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Teoria da Evolução: “O Homem não veio do macaco”, explica Bruno Menezes, do Instituto Federal de Santa Catarina
Evolução é tema do programa InterD, que convidou o professor e pesquisador Bruno Menezes para tratar do tema. Ele é um dos autores do livro “Armadilhas camufladas de Ciência”
O que é a Teoria da Evolução, quais seus principais fundamentos e evidências? O homem veio do macaco? O que é uma teoria científica? Esses foram temas tratados na edição do dia 21 de setembro do programa InterD, veiculado pela Universitária FM do Recife. Para tratar do tema, convidamos o professor e pesquisador Bruno Menezes. Ele é um dos autores do o livro “Armadilhas Camufladas de Ciência: mitos e pseudociências em nossas vidas”, organizado pelo físico Marcelo Schappo.
A obra reúne especialistas de diferentes áreas que abordam diversas questões presentes no cotidiano, como por exemplo: Dietas detox eliminam toxinas? Homeopatia é eficaz? Astrologia é Ciência? Somos visitados por alienígenas? Nossa espécie foi divinamente projetada? Existe conflito entre Ciência e Religião?
No programa, Bruno pediu pra gente tocar as músicas “Do the evolution”, do Pearl Jam, e “A ordem natural das coisas”, de Emicida.
No “lado B”, o musical, o InterD apresenta sons de Recreio, Muntchako, Tartamudo, Otari, Funk You, Bel Aurora, João Gordo, Reginaldo Rossi e Querosene Jacaré
Apresentação: AD Luna, jornalista e baterista das bandas Sargaço Nightclub, Dom Lodo e Novelistas
Edição e trabalhos técnicos: Pedro Santos e Estúdio Bacamarte
Ouça a íntegra da entrevista no player abaixo e a transcrição na sequência. O player com o programa na íntegra, incluindo as músicas está no fim da entrevista.
Listen to “O que é a Teoria da Evolução, com Bruno Menezes – #32” on Spreaker.
INTERD: Primeiramente, fale um pouco sobre sua formação.
BRUNO MENEZES: Bom, a minha formação é em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina. Eu também sou mestre e doutor pela mesma universidade, mas aí na área de Engenharia Ambiental, que é a minha área de pesquisa.
Fiz um período de doutoramento sanduíche na Universidade Técnica da Dinamarca também. Mas a minha área principal de pesquisa é voltada para questões de gestão ambiental e análise de impacto ambiental de produtos.
Eu também sou professor do Instituto Federal de Santa Catarina, aqui no câmpus Gaspar, que é onde eu tenho oportunidade de trabalhar com disciplinas de Biologia Básica para Ensino Médio, Bioquímica, Microbiologia e algumas outras áreas aí mais voltadas para o ensino e para a ciência e divulgação científica. E é onde eu tenho oportunidade de ter essa troca e discutir principalmente sobre esses temas relacionados com a evolução.
Antes de tudo, o que é uma teoria científica? Vemos por aí muita gente alegando que “a teoria da evolução é só uma teoria”, como se se tratasse de uma hipótese ou mesmo uma opinião.
Essa questão de chamar a Teoria da Evolução… de minimizá-la por se tratar apenas de uma teoria é, de fato, uma questão bastante comum e que acontece muito pela maneira como a gente usa a palavra “teoria” no nosso dia a dia.
A gente usa a palavra “teoria” mais no sentido de “hipótese” e, do ponto de vista científico, isso não é verdade.
Quando a gente fala numa teoria científica, ela é embasada em evidências, então ela tem um amplo arcabouço de evidências que a favorecem e que a tornam uma verdade científica.
Ela não é uma verdade absoluta, ela é passível de, diante de novas evidências, ter modificações e alterações, mas ela é, sim, um fato científico, certo?
Uma diferença, também… muita gente entende que lei científica tem mais valor do que a teoria científica. Também não é verdade, elas têm o mesmo valor.
Só que as leis têm amparo em fundamentação matemática, então ela tem essa base matemática que a corrobora, o que não significa que a teoria seja menos evidente ou que seja menos forte.
Quais as principais características da teoria da evolução?
Bom, tentando explicar de uma forma simplificada para que a gente consiga ter essa noção básica, assim.
Os princípios da Teoria da Evolução – ou Teoria Sintética da Evolução –, que é a mais aceita atualmente, é o chamado “neodarwinismo”, tem como base inicialmente aquilo que foi proposto pelos Charles Darwin, que é o processo de Seleção Natural.
Ou seja, uma determinada característica que surge e, se ela tornar o indivíduo mais bem adaptado ao meio ambiente, ao ambiente onde ele está – e “estar mais bem adaptado” entenda-se: ter mais sucesso reprodutivo e deixar mais descendentes –, a tendência é que essa característica seja mais transmitida aos descendentes do que as outras, até que pode chegar um ponto em que outras características podem eventualmente ser eliminadas.
E o acúmulo dessas modificações que vão sendo selecionadas pode, inclusive, acabar resultando no surgimento de espécies diferentes, num processo mais avançado, que a gente chamaria de “especiação”, que seria uma continuação de um processo evolutivo acumulado.
E a origem dessas modificações – e é aí que o Darwin é complementado posteriormente – a gente sabe hoje que são as mutações, as alterações no código genético é que dão a origem para essas variações, essas pequenas mudanças que acontecem. E essas variações são ao acaso.
Não é o ambiente que vai favorecer a ocorrência da mutação; o que ele vai fazer é selecionar entre as mutações aquelas que tornaram os indivíduos mais bem adaptados ao ambiente.
Quais as principais evidências na qual ela é fundamentada?
Quanto às evidências da evolução, elas são inúmeras. Então, há diferentes formas de avaliar o processo evolutivo como ele aconteceu, embora não seja um processo simples porque ele depende do fator tempo e a nossa vida é muito curta para a gente conseguir observar processos evolutivos em larga escala.
Embora a gente tenha experimentos com microorganismos, bactérias, até algumas espécies com algumas gerações, onde a gente consegue perceber algum mínimo processo evolutivo acontecendo.
Mas as evidências são enormes, e elas vão desde avaliação dos registros fósseis, de identificar o que se chama de “anatomia comparada”.
Então a gente tem estruturas de origens embrionárias comuns que executam funções diferentes, mas que, do ponto de vista estrutural, são muito semelhantes, como, por exemplo, a nadadeira de uma baleia, o braço humano, a asa de um morcego.
A gente tem processos bioquímicos, então, as reações metabólicas que, comparativamente, a gente consegue ver o processo de evolução acontecendo, comparando espécies ancestrais com espécies modernas.
E, mais modernamente, a gente tem, também, a “genética comparada”; então, a análise da estrutura do DNA e do código genético nos permite traçar essa árvore da vida, ou daquelas espécies que eram mais ancestrais e que chegaram aí nos indivíduos modernos.
Evolução é progresso?
Eu acho que esse é um outro exemplo de uma palavra que a gente usa no dia a dia com um contexto e, no ponto de vista científico, ele tem outro. Normalmente, a gente pode pensar em “evolução” do ponto de vista do nosso dia a dia como uma “melhora”, e, no caso da evolução dos seres vivos, a gente tem que pensar, na prática, em “mudança”.
Porque o que vai dizer se aquela mudança torna um indivíduo mais bem adaptado ou não é o ambiente onde ele está. Uma mesma mudança, um mesmo processo evolutivo pode ser vantajoso em um determinado ambiente e desvantajoso no outro.
Então – e aí esse direcionamento é gerado pelo ambiente –, a gente tem que pensar mais em evolução no sentido de “alteração”, de “mudança”. E aí, frente ao ambiente, essa mudança vai tornar o indivíduo mais bem sucedido ou não.
Um questionamento que sempre vemos por aí afora: se o homem veio do macaco, por que ainda existem macacos?
Essa questão talvez seja a que eu mais tenha respondido em toda a minha carreira de professor e, de fato, a gente vê que é um assunto que ainda gera muito esse questionamento.
Tem muitas figuras que dão a impressão, que dão essa ideia de evolução no sentido da mudança do macaco para o homem, e, na prática, não faz sentido porque, quando a gente pensa naquele desenho clássico dos hominídeos que vão evoluindo, aquele primeiro, que está lá no lado esquerdo, não é um macaco.
É um primata ancestral, do qual nós somos descendentes, os seres humanos, e os macacos modernos também.
Então, o homem não veio do macaco. Na prática, homens e macacos de diferentes espécies, chimpanzé, gorilas, orangotangos, enfim, todos eles, descendem de um ancestral primata em comum, que não é humano e nem macaco moderno, é um outro ser que já não existe mais.
Além desse, há alguma outra alegação que você considere tão equivocada quanto essa?
Bom, tem uma questão ali que é a questão central que eu trato no livro, que trata sobre a ideia, uma hipótese de um “design inteligente”, que é uma maneira de inserir um pensamento criacionista no ensino e no entendimento da evolução.
A ideia de que “ok, evolução até acontece, porém, ela é mediada, ela é controlada pela figura de um designer”, que seria o criador, um indivíduo que vai, de certa maneira, controlando os processos evolutivos. Isso, do ponto de vista científico, não tem amparo, nem tem embasamento nenhum.
É até uma alegação que não é simples de se fazer e de se ter um experimento demonstrativo sobre isso. Mas o fato é que a gente tem muitas evidências do contrário, de que essa evolução não é direcionada, que é uma evolução que acontece, como a gente mencionou antes, por acaso.
A questão das novas características, como elas surgem, isso é totalmente ao acaso, e, inclusive, a gente tem questões de órgãos vestigiais e estruturas que são desperdiçadas, coisas que fazem caminhos que não fazem sentido, ou estruturas que nós, por exemplo, perdemos ou nós temos, mas não tem uma função muito específica.
Então, esses assuntos, para mim é importante a gente pensar nisso, também; a evolução se explica com base nas suas evidências. A gente não precisa recorrer a essa figura desse designer, desse controlador do processo evolutivo.
Então, isso é uma questão que a gente precisa ficar atento porque, de certa maneira, não deixa de ser um jeito de tentar colocar uma figura de criação dentro do ensino de Ciências, que não é o lugar para isso.
Embora a gente entenda e saiba que são questões diferentes, isso está mais em como as pessoas dão sentido para as suas vidas. E, no caso, a Teoria da Evolução, no contexto da ciência, explica simplesmente como as coisas acontecem, ela vai descrever.
O porquê é uma questão individual de cada um e não cabe a gente tentar inserir isso no ponto de vista do ensino da ciência.
OUÇA O PROGRAMA NA ÍNTEGRA, INCLUINDO AS MÚSICAS
“Armadilhas camufladas de Ciência: mitos e pseudociências em nossas vidas” – leia e ouça entrevista com o organizador, Marcelo Schappo
Neste livro, especialistas de diferentes áreas uniram esforços para combater mitos e pseudociências presentes no nosso dia a dia. O que é Ciência? Dietas detox eliminam toxinas? Podemos aprender dormindo? Radiação é perigosa? A Física Quântica é o caminho do sucesso? Homeopatia é eficaz? Como sabemos que a Terra é redonda? Fomos mesmo à Lua? A Lua influencia no parto? Astrologia é Ciência? Somos visitados por alienígenas? Nossa espécie foi divinamente projetada? Existe conflito entre Ciência e Religião? Junte-se a nós nesta aventura pelo conhecimento!
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