Música

Guitarrista Prika Amaral fala sobre o novo disco da Nervosa, “Perpetual chaos”

“Diria que, hoje, a Nervosa está mais equilibrada em relação ao thrash, death metal. Hoje em dia, a Nervosa é 45% do thrash metal, outros 45% de death metal e os 10% que sobram são de outras influências que temos de diferente” – Prika Amaral

Por AD Luna

“Perpetual Chaos” é o título do novíssimo álbum da Nervosa. A banda que antes era totalmente formada por integrantes brasileiras, tornou-se internacional com a entrada da baterista grega Eleni Nota, da vocalista espanhola Diva Satanica, da baixista italiana Mia Wallace e da guitarrista e líder Prika Amaral, natural de Bragança Paulista, São Paulo.

Prika foi entrevistada na edição #85 do InterD – música e conhecimento, programa veiculada nas quartas, às 20h, na Universitária FM do Recife, nas principais plataformas digitais e aqui, no www.interd.net.br .

Abaixo, o programa na íntegra e edição transcrita da conversa com ela. 

Listen to “Nervosa: entrevista com Prika Amaral #84” on Spreaker.

Primeiramente, Prika, super parabéns por suas conquistas e sucesso na nova fase. Quando a gente assiste a vídeos com a Nervosa, o que mais transparece é o clima de grande harmonia e camaradagem entre você e as novas integrantes

Prika Amaral – Olá! Gostaria de agradecer, primeiramente, pela oportunidade de falar sobre a nova Nervosa. Todo esse apoio de fãs, da imprensa, de todo mundo que gosta da Nervosa de alguma forma, é muito importante para gente nesse momento. Agradeço demais.

A gente está muito feliz, todas nós estamos muito empolgadas. A ansiedade é uma coisa constante na gente e muito grande.

Principalmente depois que gravamos o disco. A gente não vê a hora de cair na estrada, de viver esse sonho mais intensamente, trabalhar cada vez mais para a Nervosa e para nossos fãs.

Tem sido uma experiência incrível para todas nós. Para mim, por ter estar vivendo algo que já vinha vivendo só que com outras pessoas e agora com um time completamente novo, trazendo energias, ideias novas.

É muito legal a gente ter essa troca de experiência. Há um respeito e uma admiração muito grande entre nós. E isso é uma coisa muito importante, que tem contribuído bastante para toda essa vibe boa.

E, mais uma vez, ansiedade acho que é a palavra que mais define a Nervosa, nesse momento, porque estão todas com muita vontade de fazer cada vez mais.

Uma coisa que se tem comentando é que a nova Nervosa está pendendo para o death metal

Prika Amaral – É meio polêmico falar que a Nervosa está mais death metal. Concordo e não concordo ao mesmo tempo. Porque, na verdade, o que define que a Nervosa está mais death metal agora é pelo vocal da Diva, que tem técnicas que são praticamente 100% usadas no death metal: o gutural, o growl e outras técnicas muito de death.

Porém, a parte instrumental da banda, som, riffs de guitarra, até linhas de bateria, estão mais para o thrash metal. Também há coisas do death metal, mas esse disco, especialmente, está mais thrash do que o último que a gente lançou.

Diria que, hoje, a Nervosa está mais equilibrada em relação ao thrash, death metal. Hoje em dia, a Nervosa é 45% do thrash metal, outros 45% de death metal e os 10% que sobram são de outras influências que temos de diferente. Principalmente vindo um pouco daquela vibe do black metal. E de outros estilos também, dentro do metal, como o rock and roll, até um pouco, um temperinho de punk até tem também nesse novo disco. Está bem interessante e bem variado.

Prika, Mia, Diva e Eleni, a nova Nervosa. Foto: divulgação

No que vocês se basearam para escrever as letras do disco novo?

Prika Amaral – Bom, as letras são inspiradas naquilo que a gente sente, naquilo que a gente vive e nas nossas necessidades de falar sobre certos assuntos. Esse disco acho que tem a maior variedade de assuntos e tópicos do que qualquer outro disco da Nervosa. E sempre falando sobre o comportamento humano e política, que envolve o comportamento humano no geral. Porque tudo que a gente vive hoje gira em torno disso.

O disco já começa falando do comportamento das pessoas em relação à competitividade e como eles veem o próximo sempre como inimigo, um opositor, e como elas se comportam em relação a isso. Fala de pessoas invejosas, que fazem as coisas com maldade.

E aí, o disco segue, fala muito sobre pessoas que estão passando por momentos difíceis. Tem uma letra que fala sobre julgamentos. Hoje em dia, a gente vive a era da internet, muitas vezes as pessoas não se certificam de algumas informações e saem por aí crucificando outras, julgando muito, todo mundo.

Tem uma letra que já traz mais positividade, “Time to fight”, a hora pra lutar. É uma letra positiva porque, num momento de pandemia e todas essas coisas ruins acontecendo, a gente tenta de alguma forma mostrar que precisa continuar lutando, e não desistir nunca.

Há muita coisa que não vou revelar, porque quero que as pessoas escutem o disco e tenham as suas próprias interpretações também. Acho que música é você também senti-la e ter sua própria interpretação.

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E se organizassem exposições com capas de discos de metal?

Em relação a seu trabalho de guitarras nesse disco, o que você poderia destacar em relação aos anteriores no que se refere ao modo de tocar, novas influências, timbres e equipamentos usados?

Prika Amaral – Bom, sobre a guitarra, foi um disco que eu trabalhei menos individualmente e mais em grupo. Sobre o timbre, é um processo que vem de anos, muitos anos na verdade, que eu venho trabalhando e construindo um timbre meu.

Venho desenvolvendo isso com a Pedrone, que tem um modelo de amplificador que está criando para mim. É o modelo que eu uso na estrada, usei para gravar, então cada vez, cada tempo que passa, a gente vai evoluindo nesse equipamento e isso também inclui a evolução de timbres.

Dessa vez, a gente fez muitos testes, porque eu tinha muito claro o meu som de guitarra, que seria esse som do Pedrone, com a minha guitarra, com o meu captador, com tudo certinho. Porém, o que influencia muito é como você capta esse som, porque um microfone pode mudar consideravelmente o som de uma guitarra.

Então a gente fez vários testes de microfone, de distância, de posição, de tudo. E atingimos um ponto onde conseguimos preservar aquilo que estávamos ouvindo, que é muito importante.

O processo de composição – que acho que evoluí na guitarra – seria o de criar riffs pensando em valorizar um ponto da bateria, um riff um pouco mais melódico, para valorizar uma parte vocal e coisas assim.

Também procurei ter uma visão mais de público, de como que as pessoas poderiam interagir com a minha música. E acho que essa foi a maior revolução da banda, no geral, fazer as coisas trabalhando em grupo e não cada uma faz sua parte e junta tudo.

Tem sido uma experiência incrível e acho que isso valorizou bastante o nosso resultado final.

O lyric video da música “Perpetual Chaos” foi produzido pelo artista gráfico pernambucano Alcides Burn. Como foi esse contato com ele?

Prika Amaral – O Alcides é um grande amigo. Eu admiro muito o trabalho dele, que desde quando conheci, só foi crescendo com o tempo. Acho que uma obra de arte se engrandece pelo que o artista é também. Admiro muito como ele trabalha com as bandas, é uma pessoa que está sempre presente, para todas as bandas, sempre ajudando muito a cena.

É um cara que trabalha para todo mundo crescer, sabe? Uma pessoa livre de egocentrismo, de qualquer coisa assim. É um cara que valoriza amizade, uma pessoa que quero ter sempre por perto. Eu o admiro muito como pessoa, além de como artista.

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A banda pernambucana Hostinalia. Foto: Divulgação

Ângela Euterpe, vocalista da Hostinalia, pergunta:

Queria relembrar que, no camarim do Pub Estelita (casa de show no Recife), te perguntei como era que você se sentia em relação à fama, viajar, tocar, ficar em hotel. Lembro de você ter comentado que era algo bem solitário, mas que você amava fazer. Era uma via de mão dupla. Queria saber o que mudou, principalmente, agora que estamos numa pandemia. Você sabe que como músico nós sempre sonhamos com o “pódio”, chegar onde você chegou. Como você se sente com suas conquistas?

Prika Amaral – Bom, primeiramente um abraço grande para Ângela, que é uma amiga, uma pessoa que admiro bastante também. Já tive oportunidade de encontrar com ela duas ou três vezes, uma menina que tem muito talento, uma voz muito maravilhosa! Espero encontrar com ela logo mais.

Sobre a pergunta, ter uma vida de músico é você estar ciente que vai ter que abrir mão de muita coisa e de quase tudo. Mas acredito muito no que move a gente, no que nos faz sorrir, naquilo que a gente tem que investir. A música para mim sempre foi algo que me levanta da cama todos os dias. É uma coisa que nunca me desagrada, me dá forças, é uma coisa que amo fazer.

É um processo que para mim é muito natural, faz parte você deixar muita coisa para trás. Não é uma coisa que me faz sofrer. Claro, tem os pontos tristes, algumas coisas gostaria que fossem diferente. Mas não é possível a gente ter tudo. Então, tendo isso claro na cabeça, faz a gente se sentir um pouco melhor em relação a outras coisas.

Como me sinto em relação às minhas conquistas? Muito grata. Batalhei muito, trabalhei muito, assim como todas as integrantes que fizeram parte da Nervosa e o carinho que a gente tem do público, no Brasil, fora, na América Latina, Estados Unidos, no mundo inteiro, é muito grande.

A jornalista Stefania Cardoso. Foto: @florescerproducoes

Stefannia Cardoso, jornalista, apresentadora do PEsado – lapada para todos os gostos e idealizadora da revista Inferis, pergunta:

Prika, primeiramente muito obrigada, mana, por tudo que você faz na cena da música pesada por toda a tua representatividade, toda sua colaboração na cena nacional e internacional. Você é uma referência não só para mim, mas para manas do mundo inteiro. E é com esse gancho, com essa tua experiência, com essa tua vivência, que eu queria te fazer uma pergunta. Na tua visão, que é que nós mulheres podemos fazer para melhorar a nossa situação na música pesada?

Prika Amaral – Meu super obrigada pelo carinho, pela pergunta que é muito importante. E espero poder estar por aí, logo mais, se a gente se encontrar, ter essa conversa mais longa e detalhada. O que nós mulheres podemos fazer para melhorar a nossa situação na música pesada? É nos unir, sempre. Continuar fazendo o que gostamos, o que nós queremos e não dar ouvidos, nem importância para pessoas… No geral, não só as pessoas que são preconceituosas com as mulheres… Não dar ouvidos para essas pessoas que são mal resolvidas ou que têm inveja. Só acontece desse tipo de pessoa sugar suas energias se você permite. [Procurar] se afastar de pessoas assim, não ler esse tipo de comentário, não dar importância.

Uma boa parte dessas pessoas precisa de atenção. E quanto mais atenção elas têm, quanta mais voz esses caras têm, mais espalham os preconceitos deles. É importante a gente fazer esses debates para conscientizar as pessoas, mas nunca dando atenção para elas. Falar sobre, mas não falar quem e como. Porque esse tipo de coisa incentiva.

As mulheres têm que se unir. A gente já tem uma evolução muito grande de uns anos pra cá. Vejo as mulheres muito mais unidas na cena. Antes, as mulheres mais competiam do que se uniam. Hoje vejo o contrário: as mulheres mais se unem do que competem. E isso é maravilhoso e só tem que continuar crescendo cada vez mais.

E dedicação, foco, que tudo vai dar certo e espero ver mais e mais mulheres aí na cena e que a gente se proteja e que a gente seja forte.

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