No céu a lua
Surge grande e muito prosa
Dá uma volta graciosa
Pra chamar as atenções
O homem da rua
Que da lua está distante
Por ser nego bem falante
Fala só com seus botões…O homem da rua
Com seu tamborim calado
Já pode esperar sentado
Sua escola não vem não
A sua gente
Está aprendendo humildemente
Um batuque diferente
Que vem lá da televisão…
Por AD Luna
Esses são trechos da letra de “Televisão”, canção presente no álbum Chico Buarque de Hollanda – Volume 2, de 1967. A música marcou a abertura de uma nova fase do então Interdependente – música e conhecimento. Antes veiculado apenas na internet, o programa passou a ser veiculado todos os sábados, às 13h30, na Universitária 99,9 FM do Recife, no dia dia 5 de agosto de 2017 (tempos depois, ele passou a integrar a programação da Rádio Frei Caneca FM, também da capital pernambucana).
Adriana Santana, convidada desta edição, é professora-doutora e então coordenadora do curso de jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco. Ela é também uma das apresentadoras do ótimo e necessário programa Fora da Curva, da Universitária FM.
Quem costuma navegar por redes sociais como o Facebook ou Twitter, muitas vezes se depara com comentários que falam sobre um suposto “fim do jornalismo”. Adriana Santana discorda dessa visão pessimista. Para ela, o jornalismo tem mostrado evoluções, com maiores possibilidades de divulgação, por conta da internet – o que pode ser caracterizado como uma forma de “furar o bloqueio” das mídias tradicionais.
Por outro lado, na opinião dela, os diversos comentários que falam do “fim do jornalismo” são importantes. Pois isso demonstra o aumento da posição crítica das pessoas. “Hoje, a possibilidade de você descobrir uma falácia jornalística é muito maior. É difícil que algum erro, algum desmando, não seja rapidamente ou facilmente descoberto”.
Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros
Covid-19: despreparo de jornalistas contribui para desinformação
Tendo em vista esse posicionamento de fiscalização diante do que é publicado, quais seriam as características do bom jornalismo? “Continua sendo aquilo que tenta desvelar algo que está muito bem escondido por algum motivo”, expõe. “Ainda que desvirtuado, o objetivo principal [da atividade] é, ou deveria ser, o bem comum, o interesse público. Todo mundo que faz bom jornalismo, de alguma forma, tenta mudar alguma realidade para melhor”, complementa a professora.
Esse nome tão delicado é o termo usado, no meio jornalístico, quando ocorre demissão de vários profissionais ao mesmo tempo em redações de empresas de comunicação. Diante dessa realidade, a UFPE tem adotado uma nova estratégia na formação dos futuros profissionais. “A gente está tentando se afastar dessa ideia de que o jornalista precisa ser preparado, na universidade, única e exclusivamente, para ser um empregado de veículo de comunicação”, informa Adriana Santana.
Segundo ela, a preocupação maior das pessoas responsáveis pelo curso de jornalismo da UFPE, e dos próprios alunos, não é só com o mercado. Isso não quer dizer, porém, que foi instalada uma guerra contra as empresas de comunicação. “Não é uma visão excludente, mas também não é uma visão exclusivista”, enfatiza. “Hoje a lógica é pensar o jornalismo como uma atividade que pode ser exercida não necessariamente por um empregado de uma empresa. É uma atividade que pode ser gerenciada pelo próprio jornalista”, aponta Santana.
Por meio da plataforma de cursos online Coursera, a Universidade da Pensilvania oferece o curso English for Journalism. O conteúdo tem como principal alvo pessoas com nível intermediário na língua inglesa e não é restrito apenas para profissionais ou estudantes de jornalismo. Esse tipo de iniciativa, que procura ampliar o conhecimento de como funciona a atividade para o público leigo, é bem visto por Adriana Santana. Além disso, ela destaca a louvável e ética preocupação da “nova imprensa” em explanar seus modos de apuração, como determinadas reportagens foram produzidas.
“Também acho fantástico quando um veículo expõe em editorial, sem subterfúgio, sem eufemismo, mas muito claramente, o seu posicionamento político. Acho isso muito correto. É um exemplo [do que é feito] por jornais americanos, europeus. Nessa seara eles estão à nossa frente, porque são explícitos: ‘nosso posicionamento é de esquerda, de direita, liberal’. Isso fica muito claro, muito evidente. E aqui [no Brasil] isso é completamente maquiado, negado”, critica Adriana Santana.
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