O que é a etnobiologia evolutiva?

A etnobiologia evolutiva teve várias definições. Uma delas propõe que seja o estudo dos sistemas taxonômicos deem diversas culturas

Por Ulysses Albuquerque

Olá, sejam bem-vindos ao curso de Etnobiologia Evolutiva. Nesta aula 1, vamos abordar o tema “O que é Etnobiologia Evolutiva”. Meu nome é Ulysses, e mais uma vez, sejam bem-vindos. Nesta aula, pretendo fazer uma breve explanação sobre o que é etnobiologia, para depois irmos diretamente ao ponto: o que seria uma “reta biológica evolutiva” e seu desenvolvimento ao longo da história da etnologia.

Ao longo da história, a etnobiologia evolutiva teve várias definições. Uma delas propõe que seja o estudo dos sistemas taxonômicos encontrados em diversas culturas. Outra definição relaciona-se ao estudo das interações entre os seres vivos, sistemas culturais e sociedades passadas e presentes. Há ainda uma definição que abarca o estudo do conhecimento, classificações e inter-relações estabelecidas entre um grupo social ou cultural e os seres vivos que os cercam. Podemos ainda considerar a etnobiologia como uma ponte de compreensão cultural entre culturas distintas, ou ainda como uma perspectiva que busca compreender todas as dimensões da diversidade biológica e cultural, a partir de uma abordagem ética e solidária.

Observe que, nesse quadro, coloquei as palavras utilizadas, como conhecimento, classificação, inter-relações sociais, cultura, dentre outras. Eu, particularmente, tenho uma definição um pouco mais abrangente. A etnobiologia pode ser entendida como o estudo das inter-relações entre os seres humanos e o ambiente que os circunda. Essa definição envolve tanto os componentes bióticos quanto abióticos desse ambiente. É uma definição que considera fatores culturais, geográficos, espaciais e temporais como objeto de estudo da etnobiologia.

Quando a gente parte dessa definição, concluímos que a etnobiologia se interessa por estudar os seres humanos e sua relação com o ambiente, considerando essas diferentes relações. No Brasil, há uma busca por entender essas distintas dimensões das relações que estabelecemos com o ambiente, como nossa percepção e conhecimento sobre o ambiente, que variam ao longo do tempo e do desenvolvimento humano. A forma como nos relacionamos com o meio ambiente se altera e se transforma ao longo da história, conforme o conhecimento e as percepções que desenvolvemos. Essas relações são extremamente dinâmicas e pautadas em diferentes componentes e dimensões sociais, culturais, econômicas e tecnológicas.

Nesse sentido, a etnobiologia procura dar conta desse contexto amplo. Ela é uma disciplina formada pela junção e contribuições teóricas e metodológicas de diferentes disciplinas. Algumas disciplinas que contribuem para a etnobiologia são economia, história, psicologia, antropologia e biologia, entre outras. O olhar que será colocado para entender essas relações entre o ser humano e a natureza vai depender da formação e das lentes do pesquisador. É importante destacar que a etnobiologia não exclui outros olhares, mas busca somar-se a eles para enriquecer o debate.

Ao olharmos para essa rede, podemos perceber que a etnobiologia evolutiva se associa a diferentes disciplinas. No campo da etnobiologia evolutiva, algumas disciplinas são chave para contribuir com o entendimento da nossa relação histórica e evolutiva com a natureza. Dentre essas disciplinas, podemos citar a psicologia ambiental, a psicologia evolutiva, a ecologia comportamental humana, a teoria da evolução cultural e a genética, entre outras. Essas disciplinas contribuem para a compreensão da nossa relação ambiental a partir de abordagens ecológicas e evolutivas.

Dentro da etnobiologia evolutiva, existem conceitos centrais que serão explicados com mais detalhes nas próximas aulas do curso. Um desses conceitos é a causalidade recíproca, que significa dizer que não apenas interagimos com os outros elementos do ambiente, mas também influenciamos esses elementos e somos influenciados por eles. Um exemplo interessante dessa influenciação é a domesticação de plantas e animais. Nossas ações de domesticação alteram as espécies, tanto do ponto de vista ecológico quanto evolutivo, para atender às nossas necessidades.

Outro conceito importante é o de construção de nichos. Nós, seres humanos, somos os maiores construtores de nichos do planeta. Isso significa que somos capazes de alterar o ambiente para atender às nossas necessidades. Essa capacidade de construção de nichos tem implicações evolutivas não só para nossa espécie, mas também para outras espécies que são afetadas pela nossa atividade. Essas implicações serão abordadas com mais detalhes na aula 4, sobre a evolução biocultural.

Além desses conceitos, a etnobiologia evolutiva também se interessa pela circulação de informações. Estamos falando de sistemas socioecológicos, que tratam da união dos sistemas sociais e culturais com os sistemas ecológicos. Dentro desses sistemas, circulam informações sobre os traços bioculturais, ou seja, as informações que são transmitidas entre os pares de uma mesma comunidade ou entre comunidades de vida. Essa transmissão de informações culturais sobre a natureza é fundamental e faz parte da abordagem cognitiva dentro da etnobiologia evolutiva.

Outro conceito importante é o da mente naturalista. A mente naturalista é a mente humana, que foi moldada ao longo da história evolutiva da nossa espécie. Essa mente naturalista envolve diferentes mecanismos ou processos cognitivos que se relacionam para compreender a natureza, percebê-la, entender como funciona e construir conhecimento sobre ela. A etnobiologia evolutiva busca compreender como esses mecanismos cognitivos se relacionam com a nossa relação com a natureza.

Essa abordagem cognitiva dentro da etnobiologia evolutiva possibilita entender como a informação biocultural é armazenada, organizada, transmitida, modificada e recebida. Isso é fundamental para compreender as práticas e os conhecimentos das diferentes comunidades sobre a natureza. É importante destacar que a mente naturalista é complementar aos olhares mais clássicos da etnobiologia, como o olhar antropológico e sociológico. Esses olhares podem ser conjugados com a abordagem da etnobiologia evolutiva para enriquecer o debate.

Ao longo dos últimos anos, diversos estudos têm sido publicados mostrando como diferentes disciplinas podem contribuir para a etnobiologia evolutiva. Um exemplo clássico são os estudos sobre a evolução gene-cultura, que exploram como as ações humanas sobre a natureza podem reverberar em nós mesmos. Além disso, outros estudos demonstram como as transformações ambientais podem influenciar as práticas médicas tradicionais e os sistemas de conhecimento local.

Enfim, a etnobiologia evolutiva busca compreender a nossa relação com a natureza a partir de uma abordagem ecológica e evolutiva. Ela traz novas perguntas e hipóteses para compreender a dinamicidade desse relacionamento e não exclui outras abordagens da etnobiologia, mas busca somar-se a elas. Através da etnobiologia evolutiva, podemos pensar de forma ecológica sobre nossa relação com o ambiente e compreender fenômenos atuais relacionados a essa relação. É um campo novo com grandes possibilidades e que se articula com disciplinas mais antigas e estabelecidas.

Espero que tenham gostado dessa introdução sobre o que é a etnobiologia evolutiva. Nas próximas aulas, aprofundaremos os principais conceitos e ideias que foram mencionados aqui.

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