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Vovô Natalino distribui presentes e afeto em comunidades carentes de Goiana
Vovô Natalino foi criado pelo artista plástico Zé do Carmo, há mais de uma década, protagoniza ação social da Of Joseph Foundation, na quarta (28)
O gorro vermelho deu espaço ao chapéu de couro. As renas foram substituídas pela carroça e pelo jumento. Alpercatas, bolsa de couro, cachimbo e cajado. Este é o Papai Noel de Goiana, Pernambuco, cidade de mata norte do Estado, localizada a 62 km da capital. Batizado de Vovô Natalino, o bom velhinho abandonou os traços originais e se vestiu de tons nordestinos.
Todo ano, no dia 28 de dezembro, o personagem criado pelo artista plástico e patrimônio vivo de Pernambuco Zé do Carmo (falecido em 2019), pega a carroça com destino certo: comunidades carentes como São Lourenço, Balde do Rio, Impoeira e Carne de Vaca. Na bagagem, tem peão, bola de gude, mané-gostoso, reco-reco, ioiô, peteca. “A ideia é entregar brinquedos populares para valorizar a produção dos artesãos locais”, explica o historiador Sérgio Costa, o primeiro responsável a dar vida ao personagem.
Sérgio conheceu a obra de Zé do Carmo durante o período em que atuou como guia turístico na cidade. “Ao me aprofundar na história de Goiana, descobri a obra de Zé do Carmo e o auto de Natal que ele escreveu com figuras sertanejas, entre elas o Vovô Natalino. “Eu me divirto muito interpretando e sinto orgulho de interpretar o simpático velhinho” afirma Sérgio.
A ação social é uma iniciativa da Of Joseph Foundation e associados. “O Vovô Natalino retrata o esforço do homem nordestino. De quando as pessoas iam para longe para trabalhar, voltavam no final no ano e se comunicavam por cartas. Isso é o valioso da cultura brasileira e nordestina que deve ser mantido e valorizado”, explica o fundador da Of Joseph.
Em 2018, a visita do Vovô Natalino expandiu os limites de Goiana, e passou também a acontecer em Mimoso, distrito de Pesqueira, na região do agreste, localizada a 215 km do Recife. O designer de moda Jeferson Oliveira, foi um dos voluntários que deu vida ao personagem. “As pessoas estranham a roupa. Eu explico que sou primo do Papai Noel e que venho do sertão e eles entendem, aprovam e ainda aprendem sobre a obra de Zé do Carmo. Nas comunidades, a gente vê homens adultos brincando como criança novamente. Este é um dos impactos: adultos brincando como e com as crianças juntos. É uma oportunidade para lembrar as pessoas que o bem existe”.
Zé do Carmo- José do Carmo Souza nasceu no dia 19 de dezembro de 1933, em Goiana, Pernambuco. Começou a trabalhar com o barro em 1940, quando tinha apenas 7 anos de idade. Iniciou fazendo figurinhas de barro, as quais levava para vender na feira de Goiana junto com as que produziam seus pais, Joana Izabel de Assunção e Manuel de Souza, que também eram artesãos.
No início da carreira de artista, Zé do Carmo copiava o estilo da mãe, esculpindo figuras de santos, anjos, agricultores, mendigos, carregadores de açúcar, jornaleiros, tocadores de bandolim, apanhadores de papel, dentre outras. Com a morte de Dona Joana em 1972, Zé do Carmo inaugurou uma nova fase de sua obra que chamou de “transfiguração humana”. Seus anjos se transformaram em cangaceiros e, além das asas, passaram a carregar também espingarda, bornal e chapéu de couro.
Zé do Carmo passou a ser conhecido no circuito artístico a partir de 1947 e construiu um respeitado conjunto de esculturas de cerâmica que se destacam por vários aspectos, dentre eles a originalidade. Suas peças são apreciadas em vários estados brasileiros e também em outros países.
Em 1980, durante a visita ao Recife do então Papa João Paulo II, e a pedido de Dom Hélder Câmara, criou uma escultura para ser presenteada ao Papa. Mas Dom Hélder não aprovou a escultura de um anjo com cara de cangaceiro. A peça foi vetada e nunca chegou às mãos do Papa; hoje ela se encontra exposta no ateliê do artista em Goiana. Em 1982 Zé do Carmo criou o Papai Noel Brasileiro, conhecido por Vovô Natalino, para um auto de natal com as características da região.
Zé do Carmo morreu em 26 de abril de 2019, em decorrência de uma parada cardíaca, resultante de problemas pulmonares. No ano de 2002, o artista foi agraciado com o título de Patrimônio Vivo da Cultura de Pernambuco.
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