O neocatolicismo reencarnacionista brasiliano (a.k.a. “kardecismo”)

 O neocatolicismo reencarnacionista brasiliano (a.k.a. “kardecismo”)

O médium brasileiro Chico Xavier. Foto: Divulgação

 

Observando o que fazem com o Espiritismo, entendemos enfim como as belas lições de Cristo se transformaram, séculos depois, em guerras, poder e inquisição

Por Lázaro Freire

O “neocatolicismo reencarnacionista brasiliano” (a.k.a. “kardecismo”) foi uma linda PONTE entre o cristianismo beato em que já estivemos e o espiritualismo universalista que almejamos. Sem esse neoespiritismo jamais estaríamos aqui. Sou muito grato a ele.

O problema é que tem gente que, em vez de atravessar e prosseguir, prefere se apegar e morar debaixo da ponte. E ainda cobrar pedágio dogmático-consciencial dos novos que tentam passar. Aí o que era para ser uma revelação progressista se torna apenas mais uma forma de neocrente fundamentalista, trocando o paraíso por nosso lar, o inferno pelo umbral, o pecado pelo carma, a homilia pela preleção, a Bíblia pelo evangelho segundo o espiritismo, o papa medieval por Divaldominion e a comunhão pelo passe – mas mantendo o moralismo barato (só para a vida alheia), a arrogância discriminatória, o batizado e casamento dos filhos na igreja católica (!!!) e até visitando “os mortos” no cemitério no dia de finados.

Notem inclusive que não é mais o espiritismo francês original – lavaram o druida Allan Kardec na pia batismal da elite carioca de 1900 e temperaram com as beatas de Minas Gerais de 1950, mas acrescentaram vida após a morte e conceitos espirituais – mantendo o Pai Nosso e Ave Maria – para que até a minha avó pudesse frequentar a mesa “branca”.

Outro mérito, os médiuns oriundos da teosofia, ocultismo e umbanda aos poucos acrescentaram conceitos, fenômenos, técnicas que não havia em Kardec original. Um sincretismo tão brasileiro quanto a umbanda.

Melhor ser um bom católico sem culpas do que um “progressista ultrapassado” que inverte o fluxo e perverte o esforço dos que o precederam. Ai de vós, doutores da lei, que não entram no próprio céu que inventaram e condenam seus discípulos a infernos bem piores que os seus.

Observando o que fazem com o Espiritismo, entendemos enfim como as belas lições de Cristo se transformaram, séculos depois, em guerras, poder e inquisição.

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