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Gilú Amaral lança “Mourisca”, single de seu novo trabalho solo
Gilú Amaral, percussionista pernambucano, lança o disco “O Sopro e a Percussão” que veio ao mundo para enfatizar a força da percussão e a potência dos metais dentro da música que é feita em Pernambuco
Um dos músicos mais experientes e inventivos da atual cena pernambucana volta a brilhar em um trabalho autoral. Aos 38 anos, e com pouco mais de 26 de carreira, Gilú Amaral lança neste começo de ano seu novo disco, batizado de “O Sopro e a Percussão”. O novo álbum dá seu recado já a partir do título: “O Sopro e a Percussão” veio ao mundo, segundo Gilú Amaral, para enfatizar a força da percussão e a potência dos metais dentro da música que é feita em Pernambuco.
São sete faixas, gravadas, mixadas e masterizadas entre 2017 e 2021, no Estúdio Carranca. Nelas, o artista lançou um desafio à equipe envolvida, num time de músicos tarimbados liderado por Henrique Albino, mas que conta também com Parrô Melo, Ivan do Espírito Santo, Nilsinho Amarante e Alexandre Rodrigues (Copinha), Alex Santana e Jonatas Gomes, entre outros. “Me sinto muito experiente, à vontade em ter feito esta provocação de as composições começarem a partir da percussão, para só depois convidar os arranjadores para colocar em cima da peça percussiva os seus arranjos de metais”, comenta ele. O mais comum é a lógica ser inversa, já existindo uma melodia para depois ser acrescentada a parte rítmica.
Embora seja um disco brasileiro, o ouvinte mais atento logo percebe que “O Sopro e a Percussão” possui também uma relação muito estreita com a música mundial. “As raízes desta árvore se batem lá no subsolo, se entrelaçam em algum momento. Mostra como vejo isto e como influencia em minha música atual. Remete ao regional, mas ao mesmo tempo com uma pegada jazzística, com muita inteligência das coisas que vi no mundo. Também tem fortes influências de Moacir Santos, do Hermeto [Pascoal], de Naná Vasconcelos, Letieres Leite, que me inspiraram a fazer este disco”, observa Gilú.
Seguindo um caminho diferente do primeiro disco solo “Pejí” (2018), o álbum lançado agora é todo instrumental. Cada música tem um espírito, uma energia diferente. É recheado de sonoridades distintas, vários tipos de percussão, como a mimbira, a zabumba, a alfaia, o pandeiro, o ilú, a ngoma, o caixa, o ganzá, o baji, o berimbau.
“A gente tem em Pernambuco muitos ritmos percussivos, como o maracatu, o coco e a ciranda, num estado com uma diversidade cultural muito grande, e temos o frevo, que é um dos nossos principais ritmos. Continuamos enfatizando estas duas grandes escolas, mas crio peças percussivas explorando ritmos originários e também fazendo releituras de ritmos do mundo afora, mesclando, trazendo minha bagagem como músico profissional, tendo passado por tantas bandas”, compara.
Trajetória- Um dos principais projetos da carreira de Gilú Amaral foi o espetáculo solo “Percursos”, de 2015, e que o levou a fazer turnês nos Estados Unidos e na Europa, duas vezes. O artista também participou de festivais e tocou em casas de shows importantes, como a Casa da Música, em Porto (Portugal).
“Desde criança, quando comecei a subir ao palco, toco do mesmo jeito, imerso em cena, encarando o público com a mesma entrega”, explica ele, que aos 12 anos ganhou os primeiros cachês e, aos 19, se lançou no mercado internacional. Até hoje, Gilú já esteve presente na gravação de mais de 200 discos e turnês, a exemplo de Naná Vasconcelos, além de Ave Sangria, Renata Rosa, Banda de Pau e Corda e Bonsucesso Samba Clube.
A Orquestra Contemporânea de Olinda, da qual é um dos fundadores, também lhe abriu muitas portas, com indicação ao Grammy e por ter sido escolhido entre os 10 Melhores Concertos do Brasil, em ranking do jornal O Globo. Gilú também é produtor musical, compositor de trilhas sonoras para filmes e espetáculos de dança, além de curador do Festival Aurora Instrumental.
“Sou um cara que pensa a música de forma ampla, tenho um festival como o Aurora Instrumental, que em sua edição mais recente, no final do ano passado, por exemplo, fez uma edição inteira dedicada às mulheres e que busca encarar a arte pelo viés da transformação social, em como isto chega na sociedade”, pontua. Outra parceria importante na trajetória do artista foi com o DJ Rimas.INC (Clécio Rimas), mesclando instrumentos percussivos com as batidas eletrônicas.
Faixa a Faixa
Aqualtune – É a composição mais introspectiva do disco, alcançando uma melodia mais melancólica, numa saudação à princesa africana Aqualtune, caprichando na riqueza dos arranjos. Os tambores são destacados, com ilú, conga, ngoma e a mbira ou kalimba, do Zimbábue, além de caxixis, maracas, talking drum, djembe, dununba, sangban, kensedeni, sementes e darbuka.
Encontros de Culturas – A percussão é provocada a partir do duelo de pífano e clarinete, podendo ser comparada a um caboclinho não-convencional. Leve, a faixa tem a participação de Alexandre Rodrigues, o Copinha, um dos maiores pifeiros do Brasil, que com sua performance eleva o instrumento a um novo patamar, de protagonismo.
Mourisca – Escolhida para ser o single de “O Sopro e a Percussão”, o novo disco de Gilú Amaral, a música “Mourisca” é um retrato da herança moura no Brasil, numa sonoridade conduzida pela percussão, com destaque para instrumentos como os pandeiros e a darbuka. Essa influência árabe também se encontra presente na linha melódica dos metais. A composição tem várias mudanças de compassos, trazendo uma originalidade e diversidade rítmicas, numa influência que se estende no Nordeste para diversas manifestações culturais, como os tradicionais Aboios, a Rabeca e a arquitetura de monumentos históricos, a exemplo do casarão onde fica o Casbah, em Olinda, a primeira casa a ser tombada no Brasil.
Saudação às deusas – Uma saudação às deusas, é mais calma e traz uma energia feminina. São usados o berimbau, a mbira e um trio de tambores graves (dununba, sangban, kensedeni). Os arranjos são de Henrique Albino, um dos principais parceiros de Gilú na confecção do disco.
Passeio por Olinda – Traz a pulsação de um encontro de troças carnavalescas, dos sons de frevo, maracatu, marchinhas se misturando como se o ouvinte estivesse numa rua de Olinda, assistindo aos ensaios das agremiações no mês de janeiro. Os arranjos são de Ivan do Espírito Santo, que por três anos assinou os arranjos da Orquestra Contemporânea de Olinda. É daquelas melodias que ficam na cabeça, que seguimos assobiando depois.
Mardi Gras – É a mais pop do disco, uma das mais dançantes e leva este nome devido ao Carnaval de Nova Orleans, nos Estados Unidos, considerado o berço mundial do jazz com suas brassbands. Para dar este tom do groove, do balanço dos metais, Gilú convidou o saxofonista Parrô Melo, Deco do Trombone e o trompetista Marcos Oliveira. Traz a bateria com set de alfaia e as congas, que se tornaram marca registrada do artista, além da tuba e do derbaki.
Pernamcubanos – É um tributo a Cuba, em referência ao filme homônimo de Nilton Pereira, parceiro de Roger de Renor no Som da Rural. Faz um paralelo entre o hang drum, de origem suíça, e o steel drum. “São instrumentos parecidos, mas com afinações diferentes. Também uso as congas. Cresci escutando muita música cubana, as guarachas da Zona Norte do Recife. E tem estas semelhanças de Havana com o Recife, de sermos cidades portuárias, da nossa música”, afirma Gilú. Foi a última composição a entrar no disco e é a mais curta: praticamente uma vinheta, com duração de 1 minuto e 40 segundos apenas.
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