Categories: Artes

“Sertânica”, uma ficção científica cearense

Sertânica é a história da cidade que não existe. Ainda!

Primeiro romance do escritor cearense Marcos Maia, Sertânica é uma ficção científica distópica que se passa em terras e mares cearenses. Uma campanha de financiamento coletivo na plataforma Catarse entrou no ar em 1º de agosto com o objetivo de viabilizar a publicação da obra.

Marcos Maia tem outros três livros publicados: Do Escuro E Depois (contos, 2012), Estradas (poesia, 2014) e In Fine (contos, 2015).

Link para apoio do projeto:
https://www.catarse.me/sertanica-romance?ref=project_link

Orelha do Livro

Por João Paulo Peixoto Costa
Professor de história do IFPI

O mundo se esgotou por sua própria criação. A humanidade foi a causa do colapso, mas, curiosamente, era dela que seria gerada a esperança de um estado harmonioso de convivência entre os seres inteligentes – humanos e mutantes – e o próprio planeta. A concretude da paz utopicamente sonhada só poderia vir da realidade distópica para onde fatalmente – ou felizmente – caminhamos.

É a partir de Sertânica, cidade submarina sonhada e realizada por quem contempla o verde oceano das areias da devastada Fortaleza, que Marcos Maia nos convida a viajar por muitos tempos e espaços.

A confusão a que nos remete a leitura inicial é inevitável e inebriante, intrínseca aos dilemas da trajetória de vida do protagonista Nesdut, desde sua criação na povoação projetada, passando pelo engajamento militante, a luta contra movimentos fundamentalistas, o contato com pessoas em outros ambientes espaço-temporais e a relação com Jiscipi: eterna guia e alento.

O escritor Marcos Maia. Foto: Divulgação

Sertânica reúne múltiplas narrativas e contextos, que com o andar da leitura se pode concatenar o que se passa em tantas situações. Às vezes ficção científica, outras vezes diário biográfico, espasmos autoanalíticos, relatos de um mundo em guerra, mas, fundamentalmente, a projeção concretizável da paz. Marcos Maia, em suas próprias pirações, nos provoca a imaginar que tanto o colapso quanto a regeneração são inevitavelmente frutos da mesma humanidade.

É instigante o esforço de organizar todos os diferentes enredos e percebê-los entrelaçados. Os presentes de Sertânica, assim como o nosso, são repletos de passados. Buscá-los, reconstruí-los, fazê-los falar, como faz Nesdut, é o inescapável caminho para a compreensão de nossas individualidades e de nossos mundos, entes que não se separam.

Mas esse contato com os tempos que não mais existem – mas que, nos seus vestígios e efeitos, ainda latejam aqui – não possibilita e nem pretende voltar materialmente a eles. A saga de que tratamos é nos momentos vividos que luta incansavelmente por um devir igualitário, sincero e livre.

Tempos diferentes e estilos de escrita que mudam a cada momento fazendo parecer vários livros num mesmo. Sertânica é uma história instigante e emocionante que aguça a imaginação, a vontade de ver o que tem depois, o vislumbre das possibilidades de futuro, a esperança nesta infeliz, injusta e desumana humanidade.

A obra de Marcos Maia propõe, pelas muitas formas e ritmos, o que o mundo pode ser, mas que só poderá assim chegar com a consciência do que foi, do que é e como a isso chegou, do que precisa para o que será.

Sem tempo nem espaço para apatia, desânimo ou acuamento, Sertânica também é manifesto para encararmos de frente o mundo aqui fora, o ofegante planeta Terra e a atual conjuntura de reerguimento do ódio, da violência, da ditadura e da insanidade. Das suicidades metropolitanas aos feiticeiros do sertão, organizemo-nos e que nunca toleremos a intolerância.

    AD Luna

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