Você já viu um carcará, ave de rapina bastante conhecida no sertão brasileiro?

Carcará é uma das que vivem livremente no Parque Dois Irmãos

O carcará (Caracara plancus) ficou conhecido como um dos símbolos do sertão nordestino, mas a bem da verdade este animal é um dos versáteis do mundo. É que ele pode ser encontrado em diferentes regiões e climas, podendo viver em ambientes muito frios, como na Argentina, passando por territórios áridos, como o Nordeste brasileiro, chegando a ser encontrado também no cerrado, à beira-mar, em borda de matas e em centros urbanos.

Nas Américas, além da Argentina, ele é visto também no sul dos Estados Unidos. No Brasil, esta ave ocorre em quase todo território, tendo maior população no Sudeste e no Nordeste do país, incluindo no Parque Dois Irmãos, no Recife, onde o carcará pode ser encontrado em vida livre na Mata do equipamento. Com frequência, os visitantes do Parque podem vê-los sobrevoando as copas das árvores.

O técnico do Parque Dois Irmãos, Juvenal Filho, conta quais são as características do carcará e explica por que o animal é tão exaltado na literatura brasileira.

“O carcará é uma ave majestosa. Seu corpo é coberto por uma plumagem preta. Próximo ao pescoço, a cor branca se torna predominante, traço que o diferencia de outras espécies. Seu tamanho pode chegar a 56 cm e possui uma envergadura (comprimento de uma asa aberta a outra) de pouco mais de um metro, que lhe oferece excelente habilidade de voo”, explica o especialista.

O carcará também possui outra característica marcante: uma forte vocalização ao se comunicar, que aliás deu origem ao seu nome. Suas patas são longas, fortes e adaptadas para caminhar e correr nas pastagens e matagais. Possui uma visão aguçada e o bico em forma de gancho, o que faz dele um ótimo caçador.

Outra característica interessante dessa ave de rapina é seu comportamento social amigável (traço de animais que convivem bem em grupo). Faz parte de seus hábitos remover parasita da plumagem uns dos outros com o bico. Esse comportamento, chamado “Allopreening”, também pode ser compartilhado com espécies diferentes, como por exemplo, os urubus.

Em períodos reprodutivos, os casais de carcarás constroem o ninho juntos, utilizando galhos e ramos de plantas. Depois do nascimento dos filhotes, macho e fêmea compartilham os cuidados dos indivíduos, geralmente dois ou três por gestação.

Apesar de ser ótimo caçador, quando o assunto é alimentação, o animal não possui grande seletividade, consumindo animais vivos ou mortos. Quando livre na natureza, sua dieta é composta por pequenos mamíferos, répteis e até filhotes de outras aves. Já nos centros urbanos, ele também se alimenta de roedores e outros animais mortos, contribuindo para diminuição de doenças transmitidas por esses animais e limpeza do ambiente.

Como predador, o carcará exerce um papel importante na natureza, pois para essa espécie o ato de caçar auxilia no controle populacional dos indivíduos. No Parque estadual Dois Irmãos esses animais de vida livre contribuem na manutenção do ecossistema, como afirma Juvenal Filho, técnico do Parque.

“O carcará é uma ave de rapina que tem um papel importante no controle ecossistêmico do Parque. Ele ajuda a regular a população de outros animais ao caçá-los, o que garante um equilíbrio entre as espécies. A ausência dessa ave pode desarmonizar o ecossistema, pois os animais consumidores, geralmente herbívoros (que se alimentam de material vegetal, como folhagens), podem aumentar em número e ingerir recursos em excesso, prejudicando outras espécies que também dependem de tais recursos”, explica.

Hoje o carcará não encontra-se na lista de animais ameaçados de extinção, entretanto já existem leis para assegurar sua conservação. Esta ave é protegida pela Lei de Crimes Ambientais, n° 9.605/98, que proíbe matar, perseguir, caçar ou apanhá-lo sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, sob pena de detenção de seis meses a um ano, e multa.

Para preservar a espécie, também é importante cuidar de ambientes como o Parque Dois Irmãos, para assegurar que o ecossistema se mantenha saudável e estável ao longo do tempo, permitindo que o carcará e outras espécies consigam manter seu curso natural.

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