Estudos comprovam que CoronaVac garante proteção elevada em idosos e imunossuprimidos
Para os cientistas da USP Paulo Lotufo e Gustavo Cabral, que atuam no combate a doenças infecciosas, a CoronaVac garante proteção elevada e desconsiderá-la no combate à Covid-19 é um erro
A CoronaVac, vacina do Butantan e da Sinovac, é segura e eficaz não só para crianças e adultos, mas também para a população idosa. Na faixa etária acima de 60 anos, o imunizante protege em mais de 90% contra hospitalizações e mortes pela Covid-19, e aumenta em até quatro vezes a produção de anticorpos e em mais de nove vezes a capacidade neutralizante contra o SARS-CoV-2 após a terceira dose.
A CoronaVac garante proteção elevada e desconsiderá-la no combate à Covid-19 é um erro. É o que mostram pelo menos sete estudos científicos realizados ao redor do mundo, com dados de situação epidemiológica no mundo real (efetividade), de ensaios clínicos controlados (eficácia) e do Ministério da Saúde.
Em um trabalho conduzido na China, pessoas acima de 60 anos que tomaram a dose de reforço após oito meses da segunda dose apresentaram um aumento de 3,7 vezes na concentração de anticorpos neutralizantes, indicando que uma dose de reforço da CoronaVac pode fornecer imunidade de longa duração e níveis elevados de proteção.
Outro estudo chinês mostrou que os anticorpos neutralizantes em idosos permanecem em níveis elevados mesmo após seis meses da dose de reforço. No Chile, um estudo clínico de fase 3 entre maiores de 60 anos mostrou que a dose de reforço de CoronaVac provocou um aumento de mais de nove vezes na capacidade neutralizante contra o vírus em relação à resposta observada cinco meses após a segunda dose.
Além disso, a maior pesquisa sobre a efetividade das vacinas contra a Covid-19 no Brasil, feita com 60 milhões de pessoas vacinadas entre janeiro e junho de 2021, comprovou que o esquema vacinal primário de CoronaVac (ou seja, formado pelas duas primeiras doses) imuniza idosos contra a doença.
A proteção foi de 84,2% contra hospitalizações, 80,8% contra internações em UTI e 76,5% contra mortes. O estudo foi baseado nos dados nacionais do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), do Ministério da Saúde, que reúne os casos notificados de hospitalizações e mortes causadas por vírus respiratórios, como é o caso do SARS-CoV-2.
O epidemiologista Paulo Lotufo, professor titular de clínica médica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), lembra que a efetividade de uma vacina é mostrada pelos estudos de vida real, ou seja, conduzidos na população fora de ambientes controlados. “Os estudos de efetividade explicam por que a incidência de Covid-19 nos países que utilizaram CoronaVac não foi alta depois da vacinação, na comparação com países onde a vacina não foi aplicada”, aponta o especialista.
Para Lotufo, que é assessor do Centro Brasileiro de Classificação de Doenças do Ministério da Saúde e diretor do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP, a resistência à CoronaVac por parte da população brasileira se deve a questões comerciais e políticas, embora a eficácia e segurança da vacina tenham sido amplamente comprovadas.
Efetividade em idosos melhor do que nos mais novos
Os resultados do Projeto S, estudo de efetividade da CoronaVac conduzido em Serrana-SP pelo Butantan, mostraram que a CoronaVac garante proteção elevada em idosos foi ainda maior do que nas outras faixas etárias, com proteção de 86,4% para casos sintomáticos, 96,9% contra hospitalizações e 96,9% contra mortes.
Já a eficácia na população geral foi de 80,5%, 95% e 94,9%, respectivamente. Além disso, seis meses após a administração da segunda dose, as taxas de soroconversão em todas as idades se mantiveram acima de 99%. Em relação à dose de reforço, as análises do Projeto S apontaram que a administração da terceira dose da CoronaVac em idosos aumentou de duas a quatro vezes seus níveis de anticorpos neutralizantes.
CoronaVac garante proteção elevada e desconsiderá-la é um erroSegundo o imunologista Gustavo Cabral, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), o trabalho conduzido em Serrana é o que os cientistas chamam de “estudo ideal” – feito com uma população inteira em um ambiente que não é controlado a ponto de evitar contatos e possibilidades de infecção. Cabral é pós-doutor pela Universidade de Oxford, onde foi desenvolvida a vacina da AstraZeneca, e estuda novos imunizantes contra o SARS-CoV-2.
“Com um trabalho científico dessa magnitude e todas essas evidências, desconsiderar uma vacina como a CoronaVac na terceira dose é um erro. A melhor arma contra qualquer doença infectocontagiosa é a imunização”, diz Gustavo. Nesse contexto, Paulo Lotufo acrescenta que a discussão sobre uma menor efetividade da CoronaVac em idosos foi decorrente de um viés de análise. “Acredito que os resultados de Serrana são bem mais consistentes”, aponta.
Mais estudos que atestam a efetividade do imunizante em todas as faixas etárias estão listados no Dossiê CoronaVac, um documento de mais de 700 páginas lançado pelo Butantan em janeiro e disponível no site butantan.gov.br.
Tecnologia de vírus inativado
É importante destacar que a CoronaVac é produzida utilizando uma das tecnologias mais difundidas e aceitas do mundo, a de vírus inativado. “É uma estratégia muito bem estabelecida. Os dados apenas mostram o que nós, cientistas, já prevíamos: que a CoronaVac serve para o que ela foi feita, para proteger contra hospitalização, estado grave e morte”, afirma o pesquisador Gustavo Cabral.
A diretora de inovação do Instituto Butantan, Ana Marisa Chudzinski-Tavassi, lembra que o fato da CoronaVac ser feita com vírus inativado significa que esse microrganismo não tem mais capacidade de se replicar, ou seja, de causar doença.
“Isso, por si só, já é um fator de segurança muito grande”, resume. O diretor de produção do Butantan, Ricardo Oliveira, ressalta que o imunizante contém o vírus inteiro, não só a proteína S, como muitas vacinas em uso no mundo atualmente. “Toda a estrutura do vírus colabora para a imunização, que é mais complexa e mais completa do ponto de vista de imunogenicidade”, explica ele.
Outro fator importante relacionado à tecnologia é que as vacinas de vírus inativado promovem uma memória imunológica mais sustentável e duradoura no organismo. Um estudo científico publicado por pesquisadores chineses do Centro de Controle e Prevenção de Doenças e da Universidade Médica Capital, ambos de Pequim, evidenciou que a resposta imune humoral e celular induzida pela CoronaVac permanece por um ano no organismo.
Vale ressaltar que nenhuma vacina impede que uma pessoa seja infectada pelo coronavírus, mas sim reduz consideravelmente o risco de doença grave e morte. Além disso, qualquer vacina gera uma resposta imune menor em pessoas mais idosas, porque o seu organismo responde menos aos patógenos do que os dos jovens. Essa característica não tem relação com a eficácia da vacina em si, mas com a senescência natural do sistema imunológico.
CoronaVac também protege pessoas com comorbidades
CoronaVac garante proteção elevada, além dos idosos, os pacientes imunossuprimidos, com diabetes, problemas cardiovasculares ou câncer, entre outras comorbidades, são os que correm mais risco de evoluir para um caso grave ao serem infectados pelo coronavírus. Estudos conduzidos nessas populações com a CoronaVac comprovam que ela é segura e confere proteção necessária contra a Covid-19.
Na Turquia, um estudo mostrou que a vacina do Butantan induz a produção de anticorpos em 63,8% dos pacientes em tratamento contra o câncer – a imunogenicidade chegou a 100% em quem estava recebendo apenas anticorpo monoclonal ou imunoterapia como medicação. Não foram observados efeitos adversos graves. Em uma segunda pesquisa turca, a taxa de soroconversão da CoronaVac em pacientes com câncer chegou a 85,2%, com altos títulos médios de anticorpos neutralizantes.
Outros trabalhos mostraram que a vacina é segura e gera anticorpos em 100% dos pacientes com doença hepática gordurosa associada ao metabolismo (DHGM), 87% dos pacientes com hepatite B, 64,9% dos indivíduos com miopatias autoimunes sistêmicas e em 70,4% dos imunossuprimidos com doenças reumatológicas.
Da Assessoria
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