Galvão perdeu o cargo mas se destacou, a partir daí, como uma das principais lideranças da comunidade científica brasileira no enfrentamento do negacionismo e do obscurantismo. Nas eleições de 2022, ele concorreu a uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo partido Rede Sustentabilidade. Não foi eleito, mas recebeu uma votação expressiva, de mais de 40 mil votos.
Expectativas
Glaucius Oliva, professor do Instituto de Física de São Carlos da USP e ex-presidente do CNPq, elogiou a nomeação de Galvão para o comando da agência. “O professor Galvão combina as qualidades de pesquisador de excelência com longa carreira científica, gestor de instituições de ciência e tecnologia, e ferrenho defensor da ciência, como evidenciado pelo seu firme posicionamento diante das perseguições e ataques do ex-presidente da República contra fatos irrefutáveis sobre o desmatamento da Amazonia”, disse Oliva ao Jornal da USP. “A comunidade científica tem, portanto, grandes expectativas de que ele lidere a retomada do protagonismo do CNPq no fomento à pesquisa brasileira e à formação de pesquisadores, essenciais para a prosperidade sustentável e socialmente justa do nosso país.”
Na cerimônia desta terça-feira, Ricardo Galvão recapitulou um discurso que fizera em um evento da USP em agosto de 2019, duas semanas após ser exonerado da direção do Inpe. Na ocasião, disse que o Brasil não “voltaria às trevas”, porque a sociedade e a comunidade científica não se calariam diante dos ataques à ciência e às universidades.
“Prezada ministra, de fato, o povo brasileiro não se calou”, disse, com a voz embargada pela emoção e coberta pelos aplausos da plateia no auditório do CNPq. “Há pouco mais de um mês derrotamos a truculência negacionista em nosso país”, concluiu, referindo-se ao resultado da eleição presidencial. “No dia de hoje viramos essa página triste de nossa história com a convicção de que a ciência voltará a promover grandes avanços para a nossa sociedade.”
Galvão participou da equipe de transição de governo e disse que ficou chocado com a situação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), comandado até recentemente pelo astronauta (e agora senador) Marcos Pontes. “Além do orçamento e perda de pessoal, houve um grande desmonte da estrutura operacional do ministério, instaurando um sistema quase militar de comando e controle, avesso à autonomia científica e acadêmica, que terá que ser revertido”, disse ao Jornal da USP.