Duna e ficção científica chinesa

 Duna e ficção científica chinesa

Imagem de divulgação do filme “Terra à deriva”.

 

 

A política em Duna e ficção científica chinesa foram temas abordados pelo professor, escritor e tradutor Fábio Fernandes no programa InterD – música e conhecimento

 

Por AD Luna

Nos últimos anos, a China tem vivido um notório e veloz crescimento científico. De acordo com matéria publicada, em dezembro de 2021, pela Folha de S. Paulo, o gigante asiático ultrapassou os Estados Unidos e lidera a produção mundial de ciência pela primeira vez. Paralelamente a isso, a ficção científica chinesa também vem se expandido.

Convidado pela segunda vez do programa InterD – música e conhecimento, o professor da PUC-SP, escritor e tradutor Fábio Fernandes falou sobre o tema, seu curso de “Ficção Científica no Campo Político” e clássicos do gênero como “Duna”.

Fernandes é autor de livros como “Back in the USSR”; “Construção do imaginário Cyber”; “Os Dias da Peste”; “No Tempo das Telas”. Ele traduziu dezenas de clássicos da ficção cientifica, como “Laranja Mecânica”; “Neuromancer’; “A era das máquinas espirituais”; “Fundação”, entre outros.

Clique aqui para ter acesso a obras produzidas por Fábio Fernandes.

De acordo com ele, o “Curso de Ficção Cientifica no Campo Político” nasceu de uma indagação de uma amiga, que disse não acreditar que a ficção cientifica pudesse nos dar uma visão politizada das coisas.

“Achei engraçado porque ela é uma ativista, já trabalhou com o MST, tem nível universitário. É uma pessoa muito inteligente e de muita leitura. Mas, de alguma maneira, nunca travou contato com ficção científica literária”, relembra Fábio, que também mantém um canal sobre ficção científica no YouTube, o Terra Incognita.

Política em “Duna” e ficção científica chinesa com Fábio Fernandes #13

Ouça “Política e ficção científica chinesa com Fábio Fernandes #13” no Spreaker.

Em seguida, Fábio Fernandes indagou se ela havia lido obras como “Admirável mundo novo”, “1984”, “Farenheit 451”, “Laranja mecânica”, que são grandes distopias já lançadas no Brasil e que são ficção científica.

A resposta negativa da amiga não o desanimou. Pelo contrário, serviu de estímulo e motivação para que ele criasse um curso – o qual inicialmente foi oferecido de maneira presencial, em uma livraria em São Paulo. O dono ficou encantado com a ideia e o curso lotou.

Quando veio a pandemia, Fábio resolveu criar uma versão on-line na plataforma Hotmart. Tempos depois, ele também ofereceu o curso no formato de aulas ao vivo, via internet.

Duna e a ficção científica chinesa
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Cena do filme “Duna”. Warner Bros/Divulgação

Ficção científica e a política em Duna

Lançado, este ano, como obra audiovisual nos cinemas e no canal de streaming da HBO Max, a versão em livro de “Duna”, do escritor Franz Herbert é exaltado por Fábio Fernandes como um grande exemplo do cruzamento entre política e ficção científica.

O filme “Duna” tem à frente o canadense Dennis Villeneuve. O mesmo diretor de “A chegada” e “Blade Runner 2049”. Em 1984, o americano David Lynch também lançou sua versão cinematográfica, a qual recebeu opiniões negativas da crítica e dos fãs da obra escrita.

O enredo mostra que, no ano de 10191, a humanidade se espalhou pelo universo, sendo governada por um regime feudal.

“O livro traça uma relação explicita de poder. Ele começa, inclusive, com uma disputa entre casas nobres, pelo controle do planeta completamente desértico Arrakis, que é apelidado de Duna”, explica Fernandes.

No planeta Duna é encontrada a “mélange”, comumente chamada de especiaria. A substância possui diversas propriedades que vão desde poderes proféticos a combustível para que naves espaciais consigam viajar rapidamente por diversos pontos do cosmos. Inclusive, uma das frases-chave do livro é: “Quem controla a especiaria, controla o universo”.

Trailer legendado de “Duna”

Duna influenciou diversas outras criações, a exemplo de “Star Wars” (“Guerra nas estrelas”). A obra de George Lucas, inclusive, também é citada por Fábio Fernandes como tendo elementos políticos.

“É anti-imperialista, ou pelo menos tenta ser, mostrando a luta dos rebeldes contra o império fascista. Na primeira trilogia, isso está claro. Na segunda e na terceira fica ainda mais explicito”, expõe.

Ainda na esteira de obras mais populares da ficção científica, Fábio também cita “Star Trek” (“Jornada nas Estrelas”). Para ele, a sociedade ali retratada seria pós-capitalista, socialista. “Ou comunista mesmo, conforme se brinca hoje em dia. O comunismo luxuoso, automatizado”, diz.

Outro clássico recomendado por Fernandes é o já citado “Farenheit 451” (1953). A criação de Ray Bradbure apresenta um futuro distópico no qual as pessoas são proibidas de ler livros. Bombeiros são incumbidos de incendiar de incendiá-los, pois livros fazem pensar e isso é perigoso.

“Fahrenheit 451” ganhou uma versão cinematográfica, em 1966, dirigida por François Truffaut, com trilha sonora de Bernard Herrmann, compositor favorito de Alfred Hitchcock. A HBO lançou uma releitura em 2018, a qual não é vista com muito entusiasmo por Fábio. “Prefira a de Truffaut”, recomenda.

Ficção científica na China

A China vem passando por um acelerado processo de avanço tecnológico e científico inclusive na exploração espacial. O país asiático possui, por exemplo, sua própria estação espacial. Seria possível então articular, de alguma forma, essa aceleração com a ficção científica produzida por chineses?

“Há pouco mais de duas décadas, mais ou menos, a ficção científica começou a ser incentivada na China. Antes, havia uma restrição muito grande do Partido Comunista em permitir que as pessoas lessem ficção científica, considerada como coisa americana”, conta Fábio.

Fernandes relata que, como parte de uma série de programas de intercâmbio, o escritor inglês Neil Gailman esteve na China. Lá ele teve a oportunidade de conversar com um dos ministros ligado a uma ação de ciência e tecnologia, que apoiava e incentivava escritores chineses de ficção científica.

Gailman perguntou ao dirigente por que a China passou a apoiar a ficção científica, antes classificada como alienante. A resposta é que eles perceberam que praticamente todos os cientistas de ponta do país haviam lido e se inspirado em leituras do gênero na adolescência, mesmo de maneira clandestina.

A partir daí, os dirigentes chineses passaram a incentivar a leitura e a escrita de ficção científica para formação de novas gerações de cientistas.

Entre alguns autores e obras, Fábio Fernandes cita Cixin Liu e sua obra “O problema dos três corpos”, que possui versão traduzida no Brasil. Chen Qiufan, com seu livro “Waste Tide”. E Hao Jingfang, autora que ganhou o Hugo de Melhor Noveleta em 2016 por “Folding Beijing”. Esta história pode ser lida neste link.

Terra à deriva

Baseado no conto “The wandering Earth” (2000), de Liu Cixin, o filme “Terra à deriva” foi lançado em fevereiro de 2019 na China. A obra está disponível no catálogo nacional da Netflix.

O enredo apresenta um futuro no qual o Sol está prestes a se tornar uma gigante vermelha, obrigando as nações do planeta a criarem um governo mundial – a Terra Unida -, que desenvolve um grandioso projeto de transferência da Terra para um outro sistema solar, Alpha Centauri.

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