Por AD Luna
“Hoje em dia a gente não fala mais de feminismo, mas de feminismos”. A frase enfática é da mestra em História Naymme Moraes, do Recife, que participou da edição #35 do Interdependente – música e conhecimento, que foi veiculado no dia 17 de março de 2018. Atualmente, ela trabalha em pesquisa sobre arte e política, para seu doutorado em sociologia.
Naymme também contribuiu com a programação do programa sugerindo sons de Chico Buarque, Gal Costa, Elza Soares, Rita Lee e MC Carol. A publicitária Glenda Varotto foi a outra entrevistada. Veja aqui.
O feminismo nada mais é a ideia de que homens e mulheres são iguais. Isso é simples. Se você acha que homens e mulheres são iguais, você é feminista, ou então você é a favor do feminismo. Mas o movimento feminista só existe porque existe a ideia de que homens e mulheres não são iguais. Uma ideia que foi alimentada socialmente, alimentada pela civilização, desde muito tempo. Alimentada por um sistema patriarcal, que é baseado na figura do homem, como centro, como o chefe da casa, do lar, da civilização. É uma ideia alimentada por religiões monoteístas, que têm essa ideia patriarcal também. E é uma ideia que estava encrustada nas pessoas, no decorrer da civilização e quem sendo posta, óbvio, em cheque, em questionamento.
Os feminismos hoje vão desde o mais básico – que é o respeito pela igualdade… dizer que homens e mulheres são iguais. Mas também agem pela defesa, por exemplo, da igualdade de direitos no campo político, nas questões econômicas. Nós mulheres continuamos a ganhar de 30% a 40% menos [do que os homens]. A gente continua tendo menos voz na sociedade, a gente continua sendo julgada pelo nosso corpo, pela roupa que a gente veste, pelas nossas ideias, pela quantidade de parceiros que nós temos. A gente continua sem voz política, sendo assassinada, estuprada. Os índices de assassinato e de estupro contra as mulheres, e mulheres trans, no Brasil, é alarmante.
Apesar de toda essa discussão, de leis que foram criadas específicas, como por exemplo a Lei Maria da Penha. Apesar de toda uma discussão na sociedade, a gente ainda vê dados alarmantes que acabam ratificando como o feminismo é importante. E como a luta é constante e ela não para. Então não é simplesmente achar que nós somos iguais, é lutar por essa igualdade. Então, pra mim, feminismo é isso. É essa luta constante, que abarca toda a sociedade, todos os níveis da sociedade pela ideia não só de que somos iguais, mas pela luta efetiva em relação à igualdade.
A gente tem hoje uma cultura que dissemina, que rebaixa as mulheres, que permite a objetificação dos nossos corpos e glamorização da violência sexual. A gente tem, por exemplo, na pornografia, no cinema, o que chamamos, às vezes, de cultura do estupro, da violência. É justamente esse machismo, essa ideia de que a mulher não é um ser humano, é uma coisa. Vivemos numa sociedade que considera as mulheres como sujeitos de segunda categoria e como se a gene pudesse ser utilizada e destruída. Essa ideia machista que ainda continua na nossa sociedade, essa cultura patriarcal normaliza a violência. E essa violência não é só física, de fato.
Ela é uma violência que, por exemplo, duvida da vítima quando ela relata uma violência sexual, que relativiza a violência por causa do passado da vítima e da sua vida sexual. Que acredita numa narrativa de uma suposta malícia inerente das mulheres e isso faz com que se relativize essa violência, principalmente o estupro.
A gente vê essa cultura nas imagens publicitárias, propaganda de cerveja, principalmente de produtos que visam o público masculino, filmes, novelas, seriados que romantizam o perseguidor. E, muitas vezes, vemos essa cultura machista no momento em que acatamos como normal recomendar às meninas, mulheres, que não saiam de casa de casa à noite, sozinhas, que usem roupas recatadas, que não bebam.
É preciso refletir um pouco mais em relação ao quanto a violência e quanto essa cultura contra a mulher na nossa sociedade é invisibilizada por um pacto de silêncio – que protege agressores, o machismo, a violência e permite que todos esses crimes, dos mais simbólicos aos mais hediondos, continuem permanecendo impunes.
A gente está num período que várias denúncias estão surgindo, em todos os meios, especialmente no meio cultural. A gente viu, recentemente, a campanha “Me too”, comandadas por algumas atrizes hollywoodianas, como Natalie Portman e a apresentadora Oprah Winfrey, no Globo de Ouro 2018, onde elas foram de preto e começaram uma campanha que denunciava o assédio sexual de Hollywood.
Bom, primeiro a gente precisa diferenciar o movimento feminista do feminismo. Eu entendo mais ou menos assim. O movimento feminista é um movimento de mulheres para a sociedade. Você pode, é óbvio… Existe um discuso: “ah, homens podem ser feministas?” Acho que é mais um problema de semântica. É claro que homens podem contribuir para a causa feminista. O feminismo é um movimento de mulheres, então acho que precisa partir de mulheres, óbvio. Porque nós somos as oprimidas. Então tem que ser um movimento que parta da gente.
Mas é fundamental a participação dos homens, é fundamental que esse papel das masculinidades seja destruído. Porque ele cumpre uma reprodução da violência. Para que isso aconteça, os homens precisam participar desse processo. A gente não muda uma sociedade dentro de uma bolha, de um movimento feminista.
O movimento precisa ser de dentro pra fora. Precisa ser um movimento de liberdade que esteja inserido na sociedade e que acople todo mundo junto. Porque a gente vive num pontinho do iceberg, né? A gente está ali na ponta. a gente precisa, pra combater a violência, pra combater essa sociedade patriarcal e machista, destruir esses discursos, esses movimentos sorrateiros, essas ameaças simbólicas, que são imperceptíveis, que vão construindo esse edifício, degrau por degrau.
É preciso estar atento e é preciso que todos estejam juntos nesse movimento. Uma sociedade machista não beneficia ninguém. Óbvio que beneficia homens no sentido mais amplo, mas uma cultura igualitária vai beneficiar muito mais porque ela liberta mulheres.
Ela vai libertar mulheres da violência, vai libertar mulheres da subalternização, mas ela vai também libertar homens de papéis muito engessados dentro de uma sociedade. A violência é vertical, vem de cima pra baixo, ela vem de homens pra mulheres, de cima pra baixo. Não que nós sejamos inferiores, mas que nós somos subalternizadas por essa sociedade patriarcal. A partir do momento, que você liberta uma parte da sociedade, você liberta a sociedade como um todo.
Ouça “Feminismo com Glenda Varotto e Naymme Moraes #35” no Spreaker.
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