Hip hop: origens e desenvolvimento no Brasil e em Pernambuco

 Hip hop: origens e desenvolvimento no Brasil e em Pernambuco

O pernambucano radicado em São Paulo Nelson Triunfo. Um dos pais do hip hop nacional. Foto: reprodução

Até 1987, 1988, era uma febre dançar breaking no Brasil. Foi a partir daí que o hip hop começou a ser mais difundido e surgiram outras vertentes que eram divulgadas através de filmes, de discos, de DJs que iam para o exterior

Por AD Luna

Quais as origens do movimento hip hop nos Estados Unidos, no Brasil e em Pernambuco, como ele se desenvolveu e como se encontra na atualidade? Sérgio Ricardo, também conhecido no Estado como “Sociólogo da Favela”, conversou sobre o tema em duas edições do programa Interdependente – música e conhecimento, em setembro e outubro de 2017, na Universitária FM do Recife. Abaixo, trechos da entrevista e os áudios completos das partes 1 e 2 dessa edição.

Sérgio Ricardo discorda da noção comum que afirma ter o hip hop aparecido primeiro em São Paulo, para depois ganhar outras cidades do país. Para ele, o que impulsionou, de maneira geral, o interesse pelo movimento foi a indústria cultural, com o lançamento de diversos filmes focados nessa cultura, também veiculados no Brasil. “Agora, São Paulo, por ser a capital mais rica do Brasil, e de certa forma onde a mídia está mais concentrada, deu a maior visibilidade”, avalia.

“Posso falar aí do próprio pessoal da black music que já era praticante, a exemplo de Nelson Triunfo, que começou a organizar as primeiras rodas de breaking e de popping, no centro de São Paulo. Ele articulava as rodas que atraiam muitos jovens. Ele tinha o próprio grupo dele, o Funk Cia,  que serviu de inspiração para que surgissem vários bboys e bgirls. Isso não quer dizer que foi ele o primeiro a praticar a dança no Brasil e nem tampouco em São Paulo. Porque os filmes quando se manifestaram no Brasil, através da indústria cultural, isso (foi) difundido pra todo mundo. Virou moda”.

Ouça “Hip Hop: nascimento e desenvolvimento, com Sergio Ricardo – parte 1 – #17” no Spreaker.

Breaking no Brasil

“Tanto é que a gente começou dançando popping e o break virou prioridade e virou modismo. Até 1987, 1988, era uma febre dançar break no Brasil. Foi a partir daí que o hip hop começou a ser difundido e surgiram outras vertentes que eram divulgadas através de filmes, de discos, de DJs que iam para o exterior, sobretudo para os Estados Unidos, traziam e tocavam em suas festas. Porque elas próprias as festas black music, que eram muito fortes na década de 70, também deram espaço para o hip hop – que passou a ser uma inovação, fazendo com que a juventude, naquele contexto, fosse atraída também. Sobretudo a juventude dos bairros de periferia das grande metrópoles”.

Primeiros registros do rap em São Paulo

“Em São Paulo, temos o surgimento do primeiro disco de rap: Hip Hop e cultura de rua, com vários atores. São Paulo se destaca como a capital que de fato promoveu de forma mais forte e contundente a cultura hip hop. Muita coisa que se fazia em São Paulo era fonte de inspiração para a cena de todo o país. Mas, aqui em Pernambuco, no Recife, temos indícios de grupos de breaking que se formaram na década de 1970. Temos histórico oral até de encontro de bboys e bgirls feitos em 1983”.

“Não diferente de outras capitais, os grupos de break foram os primeiros a protagonizar aqui em Pernambuco. Podemos citar aí a Rock Master Crew, a UBI, que no caso é a União Black Independente, a Rock Boys, Banana Breakers, Recife City Breakers. Diversas crews que surgiram naquela década de 80 e foram protagonistas da cultura hip hop aqui em Pernambuco”.

Ouça “Hip Hop no Brasil e em Pernambuco, com Sérgio Ricardo #21” no Spreaker.

Nomes do passado e do presente do hip hop brasileiro

“Thaíde e DJ Hum são figuras bem expoentes e que são pioneiros também de todo esse processo. A Back Spin Crew, com mais de 30 anos, de São Paulo – também pra mim são referências de peso, dentro da cultura hip hop, porque estão em atividade. Os grafiteiros Os Gêmeos, pra mim, também são figuras importantes, são expoentes no processo de deflagração do grafite no Brasil e serviram de inspiração pra muitas gerações de grafiteiros. Sem esquecer também da Charlene, uma MC lá de São Paulo, que foi uma das primeiras mulheres a protagonizar a cultura hip hop. Aqui em Pernambuco, em citaria o bboy Pacheco, que é da Recife City Break, uma das crews mais antigas em atuação no Nordeste e que surgiu naquele mesmo período da Back Spin Crew, em 1983”.

“No rap atual, diria que Emicida é uma figura que tem cumprido bem esse papel de levar a mensagem da cultura hip hop, de uma forma coerente e até contundente. Racionais MC’s, não porque necessariamente eles foram pioneiros, mas sim pelo de que até hoje eles estarem aí em evidência, resistindo. E mantendo vivo o trabalho que eles começaram nos idos dos anos 80. Então, basicamente são esses nomes que quando se fala em cultura hip hop aqui no Brasil vêm logo à minha cabeça, porque foram figuras que marcaram muito o surgimento da cultura hip hop”.

Rap em Pernambuco

“No lado do rap, eu poderia citar o Faces do Subúrbio, Sistema X, que naquela década de 1990, quando o rap começou a despontar aqui em Pernambuco, foram pioneiros também e são figuras importantes. Seus membros até hoje estão na ativa. Zé Brown e Tiger, que têm trabalhos solo, e representam com muito peso a cultura hip hop pernambucana”.

“Atualmente, citaria o Aliados CP, KBS Marques, Cabeça e a Corja, que também é um dos caras das antigas. Diomedes Chinaski, que vem surgindo aí como uma figura dessa nova geração de 2009 pra cá. E, do lado dos grafiteiros, poderia citar o Galo de Souza, o próprio Guerreiro, que foi o primeiro grafiteiro a começar esses trabalhos aqui, em 1983, o Derlon (Almeida), que tem um grafite muito bacana e que vai justamente de encontro ao processo de regionalização da cultura hip hop – os traços dele se reportam à xilogravura”.

“Dos DJs, poderia citar DJ Beto, que para mim é uma figura expoente e, ao mesmo tempo que é das antigas, é atual. DJ Stanley, que vem despontando como grande DJ de breaking. Do lado feminino, poderia citar Lady Laay, o Arrete, que outro grupo de rap bacana. E por aí vai”.

Associação Metropolitana de Hip Hop de Pernambuco

Sergio Ricardo, integra a Associação, que existe desde 2004. “A sua missão é difundir o movimento cultural hip hop, como instrumento de transformação da sociedade”, diz ele.

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