58º Baile Municipal do Recife: festa bonita, mas com alguns poréns
Ter apenas mulheres como atrações principais, porém acompanhadas por homens, no fim das contas, enfraqueceu em certa medida a mensagem principal do 58º Baile Municipal do Recife, pois na prática víamos no palco mais homens do que mulheres
Por Thais Queiroz e Milca Franca
Especial para o InterD
O 58º Baile Municipal do Recife, que aconteceu na noite deste sábado (03) no Classic Hall, foi anunciado pela Prefeitura como sendo o primeiro da história a ter apenas vozes femininas. Um desfile de ritmos, agremiações e o mais importante: a mensagem que fica de valorização das mulheres que conquistaram gerações de amantes da música.
Logo na entrada fomos recebidas por alguns dos patrimônios vivos do Recife homenageados no baile: a Tribo de Caboclinhos Tupi, o Bloco Carnavalesco Misto Pierrot de São José e a incansável passista Zenaide Bezerra, 74 anos e com o Carnaval correndo nas veias desde os oito. “Dançava com meu pai, Egídio Bezerra, desde os 8 anos. Me emocionei hoje abrindo o baile, um evento especial que me lembra muito dele”. Se Zenaide brilha no Carnaval do Recife, no restante do ano ela se dedica a ensinar tudo o que sabe para jovens, de graça, em sua casa no bairro da Madalena. “Meus alunos se apresentam comigo aonde for”, conta.
Algumas impressões sobre o Baile
Decoração lindíssima, dentro do tema da festa e dos principais homenageados, Chico Science e Lia de Itamaracá. Elementos de mar e mangue em total sintonia, com tons de azul e desenhos orgânicos. Destaque para o mosaico no teto, que fazia as pessoas tirarem selfies de baixo pra cima – um ângulo não muito favorável, como sabemos, só para enquadrar o teto do Municipal na telinha do celular.
O fluxo dos shows foi muito bom, com uma cantora puxando a outra, com respeito e reverência, de uma forma bem costurada. Começamos a noite muito bem, com as musas do brega cantando os hits imortais do pernambucano, como Nega do Babado, com “Milk shake”, e Michelle Melo, com “Baby doll”.
Michelle Melo fez um discurso emocionante sobre o início do sonho dela, no bairro de Chão de Estrelas. “Eu tinha 14 anos quando disse pra minha família que no futuro todos iriam conhecer o meu nome. E hoje estou aqui!” Ela também reforçou o poder do gênero musical do qual ela é considerada a rainha: “O brega está aí para mostrar que a periferia sabe se divertir e produzir cultura!”
Lia de Itamaracá vestiu-se das cores de Iemanjá e com sua voz poderosa, acompanhada por suas companheiras de jornada, emocionou a plateia. “Eu sou Lia da beira do mar / Morena queimada do sal e do sol /Da Ilha de Itamaracá”.
Vanessa da Mata surgiu deslumbrante e em total sintonia com o Maestro Spok, cantou Rita Lee, Gal Costa e seus maiores sucessos. Também dividiu um dado preocupante – apenas 5% dos autores que recebem dividendos do ECAD são mulheres – ela faz parte dessa minoria. Charmosa, cantou “Bloco do prazer”, de Gal Costa, com uma cola – se perdeu um pouco na letra mas levou tudo com bom humor, e a plateia vibrou junto.
O dueto que não esperávamos e que entregou tudo: Vanessa da Mata e Iza cantaram juntinhas antes de Iza tomar o palco e desfiar sucessos como Talismã, Brisa e Pesadão, acompanhada pelo naipe de metais do Maestro Spok. Em alguns momentos ela pedia para a luz iluminar a plateia, e apontava as fantasias que mais gostava na multidão. Um poço de carisma!
A noite não poderia terminar sem ela, a rainha da música popular nordestina (sim, criamos esse termo agora), nossa lindíssima Elba Ramalho. Ela começou a apresentação com “Banho de Cheiro” e não parou mais – teve o show mais longo da noite. Até cantou forró – segundo ela, foi a primeira vez que ela cantou o gênero em um Baile Municipal. Lindíssima, mostrou também que não perdeu o frevo no pé e encantou todo mundo.
Estrutura
A estrutura do Baile Municipal foi ok, com banheiros limpos, acesso para pessoas PCD e intérpretes de libras em tempo real. As barraquinhas tinham comidinhas gostosas por preços justos (dentro do contexto de um show).
A nota negativa aqui fica por conta da segurança: as repórteres que vos falam foram agredidas por um casal de homens LGBTQIA + que tentou invadir a frente da plateia à força. Foram gritos e empurrões, a poucos metros da segurança, que nada fez. Ora, um baile que homenageia as mulheres não pode deixar mulheres desacompanhadas em situação de risco. O ideal seria termos equipes de segurança circulando por toda a festa, de prontidão, e não parados em um canto.
Impressões finais sobre o 58º Baile Municipal do Recife
Mesmo com a Prefeitura do Recife frisando que temos pela primeira vez um show com VOZES 100% femininas no Baile Municipal, essa iniciativa ganharia ainda mais força se também tivéssemos 100% de instrumentistas mulheres no palco. E não é por falta de opção – um exemplo é a Orquestra Só Mulheres, na ativa desde 2003, que poderia cumprir esse papel com maestria.
Ter apenas mulheres como atrações principais, porém acompanhadas por homens, no fim das contas, enfraqueceu em certa medida a mensagem principal do 58º Baile Municipal do Recife, pois na prática víamos no palco mais homens do que mulheres.
No mais uma festa linda, que apesar dos pequenos poréns, não perde o posto como a principal prévia do Carnaval Recifense. Que venham mais 58 anos!
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58º Baile Municipal do Recife – Programação
Abre Alas:
Patrimônios Vivos do Recife
Passista Zenaide Bezerra e o porta-estandarte Seu Zacarias, Tribo de Caboclinhos Tupi, Bloco Carnavalesco Misto Pierrot de São José, Grêmio Recreativo Cultural e Arte Gigante do Samba e mestre seu Teté (Maracatu Nação Almirante do Forte).
Desfile de Fantasias
DJ Alana Marques
Shows:
Orquestra Popular do Recife – Maestro Ademir Araújo (Formiga) recebe coral Edgar Moraes
Orquestra Popular da Bomba do Hemetério convida Nega do Babado e Michele Melo
Spok Frevo Orquestra
Lia de Itamaracá
Uana
Flaira Ferro
Joice Alane
Vanessa Da Mata
Iza
Elba Ramalho
Cristina Amaral
Nena Queiroga
Isadora Melo
Heloá
Gizelle Dias
Ylana
Gerlane Lops
Isaar
Larissa Lisboa
Gabi do Carmo
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