Fundamentalismo evangélico dificulta ensino da cultura negra em Pernambuco, aponta pesquisa

 Fundamentalismo evangélico dificulta ensino da cultura negra em Pernambuco, aponta pesquisa

Ubuntu – Encontro de Afoxés no Carnaval do Recife 2020. Foto: Camila Leão/PCR

 

Compreendendo que o caminho para o combate ao preconceito passa pela educação, a pesquisadora da UFPE Renildes de Jesus Silva de Oliveira destaca que se torna relevante o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira

Por Maik Santos*

Em um país marcado pelo racismo e discriminação, em que movimentos negros resistem e reivindicam maior visibilidade e oportunidade, atitudes preconceituosas são comuns, inclusive por parte de professores, muitos deles evangélicos, no ambiente escolar. Essa é a conclusão a que chegou a pesquisa de mestrado da pesquisadora Renildes de Jesus Silva de Oliveira, “O que é de Deus e o que não é de Deus: docentes evangélicos e o ensino das culturas africanas e afro-brasileiras nas escolas públicas”, realizada sob a orientação do professor Gustavo Gilson de Sousa de Oliveira, no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE.

Na dissertação, Renildes pontua que, embora os resultados apontem para a “legitimação do ensino das culturas de matriz africana baseados em princípios como valorização e respeito”, prevalece a lógica da exotização na hora do ensino das culturas africana e afro-brasileira por parte de muitos professores, ao abordarem esses assuntos em sala de aula. Segundo ele, “tais conteúdos são postos de forma essencializada e folclorizada. Para vários dos docentes evangélicos entrevistados é uma cultura colorida, bonita, animada, muito ligada a festas e comemorações”.

“Esse tipo de ênfase colabora para a manutenção de sentidos hegemônicos sem subvertê-los discursivamente e sem se dar conta de que tais significados são instituídos num jogo de disputas de poder. A desconsideração de tais fatores favorece situações de subalternização e inferiorização e mascara os jogos de forças e conveniências que têm o poder de incluir e excluir”, explica Renildes.

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De acordo com a pesquisa, também é possível concluir que os discursos dos docentes apresentam uma dicotomia entre religião e cultura, além da tendência a um ocultamento de temáticas ligadas às religiões de matriz africana. “Essa situação acaba indo de encontro ao que é determinado pela Lei 10.639/03, que estipula o ensino de história e cultura africana afro-brasileira nas escolas públicas e privadas de todo o país”, alerta a autora.

“Há muitos relatos de professores que foram rechaçados ao levarem essas temáticas africanas para a sala de aula e com isso existe esse descumprimento dos dispositivos legais”, coloca Renildes. De acordo com a mestra, a não abordagem desses conteúdos contribui para a perpetuação de estereótipos do povo negro e o apagamento e/ou embranquecimento de grandes figuras negras, como Machado de Assis.

Entretanto, a pesquisadora também constata que “a despeito dessa realidade, observa-se que as identidades evangélicas se caracterizam por uma heterogeneidade na forma de pensar; além disso, elas se ressignificam no tocante às culturas africanas afro-brasileiras, sendo possível visualizar prenúncios de uma visão mais positiva, inclusive em relação à religião, fator mais propenso às práticas de discriminação e silenciamento.”

Fundamentalismo evangélico

Para a construção da amostra dessa pesquisa de cunho qualitativo, foram escolhidos oito professores de diferentes segmentos evangélicos, como protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais, que atuam em escolas públicas do Grande Recife. Eles foram selecionados a partir de indicações de informantes, sendo dois do Ensino Infantil, quatro do Ensino Fundamental e dois do Ensino Médio. A quantidade de participantes não foi determinada previamente e seguiu o critério da “saturação”.

A partir daí, foi utilizado um sistema de entrevista semiestruturadas e a análise das respostas dadas pelos professores e professoras foi realizada mediante um diálogo ocasional com alguns conceitos (interdiscurso e ethos) trabalhados por Maingueneau, teórico da Escola Francesa de Análise do Discurso, elucidados à luz da abordagem da Teoria Política do Discurso de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, especialmente a categoria de hegemonia. A análise procurou identificar, de forma descritiva e exploratória, os principais discursos sobre o ensino da história e culturas afro-brasileiras e africanas articulados pelos docentes evangélicos.

Compreendendo que o caminho para o combate ao preconceito passa pela educação, a mestra destaca que se torna relevante o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira. Ela sugere a “implementação de uma proposta curricular crítica e antirracista que considere as diferenças presentes no contexto escolar, uma vez que as escolas funcionam como espaços produtores de sentidos”.

Renildes Oliveira salienta também o valor de um maior investimento na formação inicial e continuada dos docentes com a implantação de disciplinas que abordem temáticas que envolvam as culturas e a história negra, formando assim docentes mais preparados para trabalhar pedagogicamente esses temas em sala de aula.

*Conteúdo da Ascom UFPE

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Karen Armstrong, “uma das principais autoridades em história das religiões na atualidade” (revista Veja), analisa os movimentos fundamentalistas que se desenvolveram nas três religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo.

Seu ponto de partida é o ano de 1492, data em que ocorreram episódios históricos decisivos para cristãos, muçulmanos e judeus.

Discorrendo em estilo claro e ágil, apoiando-se numa documentação excepcional e em ampla bibliografia, Armstrong constrói uma obra indispensável aos que desejam compreender o impacto do fundamentalismo sobre a economia, a política e a sociedade em geral. (Texto da editora)

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Um trabalho de fôlego sobre a mistura explosiva de política e religião na vida nacional. Neste livro-reportagem, a premiada jornalista Andrea Dip investiga as intricadas estruturas sociais, políticas e místicas que sustentam a escalada das Igrejas Evangélicas ao poder.

Com linguagem ágil, apresenta pontos importantes, como a aliança de evangélicos com outros setores conservadores (como a CNBB e o Projeto Escola Sem Partido), o ataque aos direitos de grupos identitários (com as chamadas “cura gay”, “ideologia de gênero” e projetos antiaborto), a ocupação de um espaço deixado pelo Estado e o uso da mídia.

Além disso, busca identificar, sem preconceitos, quem são as pessoas que levam adiante o projeto evangélico de poder, como se articulam e em nome de quem levantam suas bandeiras. Prefácio de Marina Amaral e orelha de Fernando Molica. (Texto de divulgação)

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