Como curar um fanático

 Como curar um fanático

Essa inclinação a mudar as outras pessoas pode facilmente se deteriorar e se transformar em fanatismo ou intolerância

Por Amós Oz
Escritor israelense

Imagem de Roland Steinmann por Pixabay

Não é difícil encontrar um fanático, pois acredito que há um gene do fanatismo em cada um de nós. Não necessariamente um fanático político, nem sempre um fanático religioso.

Muitas vezes, o fanatismo começa em casa. Começa com a nossa inclinação a mudar as outras pessoas para o seu próprio bem.

Nós pensamos que será melhor para elas mudarem os seus hábitos ou mudarem os seus costumes, ou ideias, ou estilo de vida.

Essa inclinação a mudar as outras pessoas pode facilmente se deteriorar e se transformar em fanatismo ou intolerância.

“Você tem que ser como eu, eu te amo e quero mudar você”.

Isso se torna perigoso quando nos leva a pressionar as pessoas que não querem mudar à nossa maneira, e às vezes até matamos os outros porque eles não querem mudar.

A questão de como curar um fanático é complicada. Não é como se eu tivesse um tipo de injeção com a qual posso curar um fanático, mas acredito que o senso de humor é um grande remédio.

Nunca vi um fanático com senso de humor. Nunca vi uma pessoa com senso de humor se tornar um fanático, a não ser quando ele ou ela perdeu seu senso de humor. Sobretudo humor autodepreciativo.

Se você tem um tipo de humor que lhe permite rir de si mesmo, você é imune ao fanatismo.

Se ao menos eu pudesse comprimir o senso de humor para colocá-lo em cápsulas e persuadir muitas pessoas a tomarem minhas cápsulas de humor para que se tornassem imunes ao fanatismo… Eu seria indicado ao Prêmio Nobel de medicina, não de literatura.

Mas isso é perigoso, por que, o que eu estou dizendo? Estou dizendo que quero mudar as pessoas para o seu próprio bem, que quero fazer com que outras pessoas – estranhos – tomem minhas cápsulas de humor para mudá-las. Isso já é em si muito semelhante ao fanatismo.

É uma doença muito contagiosa. Quando você trabalha com ela ou a analisa em laboratório na busca de um antídoto, corre o risco de contraí-la.

 

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O romancista Amós Oz cresceu na Jerusalém dividida pela guerra, testemunhando em primeira mão as consequências perniciosas do fanatismo.

Oz argumenta que o conflito entre Israel e Palestina não é uma guerra entre religiões, culturas ou mesmo tradições, mas, acima de tudo, uma disputa por território – e ela não será resolvida com maior compreensão, apenas com um doloroso compromisso.

Não se trata, argumenta Oz, de uma luta maniqueísta entre certo e errado, mas de uma tragédia no sentido mais antigo e preciso do termo: uma batalha entre o certo e o certo.

Sem temer a polêmica, o livro apresenta argumentos precisos favoráveis a uma solução que acomoda dois estados nacionais diferentes e também realiza um diagnóstico sutil sobre a natureza do fanatismo, calcada na predominância dos sentimentos sobre a reflexão.

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