Negacionismo científico nos extremos políticos (com Sally R. Gomes e Felipe C. Novaes)

 Negacionismo científico nos extremos políticos (com Sally R. Gomes e Felipe C. Novaes)

 

Como podemos combater o negacionismo científico nos extremos políticos?

Por Universo Generalista

O que o negacionismo científico tem a ver com posicionamento político? Qual a influência da nossa personalidade na nossa visão da realidade? Não é de hoje que o posicionamento político, tanto da direita quanto da esquerda, negam ou negligenciam fatos científicos que vão de encontro com seu viés e sua ideologia. Para explicar esse fenômeno trouxemos dois convidados especialistas no assunto, os psicólogos Felipe Carvalho Novaes e Sally Ramos Gomes.

Nesse episódio, abordamos sobre as evidências que apontam para o negacionismo científico de acordo com o viés político, a influência da rede social neste fenômeno, como a ciência também está sendo influenciada por posicionamentos políticos ideológicos, tudo isso e muito mais.

Sally é Psicóloga, graduada na Universidade Sorbonne, com mestrados em Psicologia Social na Universidade Paris Dez e em Sociologia e Filosofia Política na Universidade Paris Sete. Tem interesse em estudos aprofundados em psicologia social.

Felipe é Graduado em Psicologia pela UFRJ, Mestre e Doutorando em Psicologia Social pela PUC-Rio. Tem interesse em Psicologia Social sob a ótica da Psicologia Evolucionista, especialmente no estudo da interação entre Biologia e Cultura.

Como vocês descreveriam a relação entre psicologia e política?

Sally: Meu interesse por política cresceu com a maturidade, especialmente depois dos 30 anos. Sempre gostei de filosofia e psicologia, mas quando era mais nova, não me interessava tanto. Morei muitos anos na França, onde as pessoas são mais politizadas. A psicologia e a política estão interligadas, pois estudar política exige uma compreensão dos mecanismos psicológicos e sociais que influenciam o comportamento humano.

Felipe: Eu sempre tive um olhar histórico sobre a política. Meu interesse por psicologia política surgiu quando percebi que não conseguimos entender movimentos de negacionismo científico sem considerar o viés político. O que motiva as pessoas a escolher um lado na política está atrelado a questões emocionais e psicológicas.

 

O que são os extremos na política?

Felipe: Os extremos na política referem-se a posições que defendem mudanças radicais ou a manutenção do status quo. No contexto atual, a direita tende a buscar a preservação do que já existe, enquanto a esquerda busca mudanças mais profundas. Essa dinâmica influencia a forma como as pessoas se posicionam em relação a questões científicas.

Sally: Muitas vezes, as orientações ideológicas se baseiam em elementos psíquicos que se repetem em ambos os lados. O apego à própria ideologia e a desvalorização do outro lado são comuns. Esse fenômeno é impulsionado por mecanismos emocionais que buscam justificar crenças pré-existentes.

Qual o impacto das redes sociais nas posições políticas?

Sally: As redes sociais permitem que grupos com opiniões semelhantes se encontrem com facilidade. Isso gera uma amplificação de ideias, incluindo aquelas que negam a ciência. Antes, essas opiniões poderiam ser expressas em pequenos grupos, mas agora elas ganham visibilidade e força nas redes.

Felipe: Concordo. As redes sociais criam um ambiente onde teorias da conspiração e negacionismos podem prosperar. As pessoas se cercam de informações que reforçam suas crenças, criando bolhas informativas que dificultam a aceitação de evidências científicas.

Impacto das redes sociais
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As pessoas escolhem suas posições políticas ou as posições políticas escolhem as pessoas?

Felipe: Essa é uma questão complexa. O livre-arbítrio é limitado por fatores como a família onde a pessoa nasceu, a classe social e as oportunidades disponíveis. As crenças políticas muitas vezes são moldadas por esses fatores, mas também há uma escolha consciente que ocorre ao longo da vida.

Sally: Exatamente. As pessoas podem se sentir atraídas por determinadas ideologias com base em suas experiências e valores pessoais. No entanto, a intuição e as emoções desempenham um papel significativo na formação dessas escolhas políticas.

Como podemos combater o negacionismo científico nos extremos políticos?

Sally: A educação é fundamental. Precisamos ensinar as pessoas não apenas sobre ciência, mas também sobre como a ciência funciona. Isso inclui a compreensão do método científico e a importância de avaliar evidências de forma crítica.

Felipe: Além disso, é importante promover a humildade intelectual. As pessoas precisam estar dispostas a ouvir opiniões contrárias e a reconhecer que podem estar erradas. Isso pode ser facilitado por ambientes que incentivem o diálogo e a troca de ideias.

Quais indicações vocês têm para quem deseja entender melhor esses temas?

Sally: Recomendo o livro “O Mundo Assombrado pelos Demônios”, de Carl Sagan, que aborda a importância do pensamento crítico. Outro livro interessante é “Rápido e Devagar”, de Daniel Kahneman, que discute como tomamos decisões e as armadilhas cognitivas que enfrentamos.

Felipe: Também indico “Por que as Pessoas Acreditam em Coisas Estranhas”, de Michael Shermer, que explora a psicologia por trás das crenças e do negacionismo. O vídeo “The Overview Effect” no YouTube é uma ótima maneira de refletir sobre a nossa conexão com o mundo e como nossas ações impactam o coletivo.

Juntos, Sally e Felipe nos oferecem uma visão abrangente sobre a interseção entre psicologia, política e ciência, destacando a importância da educação e do diálogo na luta contra o negacionismo. No final, somos todos parte de um mesmo barco e nossas ações têm consequências.

Assista à entrevista na íntegra.

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