Por AD Luna
O espiritismo é progressista ou conservador? O que ele fala sobre sexualidade, problemas sociais, política, racismo, entre outros temas? Para Raphael Faé, editor do Jornal Crítica Espírita, o pensamento e as atitudes do movimento espírita brasileiro não se coadunam com a essência libertária da doutrina codificada no século 19. Ele foi o entrevistado da edição #33, do Interdependente – música e conhecimento, que foi ao ar em março de 2018. Além da conversa, durante o programa foram tocadas músicas do Grupo Bem, Criolo, Lynyrd Skynyrd e Phillip Glass.
Em 2013, Faé e seu amigo de infância Felipe Sellin criaram o Grupo de Estudos Espíritas Universitário e se reuniam, quinzenalmente, na Universidade Federal do Espírito Santo.
“A gente tinha a necessidade de fazer um espiritismo que dialogasse com o mundo, de modo geral, com os temas da sociedade, com as correntes filosóficas, e científicas atuais. Algo que saísse do ‘espíritas falando para espíritas sobre o espiritismo'”, recorda Faé.
Com o intuito de levar ao público o que era debatido nos encontros, reuniram os artigos em um jornal e, em janeiro de 2015, a primeira edição do Crítica Espírita foi publicada. O conteúdo vem de colaboradores convidados ou voluntários e pode ser acessado no site https://jornalcriticaespirita.wordpress.com/ . A diversidade de opiniões e de visões são sempre bem-vindas no veículo, contanto que regras básicas de civilidade sejam respeitadas.
Sob o pseudônimo de Allan Kardec, o francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, discípulo do reformador educacional Pestalozzi, codificou a doutrina espírita. Influenciado pelo iluminismo, Kardec acolheu o progressismo como um dos pilares do espiritismo. Tanto no quesito moral quanto no intelectual. A visão progressista se pauta pela melhoria da condição e dos relacionamentos humanos, alicerçada por ações econômicas e com apoio da ciência e da tecnologia.
No Brasil, adeptos do espiritismo têm se pautado pelo conservadorismo, o qual se caracteriza pela manutenção de padrões e estruturas sociais, tradições e convenções. Como se explica tal paradoxo?
Para Raphael Faé, é preciso estabelecer a separação entre o espiritismo, enquanto filosofia e doutrina, do movimento espírita brasileiro – que, nas palavras dele, é em boa parte, extremamente conservador, quando não, reacionário mesmo.
“Ele [o movimento] flerta com a ditadura, gosta do pobre na pobreza, não quer ver transformações sociais efetivas”, critica.
Faé aponta o espiritismo brasileiro como fenômeno de classe média, que por sua vez acaba por projetar seus preconceitos, ódios, questões mal-resolvidas e medos numa releitura distorcida.
“Com isso, o espiritismo deixa então de ser uma proposta de transformação do mundo, de fim das estruturas injustas da nossa sociedade, para se tornar muitas vezes no justificador, no ratificador das misérias do mundo”, enfatiza.
Outro equívoco do movimento no Brasil, observado por Raphel Faé, diz respeito à crença de que espiritismo e política não dialogam. Utilizando o conceito de política como organização social, ele afirma que a doutrina é essencialmente política.
“O espiritismo tem a pretensão de nos dar o modelo do que seria uma sociedade boa, melhor, regenerada. E seu maior projeto político é a regeneração planetária, é a transformação do planeta de provas e expiações para um planeta de regeneração. Nesse sentido, espiritismo e política, na verdade, tem tudo a ver”, defende.
Ouça o programa na íntegra
De maneira geral, o espiritismo diz que os espíritos não possuem sexo. Eles podem reencarnar tanto em corpos femininos quanto em masculinos, o que lhes conferem experiências e aprendizados em busca de aperfeiçoamento moral e intelectual.
“Agora, com relação à vivência da sexualidade, a espiritualidade, na obra de Kardec, traz muito pouca informação, na verdade praticamente nada. Deixando então no plano dos comportamentos em geral. Essa vivência não deve prejudicar ao próximo, tem que ser justa, amorosa e fraterna, tem que ter conteúdo afetivo, tem que ser positiva para as pessoas envolvidas nela, trazer crescimento para as pessoas”, discorre Faé.
Autores espíritas, de acordo com Faé, têm veiculado posições calcadas mais em preconceitos pessoais do que em embasamento teórico e científico, chegando ao ponto de dizer que certas vivências sexuais deveriam ser evitadas, em especial às relacionadas à homossexualidade.
Neste caso, a pessoa homossexual deveria se guiar por uma espécie de castidade, que a levaria a evitar sofrimentos e ser mais feliz.
“Porém, não há nada que corrobore isso dentro do espiritismo”, diz. Em momento algum, segundo ele, obras basilares do espiritismo tratam do estabelecimento de comportamentos nas práticas sexuais. “Elas devem ser baseadas no respeito e no amor ao próximo. Ponto. Mais do que isso é opinião pessoal e invencionice das pessoas”.
O homem que escreveu mais de 400 livros, vendeu mais de 30 milhões de exemplares e doou toda a renda dos direitos autorais a instituições beneficentes, movido por uma convicção desconcertante: “”Os livros não me pertencem. Eu não escrevi nada. Eles – os espíritos – escreveram””. Aos que diziam que, mais cedo ou mais tarde, ele cairia – desmascarado como fraude -, Chico afirmava: “Não vou cair porque nunca me levantei”. Morreu na cama estreita de seu quarto simples em Uberaba. Perseguido, atacado, humilhado e idolatrado, Chico continua um enigma. Santo para milhões de brasileiros, mistério para outros tantos, um mito cada vez mais influente e fascinante.” CLIQUE AQUI PARA COMPRAR
1. O Livro dos Espíritos: Princípios da Doutrina Espírita (1857)
2. O Livro dos Médiuns: Guia dos Médiuns e Evocadores (1861)
3. O Evangelho segundo o Espiritismo (1864)
4. O Céu e o Inferno: A Justiça Divina Segundo o Espiritismo (1865)
5. A Gênese: Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (1868)
6. Obra Póstuma (1890)
7. O que é o Espiritismo (1859)
8. O Espiritismo no sua mais simples expressão (1862)
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