Instituto da Cultura Científica homenageia William Saad Hossne, um dos fundadores da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, posteriormente incorporada à Universidade Estadual Paulista (Unesp)
A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) acaba de criar o seu Instituto da Cultura Científica (ICC), unidade multidisciplinar vinculada diretamente à Reitoria, destinada a ampliar, diversificar, qualificar e potencializar a atuação institucional voltada à promoção da cultura científica.
A proposta, construída em diálogo com a comunidade universitária desde a campanha que elegeu a atual equipe gestora da Instituição, opta pelo conceito de cultura científica.
Tal conceito, além das atividades de divulgação científica e comunicação pública da Ciência, também envolve as dimensões de formação (ensino) em diferentes níveis e da própria produção de conhecimento (pesquisa) como necessariamente complementares na consolidação de uma cultura ao mesmo tempo de valorização e de postura crítica em relação ao conhecimento e à prática científica.
Na resolução que cria o ICC, aprovada pelo Conselho Universitário (ConsUni) por unanimidade em reunião no dia 27 de agosto, a compreensão de cultura científica é descrita como “configuração em que a Ciência, seus métodos, linguagens e processo, integram a experiência cotidiana de todas as pessoas, familiarizadas com os elementos mínimos necessários à apreciação, à apreensão, à fruição e à crítica de instituições, processos, resultados, conhecimentos e políticas de Ciência e Tecnologia”.
À luz dessa compreensão, está prevista a atuação do Instituto em seis linhas: produção própria voltada à comunicação pública da Ciência; articulação entre iniciativas de promoção da cultura científica da UFSCar; formação/capacitação para a cultura científica; eventos voltados à promoção da cultura científica; e produção, sistematização e compartilhamento de conhecimentos nas áreas temáticas de abrangência do Instituto.
O detalhamento dessas linhas está nas competências também registradas na resolução e na proposta que a embasou, disponível na página da Secretaria de Órgãos Colegiados.
Na apresentação ao ConsUni, o Reitor eleito e não empossado da UFSCar, Adilson Jesus Aparecido de Oliveira, um dos idealizadores da proposta original, destacou a complementaridade de atuação entre o ICC e o Instituto de Estudos Avançados e Estratégicos (IEAE), que também deve se consolidar nos próximos anos.
“Pensamos o IEAE como este espaço de desenvolvimento de estudos avançados e estratégicos, ou seja, de uma Ciência ‘fora da caixinha’, e o ICC, atuando de forma integrada, como o lugar de aproximação e integração de esforços voltados ao diálogo desse conhecimento com a sociedade também de forma inovadora”, exprimiu.
“Assim, não se trata de uma unidade administrativa dedicada à Comunicação Social, por exemplo, que já temos na Universidade, ou de mais uma instância burocrática. É um lugar também para produção de conhecimento sobre a própria prática de promoção da cultura científica e – e este é um aspecto que considero essencial – para a inclusão dessa temática, da valorização da Ciência e da importância de disseminar o conhecimento, na formação de todos os nossos estudantes, de profissionais e pesquisadores”, complementou.
Oliveira, junto com a jornalista Mariana Rodrigues Pezzo, que também trabalhou na construção da proposta e agora foi nomeada primeira Diretora do ICC, é criador do Laboratório Aberto de Interatividade para a Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico da UFSCar (LAbI), atuante desde 2006 na promoção da cultura científica.
A Reitora da UFSCar, Ana Beatriz de Oliveira, registrou como o projeto carrega toda essa experiência, mas também segue sendo construído em diálogo com toda a comunidade e, especialmente, com pessoas e grupos que já vem atuando na área.
“Sabemos que o LAbI tem já uma história bastante importante no cenário nacional em comunicação científica, e agora caminhamos para colocar a UFSCar em posição de destaque. Seguimos construindo e aprimorando coletivamente a proposta”, expressou a Reitora.
O processo de amadurecimento da proposta do Instituto, inclusive, já contou com reunião aberta para a qual esses grupos foram chamados, além de apresentações a todos os conselhos de centros acadêmicos da Instituição.
O mapeamento dessas iniciativas segue, agora, sendo uma prioridade na implantação do Instituto, para que possam ser inclusive conhecidas suas principais demandas e diferentes potenciais, uma vez que tanto o apoio institucional a essas ações, quanto a ação coordenada visando ampliação de alcance e abrangência, integram a missão do ICC.
Na reunião do ConsUni que aprovou a criação do Instituto, vários conselheiros qualificaram o momento como histórico, especialmente no contexto de ataques à Ciência evidenciado pela pandemia.
Vanderlei Salvador Bagnato, docente do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de São Paulo (USP), representante da comunidade externa no ConsUni, parabenizou a UFSCar.
Ele, que além do reconhecimento como pesquisador também tem atuação conhecida na promoção da cultura científica, reafirmou a contribuição que o ICC poderá dar e disse que “não estaria exagerando em dizer que este é um passo extremamente marcante da UFSCar”.
“Esta é a vantagem de construirmos propostas coletivas. Elas ficam, a despeito das mudanças que acontecem e que fogem do nosso controle. Junto com a minha nomeação como Reitora vieram uma responsabilidade e uma carga de trabalho inimagináveis, mas são momentos como este que me mostram que vale muito a pena seguir resistindo e representando tudo que foi construído pela comunidade universitária, durante a campanha e durante este processo de gestão”, finalizou a Reitora.
No dia 10 de setembro, o Conselho de Administração (CoAd) aprovou a estrutura administrativa do ICC, que, além da Direção, deverá ter uma Coordenadoria Acadêmica e uma Coordenadoria de Comunicação Pública da Ciência.
Além disso, o documento que instala essa estrutura registra que a atuação do Instituto deverá se dar por meio de projetos próprios e em parceria com outros grupos a serem vinculados de modo matricial à estrutura permanente da unidade.
Neste momento inicial, além de Pezzo, a equipe do Instituto conta com a jornalista Adriana Arruda e o técnico em Audiovisual Maurício Xavier.
O ConsUni aprovou a composição de um conselho pro-tempore, formado pela Direção do ICC, representantes indicados pelas quatro pró-reitorias acadêmicas e, também, pela Direção da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS). O conselho deverá, no período de seis meses, elaborar o regimento do Instituto.
As reuniões em que a proposta foi discutida e aprovada estão gravadas e disponíveis no canal UFSCar Oficial no YouTube (ConsUni e CoAd).
Os princípios que a embasam também estão apresentados em artigo publicado por Oliveira, Pezzo e pelo Coordenador de Conteúdo do LAbI, Tárcio Minto Fabrício, em edição do Boletim CTS em Foco (a partir da página 59).
O contato com a equipe do Instituto pode ser feito pelo e-mail culturacientifica@ufscar.br.
O nome completo do ICC é Instituto da Cultura Científica William Saad Hossne, em homenagem ao ex-Reitor da UFSCar. Hossne foi Reitor da Universidade entre 1979 e 1983 e, depois, seguiu acompanhando a trajetória da UFSCar como integrante de seu Conselho de Curadores por 22 anos, parte deles como Presidente (de 1996 a 2001 e de 2010 até seu falecimento, em maio de 2016).
A homenagem a Saad se dá tanto pelo simbolismo de sua figura na história de construção das práticas democráticas que caracterizam a Universidade, quanto pelo seu compromisso com a interdisciplinaridade e, sobretudo, com a qualidade tanto no momento da produção, quanto na destinação social do conhecimento científico, princípios também da atuação do novo Instituto.
Médico, Saad Hossne foi um dos fundadores, em 1962, da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, posteriormente incorporada à Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Foi também um dos fundadores da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), tendo sido Diretor Científico da Fundação de 1964 a 1967 e de 1975 a 1979, além de Vice-Presidente do Conselho Superior de 1985 a 1989.
Conhecido como “Pai da Bioética no Brasil”, fundou a Sociedade Brasileira de Bioética e foi seu primeiro Presidente, de 1995 a 1998, tendo sido também Coordenador da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (de 1996 a 2007) e, até o seu falecimento, Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Bioética do Centro Universitário São Camilo.
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