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Eder O Rocha fala sobre seus muitos projetos e os primórdios do Mestre Ambrósio
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Eder O Rocha. Foto: Don Salvatore
Foi no estúdio de Eder O Rocha, localizado na casa dele, no bairro do IPSEP, no Recife, onde a Mestre Ambrósio ensaiou durante quatro anos, de segunda a sexta, das 19h às 22h, entre 1992 e 1996
Por AD Luna
O percussionista e compositor Eder O Rocha, conhecido por sua atuação na banda pernambucana Mestre Ambrósio, participou da edição #55 programa InterD – ciência e cultura e compartilhou detalhes sobre seus projetos atuais e sua trajetória na música. Atualmente residindo em São Paulo, Eder está envolvido em diversas iniciativas musicais, incluindo trabalhos autorais e pesquisas sobre ritmos tradicionais brasileiros.
Com uma carreira marcada por experimentações e fusões sonoras, Eder revelou detalhes de seu mais recente trabalho, o disco Imprevisão, um álbum de improvisação ao vivo gravado em parceria com o artista. “Esse disco surgiu em 2023, a gente se trancou no estúdio, fez filmagem e gravação de áudio em plano sequência. O foco é a bateria como instrumento orquestral, trazendo influências da música erudita”, explicou.
Outro projeto em andamento é o álbum Ederbaque – A Ciência do Baque Virado, que resulta de anos de pesquisa e vivência com o maracatu de baque virado, especialmente no grupo Estrela Brilhante do Recife, com o qual Eder tocou entre 1993 e 2014.
“Esse álbum é uma conclusão do meu estudo sobre o maracatu. Eu passei anos ministrando oficinas em São Paulo para pessoas que nem sabiam o que era baque virado e que começaram a se interessar pela cultura”, contou. O trabalho está nas mãos do produtor Buguinha Dub, que cuida da mixagem e masterização, mas ainda não tem previsão de lançamento.
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A Zabumbateria
Eder também abordou seu projeto de pesquisa sobre a “Zabumbateria”, um conceito de multipercussão desenvolvido durante sua trajetória no Mestre Ambrósio. “A gente se inspirou muito nas bandas de pife de Pernambuco, principalmente na banda de pife de Caruaru”, relembrou. Durante suas idas a São Paulo, ele teve a oportunidade de trabalhar diretamente com Sebastião Biano, lenda do pife, no grupo Esquenta Mulher. “Toquei com ele por uns 10 anos. Ele viveu 103 anos e tocou firme até o fim”, recordou.
Em 2004, Eder lançou o livro Zabumba Moderno, que inclui partituras de duas músicas do Mestre Ambrósio. Agora, ele pretende consolidar essa pesquisa em um novo álbum, cujo nome provisório é Zabumbateria. “Lançamos uma música chamada Viver É Só Brincar, que já está nas plataformas digitais. Esse trabalho é um chamamento para o álbum, que trará composições focadas na tradição nordestina, mas com uma abordagem inovadora”, afirmou.
A Escola Prego Batido e a difusão da Percussão Nordestina em São Paulo
Além de sua carreira como músico e pesquisador, Eder fundou a escola de percussão Prego Batido, em São Paulo, que em 2025 completará 20 anos. “A escola é focada na percussão brasileira, com ênfase na tradição nordestina. Ministramos cursos presenciais e online, além de trazer mestres de Recife para workshops especiais”, explicou.
Para ele, o interesse pelos ritmos nordestinos em São Paulo sempre esteve presente, impulsionado pela forte presença de migrantes nordestinos na cidade. “São Paulo tem uma ligação histórica com o Nordeste. No canteiro de obras de qualquer prédio, você encontra um pernambucano, um cearense, um baiano. Essa cultura está lá, viva, e às vezes as pessoas de classe média que não conhecem direito começam a se interessar.”
Eder ressaltou ainda o papel do movimento Manguebeat na difusão dos ritmos tradicionais. “O Mangue trouxe a cultura pernambucana para um contexto mais pop e acessível, despertando a curiosidade de muita gente. Mas para entender de verdade o maracatu de baque virado, por exemplo, é preciso estudar, ouvir os mestres, sentir a raiz da coisa”.
A cidade de São Paulo, conhecida por sua diversidade cultural e econômica, se destaca como um polo de curiosidade e busca por conhecimento. Para Eder O Rocha, essa característica está diretamente ligada à presença maciça de nordestinos e seus descendentes na construção da metrópole. A conexão com a ancestralidade e a busca por identidade refletem-se na música, especialmente nas tradições pernambucanas e nordestinas em geral.
Dentro desse contexto efervescente, ele relembra sua participação no programa Mão na Massa, do Showlivre, em São Paulo. Foi nessa ocasião que ele apresentou algumas toadas do seu disco Ederbaque – A Ciência do Baque Virado, lançadas em primeira mão no programa. A entrevista, por este repórter (AD Luna), transformou-se, segundo ele, praticamente em uma aula sobre maracatu de Baque Virado e Baque Solto, permanecendo disponível até hoje.
“A entrevista fluiu como um curso, e muitas pessoas que me encontram hoje dizem que aprenderam o básico do maracatu de Baque Virado assistindo àquele programa”, conta Eder. O registro segue acessível, servindo como uma introdução valiosa ao universo do maracatu para novos interessados e pesquisadores da cultura popular.
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Mestre Ambrósio – o surgimento, e os primeiros ensaios no Ipsep
Eder O Rocha foi morar no IPSEP, bairro de classe média baixa do Recife, em 1980, em uma casa comprada pelo pai. Em 1983, ele começou a estudar música e houve a necessidade de criar um canto para estudar. Afinal, percussão e bateria fazem certo barulho. Com a ajuda do pai, foi montado um estúdio na parte superior do local.
“Comecei a chamar as pessoas para participar de jam sessions. Eu sempre trabalhei com a música de improviso, então a gente aproveitava os aniversários das pessoas, os feriados. Havia também momentos em que eu dava aulas. Inclusive, Adelson [AD Luna] foi um dos meus alunos”, conta.
Na época, Eder tocava na Arame Farpado, lendária banda de hard rock do Recife. Por conta disso, ele também era conhecido no universo local do rock’n’roll e alugava o estúdio para outros grupos – a exemplo da Putrefação. Grupo de thrash metal citado por ele e que contava com este repórter na bateria.
Foi no estúdio de O Rocha que surgiu o Andaluza, dupla de violonistas formada por Siba e Arthur Emilio, também conhecido como Big Head. Por conta das relações estabelecidas no estúdio e nos shows do Arame Farpado, Eder é convidado a tocar bateria com o Andaluza. Em seguida, o então trio percebeu a necessidade de agregar um elemento mais harmônico, um tecladista – e foi então que Helder Vasconcelos foi incorporado.
Entretanto, ocorreram desavenças. Arthur saiu, levou o nome Andaluza e remonta o projeto tocando guitarra e cantando, juntamente com AD Luna (que à época se chamava Adelson Bala), na bateria, e Lindenberg Farias, no baixo.
E na outra ponta surgia o Mestre Ambrósio, com Eder O Rocha, Siba e Helder Vasconcelos. Posteriormente, se juntariam aos três: Mazinho Lima, Sérgio Cassiano e Maurício Alves.
Já naquela época, o grupo mantinha uma atitude e mentalidade profissionais. No estúdio de Eder, os ensaios ocorriam religiosamente de segunda a sexta-feira, das 19h às 22h. Posteriormente, com o surgimento da Soparia, de Roger de Renor, o Mestre Ambrósio, saía dos ensaios às quartas e ia direto ao lendário bar, localizado no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, para shows de forró.
“Foram quatro anos fazendo isso: de 1992 a 1996, direto. Então, quando as pessoas falam que o Mestre Ambrósio toca tão bem, que ‘vocês são tão ligados um ao outro e groovam muito bem’ é por causa disso”, explica O Rocha.
“A gente tocou tanto, ensaiou tanto, que hoje em dia fica fácil de fazer essas coisas. A pessoa passou 18 anos parada, sem tocar, e voltou a tocar depois de 18 anos e toca tão bem quanto antes. Por quê? Porque a gente acabou ficando com isso no corpo da gente, de tanto ensaiar, de tanto estar ali junto”.
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Em 1997, Eder se mudou para São Paulo, e o estúdio foi transformado em uma casa, mas o legado do espaço como berço criativo do Mestre Ambrósio permanece. “Hoje em dia, eu digo que quem patrocinou o Ambrósio foram meus pais Porque [a banda] ensaiava num lugar durante quatro anos, de sete da noite até às dez da noite, sem pagar um tostão”.
No início de suas atividades, o Mestre Ambrósio possuía dois formatos de show: um acústico e outro elétrico, o qual incluía teclados, bateria e uma presença maior da guitarra. Por questões de praticidade e de linguagem artística, a banda resolveu focar mais em percussão, viola, rabeca, oito baixos. “Para poder dar essa sonoridade um pouco mais regional, mas que era uma regional da linguagem da gente, da cultura pernambucana, e que fortalecia esse ideal do grupo”, relembra Eder.
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ACESSSE TAMBÉM
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