Usina de Chernobyl: “é preciso ficar vigilante”, alerta físico brasileiro

 Usina de Chernobyl: “é preciso ficar vigilante”, alerta físico brasileiro

Reservista soviético durante as atividades de descontaminação. Crédito: IAEA Imagebank

 

Para Marcelo Schappo, quanto mais movimento ocorrer no entorno da usina de Chernobyl, maior é a possibilidade de se jogar novamente para a atmosfera o material radioativo que está depositado sobre as coisas

 

Por AD Luna

No dia 26 de abril de 1986, ocorreu o mais grave acidente nuclear da história. Na madrugada daquela data, o reator 4 da Usina de Energia Vladimir Ilich Ulianov, mais conhecida Chernobyl, em Pripiat, Ucrânia, explodiu e lançou material radioativo na atmosfera. Na época tanto esse país quanto a Rússia faziam parte da União Soviética.

Hoje, devido ao conflito entre as duas nações, a comunidade científica está em alerta com a situação da usina, já desativada há décadas.

De acordo com Marcelo Schappo, professor e doutor em física pela Universidade Federal de Santa Catarina, é preciso entender que o que aconteceu em Chernobyl não foi uma detonação nuclear.

O reator 4 explodiu por conta do enorme aumento de pressão interna ao qual foi submetido. “Eles estavam fazendo um teste de segurança, na noite do acidente e perderam o controle da reação em cadeia”, explica.

Comparação com bombas de Hiroshima e Nagasaki

No fim da Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram duas bombas nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki. Apesar do efeito devastador e mortal do ataque, que causou a morte imediata e posterior de dezenas de milhares de pessoas, as duas cidades japonesas puderam ser habitadas alguns anos depois.

Isso ainda não acontece em Pripiat e em outras localidades próximas à usina de Chernobyl. E por quê? “Embora não tenha sido uma explosão nuclear, a detonação do núcleo do reator espalhou toneladas de materiais radioativos. Eles se depositaram em rios, florestas, casas, ruas e na própria atmosfera”, explica.

No caso de Hiroshima e Nagasaki, as bombas que explodiram comportavam uma quantidade muito menor desses componentes. Em Chernobyl, ainda que haja muita gente trabalhando lá e até turismo, com acessos controlados, não há previsão para que a área possa ser um dia repovoada.

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Após o desastre, quatro quilômetros quadrados de floresta de pinheiros, diretamente na direção do reator, ficaram marrom-avermelhados e morreram, ganhando o nome de “Floresta Vermelha”, embora as plantas tenham logo se recuperado. Foto: Diana Markosian/VOA News

Preocupação no contexto da guerra

O reator de Chernobyl que explodiu está coberto com uma estrutura de proteção de concreto, recentemente renovada. Isso evita que o material radioativo seja exposto, vaze, e continue a contaminar o ambiente.

Mas, por conta dos conflitos que ocorrem na Ucrânia, a comunidade científica mostra-se preocupada com a possibilidade de que algo venha a acontecer com a usina.

“A primeira preocupação é de eventualmente, uma bomba ou míssil atingir a redoma que protege o núcleo do reator. E causar um novo espalhamento catastrófico de material radioativo, atingindo, inclusive, os países vizinhos”, expõe Schappo.

O professor complementa dizendo que a segunda preocupação se refere ao trânsito de tropas e veículos militares no entorno.

“Quanto mais movimento ocorrer ali, maior é a possibilidade de se jogar novamente para a atmosfera o material radioativo que está depositado sobre as coisas. É preciso ficar vigilante e evitar a movimentação lá no entorno de Chernobyl”.

Rafael Mariano Grossi, diplomata argentino e especialista em questões nucleares, reforça a preocupação. Em entrevista à BBC News Brasil, ele afirmou que “existe risco claro de acidente nuclear” na Ucrânia.

Grossi presidiu em 2020 a Conferência do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) e é diretor-geral da agência da ONU desde 2019.

Ouça a entrevista de Marcelo Schappo ao programa InterD – música e conhecimento

Ouça “As preocupações com a usina nuclear de Chernobyl, com Marcelo Schappo #20” no Spreaker.

 

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