Música

IVYSON lança seu novo álbum “AFINCO”

IVYSON, cantor e compositor pernambucano,  lança seu segundo álbum já disponível nas plataformas digitais

Existe amor em São Paulo. Nascido no Recife há 25 anos, IVYSON se mudou para a capital paulista em 2022, focado no trabalho musical e no crescimento artístico. O resultado está neste novo álbum made in SP, com lirismo e sensibilidade raros no panorama nacional, mas sem perder um milímetro do sotaque que cativa fãs Brasil afora.

Depois de se projetar nas redes com “Girassol”, e de trilhar um caminho original com a mixtape “Poemas Para Quem Chora”, o EP “Retalhos” e o álbum de estreia “O Outro Lado do Rio” (2022), IVYSON expande agora seu discurso amoroso, pós-amoroso e além-amoroso em “AFINCO”. “Eu falo nas minhas músicas: o amor amadurece, o amor cura, destrói… e também faz crescer. Eu gosto do romantismo, de escrever sobre isso. Mas às vezes, pode parecer que uma canção é sobre amor, e não é”, elabora.

O álbum “AFINCO” avança por uma linguagem pop própria, amparada na parceria com o jovem produtor paranaense Janluska (Gianlucca Pernechele Azevedo), conhecido pelas colaborações com Tuyo e Marina Sena.

Em dez faixas (todas próprias — sendo “FICA” em parceria com Dody, e “EFÊMERA”, com Rayllane Gomes), o talento melódico ancorado em beats modernos e explorações acústicas processa referências contemporâneas que vão de artistas como Jota.Pê e Maria Gadú até a cantora portuguesa MARO e o cantor e produtor inglês Labrinth.

A musicalidade do garoto criado na Guabiraba, zona norte do Recife, surgiu a partir da vivência em igrejas (Batista e Assembléia de Deus) e foi estimulada cedo por um tio. Com o gospel como bagagem maior, IVYSON absorveu boas doses de rock na adolescência, mas sempre teve ouvidos abertos a quase todos os gêneros — a MPB de heróis pernambucanos da canção como Alceu Valença e Lenine, forró, trap e hip hop. Músico, em essência, ele se interessou pelos beats e pelas aberturas criativas possibilitadas pelos plugins e elementos eletrônicos.

“AFINCO”, a faixa-título, resume uma parte considerável dessa formação. Melodia dolente, vocais alterados por diferentes efeitos construindo um cenário etéreo, um beat que se sobrepõe ao dedilhado inicial e uma citação/aceno ao “coração selvagem” de Belchior. “Eu comecei a escrever em 2019 e não conseguia terminar. A frase ‘afinco eu sou’ ficou na mente e depois de muito tempo é que fui pesquisar para entender melhor o significado de afinco, que é perseverança”, conta IVYSON. “Fala sobre a minha trajetória, de buscar um lugar que almejava. Eu com 18, 19 anos tocava em casamentos e estudava, fazia curso preparatório pensando em entrar para a faculdade de engenharia. ”

O título da faixa de abertura, “AMAR ATÉ MORRER”, pode apontar para ultrarromantismo, mas proclama “eu andei à flor da pele/ o espelho me fez ver o que eu sou” e fala sobre busca pessoal por autoexpressão, sobre “amar a arte acima de tudo”. “O que eu amo com todas as forças”, resume IVYSON.

Também aberta a leituras múltiplas, “FICA” (lançada como single em abril) fala de “dependência emocional” com sensualidade e sensibilidade. A latinidade dolente e o pulso afropop são resultado de influências do rapper e cantor espanhol C.Tangana e do mexicano-americano Omar Apollo. IVYSON compôs com o parceiro Dody também sob impacto de audições do trabalho de Marina Sena.

Inequivocamente sexy, dentro do lirismo sensível de IVYSON — “construí um universo pra nós/ ninguém nos alcança aqui/ somos pele, etéreos lençóis, tua voz acalanto, eu a quis” —, “ME VÊ” é um dos destaques do disco, espaço para mais explorações vocais felizes e o groove envolvente no baixo de Hy (que também contribui com uma frase marcante ao violão).

A canção mais romântica do trabalho, na opinião do próprio autor, é “DETALHES”; nada a ver com a de Roberto e Erasmo, bicho, fala dos detalhes desejados da pessoa amada. A música nasceu embalada pelo friozinho de uma varanda paulistana, com ginga de trap e declarações de amor. Chegou a ser trabalhada em um arranjo com mais instrumentos, mas, por influência de Janluska, surge aqui em versão esparsa, valorizando frases como “perco as horas, perco tudo, não perco o desejo que vai além” com espaço para acordes de soul e gospel ao piano, e um motivo oriental.

“SERENA” foi o primeiro single que antecedeu o lançamento, com delicadeza esparsa em ambientação R&B. Dois acordes e uma melodia afeita a suaves voos vocais, sobrepostos em camadas, com a poesia direta, mas aberta a interpretações. O pessoal “você é serena como um sonho bom, poema como uma canção” deságua em um amplo “me ensina a viver”. “Nasceu toda no violão, comecei a descrever uma figura feminina vulnerável, uma mulher que é incrível. Depois paramos para entender que é uma homenagem a todas as mulheres. Fui criado só por mulheres, eu não seria quem sou sem elas”, explica IVYSON.

Em “EFÊMERA”, a insônia que “não é normal” pode remeter a uma paixão, mas vai mais fundo, falando de toda uma trajetória de superação. “Fala de meritocracia, de trabalhar e ser diminuído por pessoas que não entendem o que você está fazendo. E fala sobre questão racial também, um lugar de limbo em que podemos ser colocados”, conta IVYSON, filho de negros que durante um tempo se entendia como pardo. “Vieram marcas, já me curei/ Vieram amores/ já superei/ As minhas guerras eu ganhei”, proclama.

Já “RANHURA”, a mais gospel do disco, é inequivocamente sobre amor, sobre o encontro elevado entre duas pessoas. “É sobre o que São Paulo fez. Ficar sem estrutura familiar fortaleceu nosso amor”, resume o inspirado IVYSON. Antes da faixa-título que encerra o álbum, “EGO” e “MEIA-NOITE” investem, respectivamente, em R&B e trap, com manha brasileira/pernambucana, abrindo portais de universalidade. E, se “EGO” fala sobre os perigos de alcançar o patamar tão sonhado, “AFINCO”, a canção, tranquiliza, como o prêmio final de um videogame de travessia. Não por acaso, ela foi lançada recentemente junto com um jogo inspirado nos jogos de plataforma dos anos 1980 (disponível) no site do artista. IVYSON já está do outro lado do rio.

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