Pesquisadores criam acervo de evidências sobre “Necrossistema na Pandemia de Covid-19 no Brasil”

Bolsonaro segura uma caixa de cloroquina do lado de fora do Palácio da Alvorada. Foto: REUTERS/Adriano Machado
A pandemia de covid-19 marcou a história recente do Brasil de maneira trágica, com mais de 700 mil mortes registradas. No centro deste episódio, a desinformação, a negligência e o negacionismo desempenharam um papel crucial na gestão da crise sanitária. Para documentar e analisar essas condutas, a pesquisa “Necrossistema na pandemia de covid-19 no Brasil: acervo de evidências e mapa multimídia” foi desenvolvida pelo Centro SoU_Ciência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com a Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (AVICO Brasil), o Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da Universidade de São Paulo (CEPEDISA/USP) e os grupos de mídia independentes Medo e Delírio em Brasília e Camarote da República.
Objetivos da Pesquisa
O projeto busca descrever e interpretar como agentes e instituições atuaram durante a pandemia de covid-19, desconsiderando evidências científicas, ignorando princípios éticos da medicina e comprometendo a gestão eficaz da política pública. A consequência dessa dinâmica foi a pior catástrofe sanitária da história do Brasil.
Entre as principais metas do estudo estão:
- Coletar, organizar e indexar documentos, textos, vídeos e áudios de manifestações públicas de agentes e instituições negacionistas.
- Disponibilizar um acervo digital de acesso livre e gratuito, armazenado na Unifesp.
- Produzir materiais de divulgação científica sobre discursos e agentes envolvidos na desinformação.
- Colaborar com instituições para produção de materiais educativos, revisão curricular e memorais digitais.
- Contribuir com processos judiciais e iniciativas de memória e justiça sobre os acontecimentos da pandemia.
O acervo também busca fomentar campanhas pró-vacina e em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e da ciência, além de fornecer subsídios para pesquisas acadêmicas e históricas futuras.
Questões Fundamentais
Para entender as dinâmicas do negacionismo durante a pandemia, o projeto levanta questões essenciais:
- As condutas negacionistas foram aleatórias ou coordenadas?
- Se houve coordenação, como se estabeleceram as relações entre agentes, instituições e narrativas?
- Quais os interesses políticos e econômicos envolvidos?
- Como as responsabilidades éticas e científicas foram comprometidas?
- Como apresentar essas evidências de forma acessível para que sirvam de base para políticas públicas eficazes?
O estudo também se dedica à identificação dos envolvidos, seus interesses e financiadores, investigando os impactos financeiros e institucionais dessa rede de desinformação.
Metodologia
A pesquisa combina abordagens qualitativas e quantitativas, incluindo revisões bibliográficas, entrevistas em profundidade com especialistas e levantamento de documentos. O processo de coleta e curadoria envolve:
- Registro de discursos e condutas negacionistas, incluindo falas, manifestações e documentos que evidenciam omissão e charlatanismo.
- Indexação de denúncias contra agentes políticos e instituições.
- Organização do material por dois principais critérios:
- Por agentes institucionais: identifica autores e entidades envolvidas.
- Por temas: classifica as narrativas e condutas negacionistas em 17 categorias.
Os documentos estão armazenados em formato integral para pesquisadores e em trechos selecionados para campanhas de conscientização.
Importância e Impacto
O apagamento de evidências é uma prática recorrente entre os responsáveis por disseminar desinformação durante a pandemia. O acervo também resgata documentos arquivados por internautas e coletivos de mídia, garantindo que não se percam informações cruciais para a compreensão do período.
Além disso, a pesquisa inclui o módulo “O que diz a ciência”, que contrapõe fake news com evidências científicas, servindo como referência para profissionais de saúde, gestores e educadores.
O projeto “Necrossistema na pandemia de covid-19 no Brasil” é, portanto, uma iniciativa essencial para documentar os erros cometidos, evitar a repetição de tais condutas e contribuir para um futuro onde a ciência e a saúde pública prevaleçam sobre a desinformação e a negligência.
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