Sexteto GraVIs traz novo fôlego ao canto coral

 Sexteto GraVIs traz novo fôlego ao canto coral

Sexteto GraVIs. Foto: Will Souza

 

 

Grupo de cantores líricos realiza minitemporada em espaços culturais do Recife com quatro apresentações até dezembro, incentivadas pelo SIC, da Prefeitura do Recife. A estreia do Sexteto GraVIs é dia 18 de novembro, no Conservatório Pernambucano de Música

 

Trilhar um caminho diferente de outros grupos vocais líricos, incentivando o novo na música, é o que mais interessa ao Sexteto GraVIs, conjunto de artistas pernambucanos que faz sua estreia em curta temporada de quatro apresentações gratuitas, entre os meses de novembro e dezembro, em espaços públicos do Recife. A ideia é valorizar o repertório local a cada concerto-aula, através das seis vozes masculinas, que mostram do frevo e maracatu a músicas sacras, sem acompanhamento instrumental (a cappella). A primeira apresentação será no dia 18 de novembro, no Conservatório Pernambucano de Música.

No repertório de oito músicas pinçadas do acervo de Henrique Albino, Dierson Torres e Lúcia Helena Cysneiros, além de Capiba e Clóvis Pereira, quatro composições são inéditas. O projeto foi aprovado pelo SIC – Sistema de Incentivo à Cultura / Fundação de Cultura Cidade do Recife / Secretaria de Cultura / Prefeitura da Cidade do Recife.

Eudes Naziazeno, Guilherme Jacobsen, Isaac Pedro, Marcelo Cabral de Mello, Osvaldo Pacheco e Rodrigo Lins, os integrantes do Sexteto GraVIs uniram seus talentos vocais como tenores e barítonos, naipes das vozes masculinas de um coral, ao lado criativo do diretor musical, maestro, arranjador e ensaiador Henrique Albino, que ajuda na condução das performances, além de ter criado duas das músicas do setlist e assinado seis dos oito arranjos mostrados em cena, com exceção das músicas de Lúcia e Dierson, que trazem arranjos originais dos próprios autores.

O formato das apresentações é semelhante ao de um concerto-aula, no qual os integrantes começam com uma introdução didática de 10 a 15 minutos, explicando quais estilos musicais farão parte do show. “A formação não é tão comum, então temos estes dois caminhos: fomentar obras e arrojá-las. É um concerto não-usual. Com o objetivo de formar plateias, fugindo da obviedade, aproximando o público da linguagem, para informar e fazer com que mais pessoas possam apreciar a música vocal”, afirma Eudes Naziazeno, que idealizou o projeto com Albino. Ele destaca também a questão social, pois, além de serem gratuitas, as performances ocorrem para o público em locais como o COMPAZ Miguel Arraes (na Avenida Caxangá).

Apesar de estar inserido no universo erudito, o GraVIs traz forte sotaque da cultura nordestina, pernambucana. Depois de se conhecerem no Departamento de Música na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os artistas se reuniram e gravaram as primeiras músicas antes da pandemia, em 2019. Alguns integrantes já fizeram parte de outros grupos corais, regidos por Flávio Medeiros, a exemplo do Contracantos e Opus 2. “A formação de coral masculino é comum em outras culturas. Aqui é algo mais raro. Temos a influência dos aboios, com predominância maior dos homens cantando”, pontua Guilherme Jacobsen, que assina a coordenação pedagógica do Sexteto.

Para ele, a recepção da plateia ao trabalho do GraVIs costuma ser positiva. “Há um sentimento expresso de descoberta. Estamos em busca de dar um acesso gratuito e democrático à cultura”, observa.

FAIXA A FAIXA

O “Kyrie”, da “Grande Missa Armorial”, de Capiba, foi escolhido para fazer parte do show, assim como o “Glória”, de Clóvis Pereira, pela inserção dos sons, ritmos e melodias com forte ligação com o Movimento Armorial. Henrique Albino fez um grande esforço nos arranjos para trazer toda esta música só para a voz, levando a ela as nuances dos instrumentos. São usadas palmas com o corpo, assovios, outros elementos e sonoridades que não estão na música original. No Glória, o solista é Marcelo Cabral de Mello, que puxa a composição, mas mantém o coro assumindo gestos sonoros incorporados à interpretação.

Já “Maria”, faixa criada por Lúcia Helena Cysneiros, foi imaginada a partir de um poema de um livro escrito pelo pai da autora. Mostra uma criatura de alma ardente, enfrentando a frieza do mundo. A partir da música, chega aos ouvintes o momento de encanto que tal cena proporciona. A louca travessia de Maria é mostrada, a partir da perspectiva do poeta. A música tenta expressar simplicidade e uma energia surpreendente de vida.

A apresentação segue com a romântica “Amor de mi alma”, do norte-americano Zane Randall Stroope. É o momento da apresentação em que o grupo mostra algo de fora do Brasil, mas usando o arranjo de um compositor local, com experimentações em cima do original. Até pela sua origem, tem questões harmônicas e desenhos melódicos que permitem aproveitar a formação de sexteto para manter fraseados importantes. As diferentes modulações, tonalidades de vozes a cada repetição, fazem com que a parte do meio da música ecoe como um mantra, a exemplo de um órgão tendo o som de suas teclas apertadas reproduzido continuamente.

Em seguida, vem “Não quero saber, não (uma brincadeira bachiana)”, de Dierson Torres, experimentando diversas vozes. Segundo Guilherme, é uma clara referência a Johann Sebastian Bach, suprassumo do contraponto musical, usando a linguagem contrapontística, brincando com a passagem de uma voz para outra, como na fuga (forma musical).

No “Stabat Mater” criado por Henrique Albino há desde uma polirritmia que remete à música medieval e aos impressionistas como Debussy, no século 19, até uma citação a Pergolesi, do período barroco. A sobreposição de tensões e dissonâncias, no trecho final, faz com que a música volte a ter um efeito mais sutil. No repertório sacro, o Stabat Mater fala da via-crúcis, descrevendo o sofrimento de Maria, a dor de ver o filho pendente na cruz.

No maracatu, também de autoria de Albino, ele brinca com a repetição insistente das vozes (ostinato), e inverte as sílabas da palavra, que se transforma em “Tumaracá”. Por fim, o show se encerra com a junção de dois frevos conhecidos do nosso Carnaval – o “Hino da Troça Ceroula” e “Cabelo de Fogo”, esta última do Maestro Nunes, desconstruídos através dos arranjos e vozes.

Serviço:

18/11, 19h, na Semana da Música do Conservatório Pernambucano de Música (Av. João de Barros, Boa Vista)

*23/11 – Semana da Música da Escola de Artes João Pernambuco (Várzea) – a confirmar

30/11, 19h, no COMPAZ Miguel Arraes (Av. Caxangá, 653, Madalena)

11/12, 16h – no Paço do Frevo (Praça do Arsenal, Bairro do Recife)

Todas as apresentações são gratuitas.

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