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Onda de calor no Brasil: sua saúde física e mental está em risco
No heatstroke, a pessoa não sua na maioria dos casos e é uma situação grave em que a temperatura corporal fica acima de 40ºC por conta da exposição ao sol. Os sintomas são pele quente, avermelhada, seca, dores de cabeça, náuseas, vômitos, desmaios, confusão e, se a situação agravar, insuficiência renal
Por Jonathan Vicente, Faculdade de Medicina da USP (FMUSP)
e Otavio Ranzani, Faculdade de Medicina da USP (FMUSP)
A atual onda de calor no Brasil pode afetar a saúde humana de forma drástica. O alerta de calor sem precedentes foi dado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) na segunda (18/9), e a realidade preocupa e muito. Segundo o Inmet, o aviso meteorológico é do nível laranja, o que representa perigo, e é válido até 22 de setembro.
Esse tipo de comunicado ocorre quando as máximas de temperatura podem exceder em pelo menos cinco graus celsius a média histórica do período durante alguns dias consecutivos. A previsão ainda inclui uma provável piora da situação a partir de sexta-feira (22/9), com temperaturas máximas que “devem passar dos 40°C em áreas das regiões Centro-Oeste e Norte, além do interior de São Paulo”.
É uma das maiores ondas de calor já registradas no Brasil, sendo que julho de 2023 já foi o mais quente desde 1961. O sétimo mês deste ano também alarmou outras regiões do planeta, o que levou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, a dizer que passamos da era do aquecimento global para entrar na de “ebulição global”.
Os perigos do heatstroke
Diversos grupos da população estão especialmente em risco nesses dias de calor extremo, como idosos, crianças, trabalhadores expostos ao sol e pessoas que moram em locais socialmente vulnerabilizados. Além disso, se você, por exemplo, já teve insolação, saiba que este é um termo guarda-chuva que muitos profissionais e pessoas utilizam para diferentes condições físicas que podem surgir quando alguém toma muito sol e se expõe a dias muito quentes.
Uma delas é o heatstroke, que não tem muito bem uma tradução para o português. É diferente, por exemplo, da exaustão por calor e do estresse por calor, ambas também confundidas por profissionais como insolação.
No heatstroke, a pessoa não sua na maioria dos casos e é uma situação grave em que a temperatura corporal fica acima de 40ºC por conta da exposição ao sol. Os sintomas são pele quente, avermelhada, seca, dores de cabeça, náuseas, vômitos, desmaios, confusão e, se a situação agravar, insuficiência renal.
Na exaustão por calor, há suor excessivo, a pessoa pode sentir tontura, moleza, sensação de desmaio, pele pegajosa, cãibras musculares, náusea e vômito. Já o estresse por calor, ou estresse térmico, é aquela típica sensação de irritação ou cansaço devido às altas temperaturas, com possibilidade de tontura, dores de cabeça e desidratação.
Como o heatstroke é mais difícil de ser reconhecido e é o mais perigoso dentre as insolações, é importante que familiares e profissionais de saúde fiquem atentos aos sintomas para que possam auxiliar quem possa estar sofrendo os efeitos.
Durante um episódio desses, chamar um serviço de saúde emergencial é prioridade. A pessoa precisa ser colocada num local fresco, sem excesso de roupas, para receber tecidos úmidos em locais do corpo que costumam aquecer bastante, como as coxas e o pescoço.
Heatstroke, Insolação e confusão mental
Líquidos só devem ser administrados se a pessoa estiver consciente. O que ajuda mais é tentar abaixar a temperatura corporal com sprays de água gelada e ventiladores. A situação é tão séria que pode levar a óbito: no verão europeu de 2022, os heatstrokes ocasionaram cerca de 12 mil mortes.
Além desses diferentes tipos de insolação, a saúde mental também pode ser afetada. Já há indícios na literatura científica que mostram que as ondas de calor podem ser um gatilho para quadros de ansiedade e depressão, agravando potenciais casos de automutilação e suicídio. É possível, também, que as pessoas não consigam dormir direito. Se o corpo não descansa, diversos processos biológicos podem ser impactados, como a própria regulação do humor.
Outra situação específica relacionada à saúde mental é aquela em que as pessoas não se sentem mais conectadas e pertencentes ao lugar em que vivem, o que é conhecido como solastalgia. Por exemplo, populações que vivenciam chuvas torrenciais ou alagamentos intensificados pelas mudanças climáticas.
Doenças preexistentes agravam os perigos
Há também evidências de que ondas de calor aumentam as chances de hospitalização e morte por causas cardiovasculares e respiratórias. O perigo é maior para crianças e idosos, e um estudo recente no Brasil também identificou mulheres com um risco maior que homens. O efeito das ondas de calor é mais intenso no dia em que a temperatura sobe mais, porém ele também pode acontecer até aproximadamente uma semana após esse dia.
Pessoas que já têm doenças do coração ou doença pulmonar crônica, particularmente a bronquite crônica e o enfisema, também estão sob maior risco. Vale lembrar que, em momentos de ondas de calor, observa-se comumente o aumento na exposição à poluição do ar e de queimadas, o que, em conjunto, piora ainda mais o efeito dos dias muito quentes. Pela possível desidratação, que também afeta o sistema de defesa do pulmão, há maior risco de infecções respiratórias.
No Brasil, os Agentes Comunitários de Saúde desempenham um papel de monitoramento e acompanhamento do estado de saúde de diversas famílias. São pessoas que têm registro e protocolam detalhes sobre as condições de vida dos moradores de uma determinada localidade.
Para fortalecer o Sistema Único de Saúde no agravo das mudanças climáticas, esses trabalhadores e tantos outros, como os da Estratégia de Saúde da Família na atenção básica, precisam ser treinados para reconhecer diferentes condições que podem se intensificar, como os heatstrokes, problemas cardiorrespiratórios e alterações comportamentais.
Jonathan Vicente, Biomédico, membro da The Global Climate and Health Alliance, mestre em saúde coletiva, Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e Otavio Ranzani, Epidemiologista e pesquisador no Instituto do Coração (InCor) e Instituto de Saúde Global de Barcelona, Faculdade de Medicina da USP (FMUSP)
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