G20 é responsável por 80% dos gases de efeito estufa do mundo, e países seguem promovendo incentivos a combustíveis fósseis
Quando o assunto é mudança climática e ambiente, a inércia nas respostas do G20 pode custar caro – cerca de 18% do PIB global em 2050. Representantes dos países que compõem o grupo se reúnem a partir de segunda (18), no Rio, para o encontro de cúpula do G20. O prejuízo envolve áreas como saúde, reconstruções, adaptações, perdas de lavoura e de rebanhos e déficit no turismo. Além de prejuízos econômicos, as consequências já são visíveis e afetam diretamente a vida das pessoas.
Ondas de calor desidratam e matam os mais vulneráveis, enquanto enchentes e outras catástrofes destroem lares e forçam milhares a deixar tudo para trás, como vimos no Rio Grande do Sul e em Valência, na Espanha. Queimadas devastam grandes áreas de mata nativa, poluem o ar e agravam problemas respiratórios, como testemunhamos recentemente nas queimadas pelo Brasil.
Para sugerir soluções concretas para a crise do clima, uma equipe de 12 especialistas de áreas como mudanças climáticas, economia, governança pública, sustentabilidade, política energética e finanças foi convidada a produzir um relatório independente para o G20.
Selecionamos quatro pontos para mostrar a urgência da ação climática e, segundo os especialistas, o que é possível fazer a respeito.
1. Subsídios a combustíveis fósseis: Em 2022 os subsídios aos combustíveis fósseis no G20 chegaram a US$ 1,4 trilhão. Esses incentivos financeiros facilitam a utilização de petróleo, carvão e gás, promovendo a continuidade de fontes de energia poluentes e responsáveis pelo aquecimento global. O ambicioso plano do relatório é eliminar incentivos e redirecionar esses recursos para projetos que reduzam o impacto ambiental e melhorem a qualidade de vida, como a expansão da energia solar e eólica.
2. Emissões de gases estufa na produção industrial: O G20 é responsável por cerca de 80% das emissões globais de gases de efeito estufa, com muitos setores ainda dependentes de processos que emitem altos níveis desses gases, contribuindo para o aquecimento global. Segundo o relatório, para buscarmos a descarbonização, é necessário redesenhar estratégias industriais especificamente com esse foco e investir em tecnologias limpas, em criação de empregos em setores sustentáveis, ampliando oportunidades para que mais segmentos da economia possam participar dessa transição.
3. Dificuldade de acesso a financiamentos para projetos: Países mais pobres enfrentam barreiras para obter recursos financeiros, limitando sua capacidade de investir em energia limpa e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. Entre 2020 e 2021, menos de 3% do financiamento climático global foi direcionado para países de baixa e média renda, e os recursos necessários à adaptação nesses países é mais do que 10 vezes o montante destinado a esse fim. Para os especialistas, é preciso fortalecer o financiamento verde e disponibilizar recursos para projetos de forma facilitada.
4. Desigualdade na governança climática: A falta de uma governança global justa impede que os países mais pobres se beneficiem igualmente dos progressos alcançados, perpetuando desigualdades na transição para uma economia verde. Esses países são forçados a alocar uma parcela crescente de seus limitados recursos para lidar com os impactos das mudanças climáticas, enfrentando crescentes restrições fiscais que limitam sua capacidade de crescer de forma sustentável. A proposta é promover uma governança global que facilite a troca de tecnologias e conhecimentos.
E quem paga por isso tudo? O primeiro passo, segundo o relatório, é eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis, estimados em US$ 7 trilhões. Bancos de desenvolvimento, como o BNDES, poderiam oferecer financiamentos vantajosos para projetos sinérgicos a um futuro mais verde e justo, ampliando sua atratividade ao capital privado.
Além disso, é crucial que haja concessão de empréstimos, redução ou conversão de dívidas e alívio de juros para tornar viáveis os investimentos dos países de baixa e média renda. Em prol da estabilidade global e considerando a interdependência econômica entre as nações, considera-se que os países mais ricos devem contribuir mais com o financiamento climático. Essa agenda pode ainda estimular negócios, criando condições para investimentos e inovação.
“A disparidade na alocação global de finanças verdes é gritante. Desde 2021, os países de alta renda e a China atraíram mais de 90% dos novos investimentos em energia limpa, enquanto os custos de empréstimos para países de baixa e média renda continuam a subir, apesar de serem os menos responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa”, afirmam em artigo na Project Syndicate Mariana Mazzucato, diretora do Instituto de Inovação e Propósito Público da University College London, e por Vera Songwe, fundadora e presidente do Liquidity and Sustainability Facility e conselheira sênior do Banco de Compensações Internacionais. Elas lideraram a produção do relatório independente encomendado pela presidência brasileira do G20.
Segundo elas, “implementar estratégias industriais verdes não deve ser uma tarefa apenas para os ministérios da indústria ou do clima. É necessário o engajamento de todo o governo e a reformulação de instituições e ferramentas-chave – especialmente em licitações e financiamentos públicos – para apoiar as metas das NDCs (contribuições nacionalmente determinadas).”
Para Arilson Favareto, diretor científico do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e professor titular da Cátedra Josué de Castro da USP e da UFABC, a mudança climática é um desafio que exige ação coordenada, especialmente dos países mais influentes do mundo. “O custo da inação é alto demais para ser ignorado, e as soluções, embora complexas, estão ao nosso alcance. Cabe ao G20, com o apoio de especialistas e instituições financeiras, liderar esse esforço e evitar que a crise se agrave ainda mais. Só assim poderemos transformar a ameaça em uma oportunidade de inovação, crescimento e justiça para todos”, afirma.
Fonte: Agência Bori
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