao dia.

Ter autoridade, científica ou não, é uma grande responsabilidade. E eu acho, sim, que quem orienta, aconselha, deve ser corresponsabilizado pelos danos causados por um conselho mal dado, seja a pessoa um médico, um pastor, uma mãe de santo.

Agora esqueçam a metafísica. Lembrem que parte considerável da população leva a sério o que diz o presidente da República. Goste você disso ou não, é a verdade.

Ontem, em uma live, o presidente falou contra o uso de máscaras. Referiu-se a um estudo alemão (não citou qual, não sabemos nem se existe) que fala disso: que o uso de máscaras faz mal.

Ele mesmo não usa máscara e estimula aglomeração reiteradamente.

A avó de uma amigo meu tem quase 90, pode ser vacinada, mas se recusa. Mulher simples, acostumada a entender autoridade política como atestado de sabedoria. Ela não quer se vacinar. Não quer usar máscara.

Ela está agora cogitando se vacinar porque a mãe de Bolsonaro se vacinou. Essa avó de meu amigo não é um caso isolado. Ela representa um percentual altíssimo da população.

Eu não sei se Bolsonaro acredita mesmo nas merdas que diz, ou se é de propósito pra que o povo morra. Eu fico a pensar nos cenários “homem do povo”, em que ele toma café da manhã em uma mesa simplória.

Fico a pensar sobre como depois ficou claro que aquilo era um cenário previamente estudado e recomendado.

Quer ele acredite nas coisas que bosteja, quer ele diga tudo isso para estimular a doença e a morte, o resultado é o mesmo, é esse que vemos todos os dias. 1500 mortos de um dia pro outro. A morte pelo coronavírus foi banalizada.

Máscaras cada vez mais usadas no queixo, aglomerações sem nenhum pudor, vacina existente porém escassa, e nossa vergonha exposta a céu aberto.

Em um momento como esse, pra combater a autoridade máxima da República e seu desfile de ignorâncias, o pastor evangélico que disser que Deus mandou usar máscara terá em mim, ateu, o mais dedicado aliado.

Conheça alguns livros de Alexey Dodsworth

Seria melhor se estivéssemos sós

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Fim do século XX. Um astrofísico brasileiro descobre que uma pálida estrela da Constelação do Escorpião é uma gêmea perfeita de nosso Sol.

Segunda década do século XXI. Vários adolescentes brasileiros entram em surto psicótico ao mesmo tempo, durante uma explosão solar.

Como podem eventos tão distintos ameaçar um mesmo segredo? De que forma esses fatos podem afetar uma vila no coração da selva?

A Vila Muhipu, resguardada por índios da etnia Tukano, é um paraíso onde o sofrimento não passa de lembrança.

Uma utopia que deve ser mantida escondida a todo custo, e o doutor Ravi Chandrasekhar não poupará esforços nesse sentido.

Em Dezoito de Escorpião, romance vencedor do Prêmio Argos 2015, Alexey Dodsworth (de O Esplendor) se apropria de fatos científicos reais e os recria, compondo uma trama que se debruça sobre a mais intrigante questão: estamos sós no Universo? Descubra por sua conta e risco. COMPRE AQUI

A luz esconde. A escuridão revela

Aphriké é o nome de um planeta fadado à luz interminável.

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Um planeta considerado o único do universo, e habitado por uma raça telepática que desconhece o sono, o sonho e a privacidade.

Convictos da eternidade de seu mundo, os aphrikeianos não desconfiam que tudo foi criado por R’av, um ser com poderes cósmicos e obcecado pela ideia de perfeição.

Aprisionados a uma maldição alardeada por bárbaros liderados pela feroz Lah-Ura, os aphrikeianos nem desconfiam que seu paraíso está prestes a ser arruinado. Até que nasce uma aberração: um menino capaz de dormir.

Uma pessoa capaz de, através dos sonhos, entrar em contato com Outromundo, um planeta como Aphriké, mas iluminado por um único sol amarelo.

Quando a luz oculta a verdade, só um mergulho aos sonhos pode iluminar o mundo que nunca se apaga. COMPRE AQUI

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