Marisa Monte fala sobre disco e turnê de “Portas”. Ela se apresenta neste sábado (30) e domingo (1) no Classic Hall, em Olinda
“No começo de 2020, meu plano era entrar em estúdio em maio. Eu já tinha um repertório pronto, produzido ao longo dos últimos anos com diversos parceiros, esperando a hora certa de gravar.
Mas, em março, as portas se fecharam e ficou impossível seguir com os planos. Como todo mundo, entramos numa inevitável pausa de mil compassos. Passaram-se alguns meses até que a gente pudesse compreender melhor a nova realidade cheia de protocolos sanitários, testes e máscaras.
Durante esse período, o repertorio cresceu. Fiz ‘Vagalumes’ com Arnaldo Antunes e ‘Sal’ e ‘Você não Liga’ com o Marcelo Camelo, que também me trouxe uma música dele, ‘Espaçonaves’, que já estava pronta.
Em novembro, com uma equipe pequena, comprometida e testada, entramos no estúdio, no Rio de Janeiro, para gravar as primeiras oito bases.
Minha ideia inicial que era viajar e formar uma segunda banda, em Nova York, ficou impossível. Achamos que valia a pena experimentar uma gravação remota. Com co-produção do Arto Lindsay, que trouxe a sua banda, arriscamos gravar duas músicas, ‘Calma’ e ‘Portas’, eles num estúdio na rua 37 e nós no Rio via zoom. Pra nossa surpresa deu muito certo o que nos abriu um novo universo de possibilidades e nos deu confiança de seguir com gravações remotas em outras cidades e com outras formações também.
Seguimos então alternando gravações presenciais no Rio, (mais bases, complementos e os arranjos do maestro Arthur Verocai e do trombonista Antonio Neves) e com gravações remotas em Lisboa (arranjos do Marcelo Camelo) e Los Angeles (a voz da minha jovem parceira Flor).
Gravamos ainda remotamente, ‘Vento Sardo’, em Madri e Barcelona com Jorge Drexler, que apesar de estar pronta e fazer parte do corpo desse álbum, decidimos lançar a posteriori, como um single, quando pudermos nos encontrar ao vivo.
Mixamos com engenheiros no Rio, Los Angeles e Nova York acompanhando daqui e depois masterizamos em Nova York.
Foi um grande desafio, reinventar métodos de produção e abrir novos caminhos e experimentar num momento tão duro e de tantas incertezas, mas a gente enfrentou as dificuldades com criatividade e o cuidado necessário. O álbum ficou pronto entre fevereiro e março.”.
ÁLBUM VISUAL
“Acompanhar a produção de artistas plásticos, visitar exposições e conhecer as novidades são sempre um prazer pra mim. Mas nesse período isso só foi possível filtrado pelas telas do computador. A Marcela Cantuária é uma das artistas que eu seguia há cerca de dois anos e suas pinturas foram uma das janelas que eu mantinha aberta para o mundo durante o isolamento.
Sem que ela soubesse, a vi pintar mulheres, animais, histórias, natureza e seu universo cheio de mistérios, fantasias, oratórios, símbolos, feminismo, cores e imagens me encantou e seduziu.
Como o meio musical é majoritariamente masculino, quis, no álbum visual, tentar promover um equilíbrio e convidar uma parceira mulher. Trabalhamos numa troca intensa de referências, num diálogo profundo entre nossos diferentes campos artísticos, durante dois meses, para que ela criasse essa série de pinturas chamada ‘Portas’. Com seu olhar e traço virtuoso, ela criou um imaginário que potencializou e deu forma às canções. Obrigada, Marcela.”.
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