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Maio Cinza: mudanças de comportamento e eventos intensos e persistentes de convulsão e cefaleia são alertas de câncer no cérebro
Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indicam que os tumores cerebrais são responsáveis por 4% de todos os casos de câncer no Brasil, o que representa 11 mil pacientes diagnosticados com tumores do Sistema Nervoso Central (SNC). Devido à alta taxa de mortalidade, o objetivo da campanha é orientar para a obtenção do diagnóstico precoce a partir da atenção aos sinais de alerta
Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) mostram que a taxa de mortalidade é de 84% para o câncer cerebral, que ocupa o 10º lugar entre os tipos mais comuns da doença no Brasil, excluindo os cânceres de pele não melanoma. O desconhecimento sobre como identificar os sinais de alerta dos tumores cerebrais e a gravidade da doença são fatores preocupantes e que levaram à campanha Maio Cinza, uma iniciativa voltada para a conscientização dos tumores cerebrais, com foco na obtenção do diagnóstico precoce.
Com o poder de impactar seriamente a qualidade de vida do portador desse tipo de câncer, os sintomas que podem levar à suspeita da presença de um tumor cerebral são bastante amplos e dependem da localização e da extensão da doença.
De acordo com Eduardo Weltman, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), professor doutor de Radioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador médico do Serviço de Radioterapia do Hospital Israelita Albert Einsten, os sintomas causados por esses tumores não são específicos, dificultando a confirmação das suspeitas. “Mas, quando aparecem alterações neurológicas sensitivas ou motoras, mudanças de comportamento, convulsões ou cefaleia intensa e persistente, deve-se pensar na hipótese do câncer cerebral em meio às muitas outras possibilidades”, explica Weltman.
O médico reforça que a maioria dos tumores cerebrais não tem um fator causal bem definido, não sendo preveníveis com intervenção médica. “Na minoria deles é possível identificar uma tendência genética familiar, como neurofibromatose ou a exposição a um fator carcinogênico, como nos casos de exposição desnecessária à radiação ou uma imunodeficiência, que vão aumentar o risco do aparecimento do tumor”, esclarece. Um ponto de alerta, na avaliação do especialista, é o aumento do risco de linfomas do sistema nervoso central em pacientes portadores de imunodeficiência secundária à infecção pelo vírus HIV.
Formação do câncer no cérebro
O membro da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) explica que os tumores cerebrais, como a grande maioria dos outros tumores, surgem em função da desregulação dos mecanismos que impedem uma célula de se dividir desordenadamente. “Os mecanismos de ocorrência desse fenômeno são múltiplos e podem ser secundários tanto à mutação e perda de função de genes que atuem inibindo a divisão celular, quanto pela ativação de genes que a estimulem. Fatores epigenéticos – que modificam a função dos genes sem fazer parte deles – também são cada vez mais frequentemente descritos”, expõe o médico. Weltman completa que, na infância, os tumores cerebrais mais incidentes são os gliomas de baixo grau, seguidos dos meduloblastomas. Já no adulto, a incidência de gliomas de alto grau é maior, seguida dos meningiomas.
Fatores que limitam o tratamento
Dentre as outras preocupações relacionadas à complexidade de um câncer cerebral, as características de alguns tumores, que se infiltram e comprometem estruturas nobres do cérebro não ressecáveis cirurgicamente sem causar sequelas graves e incapacitantes, trazem limitações para o sucesso do tratamento. Por conta disso, conforme o especialista da SBRT, a mortalidade é tão alta. “Embora alguns desses tumores respondam bem à radioterapia e à quimioterapia, esta resposta frequentemente não leva à cura dos pacientes. E uma vez não curados, a progressão desses tumores, comprimindo e infiltrando estruturas nobres, pode acabar sendo fatal”, explana Weltman.
O diagnóstico tardio, seja pela característica insidiosa de vários desses tumores, a localização deles em lugares com pouca repercussão neurológica, bem como as dificuldades do próprio sistema de saúde em diagnosticá-los precocemente, de acordo com o especialista, conduz a uma situação de incurabilidade desde a detecção deles.
Sintomas e impactos
O especialista ressalta que os sinais e sintomas dos tumores cerebrais variam de acordo com a sua localização e extensão, porém os mais comuns são a dor de cabeça intensa e persistente que pode não responder aos analgésicos comuns.
As convulsões em pacientes que nunca as tiveram, a falta de coordenação motora, bem como a perda de força ou sensibilidade nos diversos segmentos do corpo são comuns em pessoas com essas patologias, além dos vômitos, perda de apetite e apatia.
Segundo o médico, o diagnóstico se estabelece incialmente pelo exame clínico geral e neurológico, seguidos de exames de imagem (tomografia computadorizada ou ressonância magnética cerebrais). “Uma vez detectado o tumor cerebral, o processo diagnóstico se segue, na maioria das vezes, por biópsia do tumor, o que frequentemente se transforma em uma cirurgia, que já faz parte do tratamento. O exame do líquido encefalorraquidiano, com citologia oncótica e bioquímica podem ser úteis, servindo para avaliar a extensão da doença”, explica.
Após o estabelecimento do diagnóstico, a análise molecular também ajuda a melhorar a percepção médica do prognóstico e mostrar um caminho de qual tratamento seguir, sendo sempre de caráter multidisciplinar, discutindo cada caso individualmente para decisão sobre os protocolos.
Indicação de Radioterapia
De acordo com a SBRT, a grande maioria dos tumores cerebrais primários têm a cirurgia como primeira opção de tratamento. Nesses casos, diz Weltman, a radioterapia é realizada no contexto do pós-operatório, com o principal intuito de reduzir o agravamento da lesão. “Vários estudos mostram o benefício da radioterapia neste cenário, aumentando o tempo e a qualidade de vida do paciente, assim como o aumento do tempo em que a pessoa fica livre de uma recidiva do tumor”, elucida.
Entretanto, existem as lesões inoperáveis, conforme explica o médico, ou porque o paciente não tem condições de ser submetido a uma cirurgia ou nos casos em que a lesão está localizada em uma área vital do cérebro, que não pode ser operada. “São os casos dos gliomas de tronco, por exemplo. Nessas situações, a radioterapia é utilizada como a primeira opção de tratamento, podendo ser combinada com a quimioterapia”, enfatiza.
Quanto aos casos de metástases cerebrais, o especialista destaca que estão disponíveis técnicas efetivas para o tratamento destas, cujos índices de controle das lesões tratadas chegam a 85% e 90%. “Com isso, eu diria que o principal desafio é diagnosticar precocemente, para que a gente consiga essas taxas de controle e os pacientes chegarem aos centros que tenham essas técnicas disponíveis, que seriam a radiocirurgia ou radioterapia estereotáxica fracionada”, conclui.
Sobre a Sociedade Brasileira de Radioterapia
A Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), fundada em 1998, é uma associação civil, brasileira, associativa e científica de direito privado, sem fins lucrativos, que reúne e representa os médicos radio-oncologistas, legalmente registrados no Brasil. Mais informações: https://sbradioterapia.com.br/