Karina Ártemis Afrodite é dançarina de tribal fusion, pesquisadora, escritora e fã de metal. Ela é autora do livro “Wicca no Brasil: magia, adesão e permanência”, resultado da conclusão do mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Karina participou do Interdependente (nome original do InterD) para falar sobre paganismo e neopaganismo. Na segunda parte da entrevista, que foi ao ar no dia 18 de novembro de 2017, na Universitária FM do Recife, ela expôs as principais características da wicca. Leia a primeira parte da entrevista (Orgulho de ser pagã). Abaixo, áudio completo e trechos da entrevista transcritos.
Eles são pares de opostos, porém complementares, que vão representar toda a diversidade na Terra. Mas quem são esses deuses? Eles são a própria natureza, o Sol, a Lua, a terra, as árvores, os animais, eu e você. E os vários povos da antiguidade representavam os deuses em geral com vários nomes. Então a gente vai chamar de Ísis, Astarte, Diana, Hécate, Deméter, Kali, Inanna, Hórus, Marduk, Dionísio, Krishna, Odin, Cernunnos, Apolo. Então vão ter vários nomes de acordo com os panteões, de acordo com as várias culturas.
No caso, são os rituais religiosos, celebrações dos ritos sazonais, das estações, dos equinócios e soltícios, que vão marcar a trajetória do Sol pelo céu. Ele nasce, fica no seu apogeu e depois declina. Assim como também marca a celebração do ciclo agrícola da terra. Nós apenas estamos vivos por conta desses ciclos: da semeadura, do semear, do plantio e da colheita. E aí a gente vai ver o deus como simbolicamente o Sol e semente, que vai ser plantada e depois colhida. Por isso que ele nasce e morre e por isso que ele é filho e consorte da deusa. Ele como semente é plantado no útero da deusa – que é a terra – e como sol é o que fertiliza a deusa. Então é filho e consorte.
Ouça “O que é a wicca? Com Karina Ártemis Afrodite #25” no Spreaker.
Você se inicia para fazer parte, apesar de que várias pessoas passam muitos anos dentro da religião e não se iniciam, ou só fazem uma dedicação. E tem muita discussão sobre iniciação porque há pessoas que concordam com a auto-iniciação. Neste caso seria você se mostrar aos deuses, e outras pessoas que consideram que você tem que ser iniciado por outra pessoa que já sabe do caminho, já tem experiência e vai então lhe ensinar e lhe inserir dentro de uma tradição.
Faça o que desejar sem mal nenhum causar. Esse conselho é você fazer o que quiser, ou seja, procurar qual é a sua real vontade. É um processo de autoconhecimento. Não é pra sair por aí fazendo o que quiser. É fazer o que quiser a partir do autoconhecimento. É ver realmente quem você é e o que realmente você quer. Se não prejudicar a ninguém, então voce tem que fazê-lo. É não se importar com regras sociais, por exemplo, que inibem o seu ser, quem você realmente é.
Se você fizer coisas boas, vão voltar coisas boas. Se você fizer coisas ruins, vão voltar coisas ruins. É a lei do Cosmos e da Natureza: o que a gente planta, a gente vai colher. E vai colher maior. Você planta uma semente, você vai colher o quê? Uma árvore. Você não vai colher sementes. Então, tudo que a gente planta a gente vai colher maior. E exatamente aquela que a gente plantou. E a gente também tem o respeito absoluto à vida.
Todas as formas de vida são respeitadas na wicca. Tudo possui igual importância. A única diferença é que as coisas estão meramente em níveis de evolução dentro dos quatro reinos. Os humanos não são mais importantes do que os animais, que não são mais importantes que as plantas assim por diante. Vida é vida. Não importa que forma física ela adote num determinado tempo.
Todos somos partes da mesma criação. E tudo se conecta. Aí é uma outra característica. que se acredita na Grande Teia Universal – que tudo está conectado. A grande teia é uma metáfora para a crença que tudo que existe está interligado. O que fazemos influencia o todo.
O renascimento pode ser compreendido na nossa própria vida, onde todo o fim conduz a um novo início. A primavera vem após o inverno, o dia depois da noite. A wicca compreende tudo como sendo cíclico. A morte em si não pode ser o final, é mais uma transformação para algo desconhecido, a gente não tem certeza. Aí vão ter variações: vão ter pessoas que vão acreditar que vc vai reencarnar novamente, tem pessoas que são mais panteístas, que acreditam que você se transforma em outras coisa, mas na própria natureza.
Consideramos a magia como o ato de provocar mudanças de acordo com nossa vontade. Então são poderes naturais, embora misteriosos, da nossa mente. Por isso que a wicca é uma religião de autoconhecimento. A partir dele a gente se entende, percebe o mundo a nossa volta, e compreende o poder de fazer as mudanças de acordo com a nossa vontade. E aí estando conectados a partir dos rituais, com a natureza… o que está ao nosso redor é o que nos faz vivos e nós próprios somos, conseguimos mais essa, digamos assim, conexão mágica, e fazer da nossa vida o que a gente realmente quer. Transformamos nossa vida no que nós desejamos, com intenção, ou não.
Todo wiccano tem que ser estudioso, e isso desenvolve a reflexão. Você não faz as coisas por aceitação, por dogmas, você faz por compreensão, por entendimento. Então esse é um ponto bem atrativo.
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