Otari: música, bits e antifascismo

 Otari: música, bits e antifascismo

A dupla OTARI, em versão pixelada

OTARI lançou o EP “8-bits Antifascista”, com as músicas “Kit gay”, “Mamadeira de piroca”, “Morenazi” e “Velho fascista”

Por AD Luna

Por motivos óbvios, durante este tempo de pandemia, os shows rarearam. Mas, por outro lado, a produção musical segue em alta com artistas mainstream e independentes lançando novos discos e singles. É o caso do duo OTARI.

Incomodado com a onda reacionária no Brasil e no mundo, seus negacionismos e fake news regados a preconceito, racismo, homofobia, fundamentalismo religioso e “patriotismo privatista”, o músico e produtor alagoano Dinho Zampier (Figueroas, Mopho) convidou seu parceiro de Coisa Linda Sound System, Marcelo Cabral (MC+20), que hoje vive em Montevidéu, no Uruguai. O projeto trabalha com sonoridade 8-bits de videogames clássicos e letras de conteúdo antifascista.

No início de setembro, a dupla lançou o EP “8-bits Antifascista”, gravado nos estúdios Piggy Sounds, em Montevidéu, Uruguai, e Bravo Estúdio, Espírito Santo, Brasil, com arte feita por Alexandre Kool.

Antes de soltar o EP nas plataformas digitais, o OTARI disparou o clipe e single da música “Velho Fascista”. Em seguida, a dupla lançou o disco junto com o clipe da contagiante e divertida canção “Kit Gay” – que alcançou mais de 10 mil visualizações em menos de 24h, no Instagram.

O EP “8-bits Antifascista” está disponível no Bandcamp, no canal de Youtube do OTARI, e em todas as plataformas de streaming. “A repercussão tem sido excelente! O mais gratificante mesmo é a reação positiva das pessoas com as ideias que norteiam nosso trabalho. É muito bom ver comentários como ‘essa é pra lavar a alma’ ou ‘essa música diz o que eu queria falar sobre isso’, esse tipo de coisa'”, comemora Marcelo.

Tendo em vista a proposta engajada do OTARI, essa identificação do público com o trabalho dos rapazes os têm deixado muito estimulados e inspirados.

“Hoje mesmo passamos o dia todo trabalhando em uma música nova que estamos compondo. Já gravamos outras coisas novas”, adiantou Cabral. “O papel da Laja Records no lançamento do EP também foi fundamental e agregou muita gente boa e talentosa ao nosso projeto”, reforça.

Marcelo Cabral comenta cada uma das músicas do EP “8-bits Antifascista”, do OTARI.

“Velho Fascista”

Foi o primeiro single/clipe que lançamos. É, também, a primeira música que compomos juntos pro OTARI. Ela meio que diz a que veio: curta e grossa. Nosso processo de criação é bem divertido, estamos em lugares diferentes, e apesar de ser o nosso quarto trabalho fonográfico, de outros projetos, no OTARI criamos tudo juntos do zero ao lançamento do EP.

Uma mensagem de voz por vez. Às vezes, o Dinho manda um mote, e eu apareço com uma letra sobre o assunto, daí ele corta metade da letra. Em “Velho Fascista” isso aconteceu. Ele me disse, “bicho, sabe aquele cara que é um racista canalha fascista e tal?” E eu apareci com a letra e algo da melodia. Daí ele criou a base e arranjos nervosos.

“Morenazi”

É sobre o cara que não é branco e defende/segue quem propaga ideias de supremacia branca, de ódio a negros, quilombolas e indígenas. É sobre algum sujeito trabalhador, que mora na periferia, tem um carro popular, vive se matando pra pagar conta, e defende interesse de gente milionária, exploradora e corrupta.

Sobre quem se diz patriota e não defende o SUS, a Petrobras, ou pior ainda, ataca nossas instituições democráticas. É sobre um sujeito bem equivocado, do mundo do contrário. O rapper Aliado Jota é co-autor em “Morenazi” e gravou a música conosco.

“Kit Gay”

É uma música sobre fake news, que surgiu de uma ideia e letra do Dinho e eu criei a segunda parte da letra. Tentamos desconstruir algumas das notórias fake news que assolaram o Brasil no período pré-eleitoral de 2018. Quem canta “Kit Gay” conosco no EP é a fantástica Roberta de Razão, vocalista do Arame e que tem um trabalho solo que ela define como rock psicolésbico brega.

“Mamadeira de piroca”

Não é sobre mamadeira, também é sobre fake news. Sobre vivermos em um mundo onde cada um acredita apenas no que confirma seu discurso ideológico, independente dos fatos e do que diz a ciência.

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