Seis entre dez doenças infecciosas têm origem em animais, mas ação humana facilita sua proliferação

 Seis entre dez doenças infecciosas têm origem em animais, mas ação humana facilita sua proliferação

Mulher interage com pangolim. Imagem de Alex Strachan por Pixabay

 

É importante saber diferenciar o conceito de um vírus escapar do laboratório da teoria da conspiração de que o vírus tenha sido fabricado em laboratório

Em revisão sistemática, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) revelam que 75% das doenças infecciosas, como a Covid-19, são derivadas de microrganismos que originalmente circulavam em espécies de animais selvagens e “saltaram” para os seres humanos. A proliferação dessas doenças entre os seres humanos, no entanto, é facilitada pelas ações humanas. O estudo, que traz reflexões sobre como prevenir o salto de patógenos entre espécies, está publicado na revista “Genetics and Molecular Biology”.

Os autores revisaram estudos científicos em inglês sem restrição de ano de publicação a partir das principais bases de dados das áreas de medicina e biologia do PubMed/MEDLINE,  SciELO e Google Scholar. Os termos buscados foram  “spillover”, “zoonotic spillover”, “pathogen spillover”, “host jump”, “cross-species transmission” e “zoonotic transfer”.

“Embora o salto de patógenos de uma espécie de animal selvagem para outra e, posteriormente, para humanos seja comum, segundo mostram os dados, é raro que esses eventos levem a uma situação epidêmica”, explica José Artur Bogo Chies, co-autor do estudo.

No caso da pandemia de Covid-19, o vírus Sars-Cov-2 se adaptou ao ser humano, com grande poder de transmissibilidade, o que reforça o papel da ação humana na cadeia de disseminação do vírus.

“Podemos citar os casos de Influenza, cujo salto para a espécie humano foi favorecido pela criação de aves e suínos em um mesmo ambiente, ao longo da evolução humana”, exemplifica.

Teoria da conspiração

No caso da Covid-19, a principal hipótese é que o Sars-CoV-2 surgiu do morcego, conforme demonstram as análises de sequências genéticas do vírus, mas que alguma espécie, como os pangolins, agiu como intermediária para a infecção.

A carne dos pangolins é comumente consumida na China e pode ter havido contaminação ao manusear ou se alimentar deste mamífero. Outra possibilidade é que esta variante do coronavírus estivesse em estudo e, acidentalmente, tenha escapado do controle laboratorial. Porém, é importante saber diferenciar o conceito de um vírus escapar do laboratório da teoria da conspiração de que o vírus tenha sido fabricado em laboratório”, alerta.

Interação entre humanos com as espécies animais e o meio ambiente

Bogo Chies reforça que o salto de espécies zoonótico de doenças infecciosas é altamente conectado com a forma como os humanos interagem com as espécies animais e o meio ambiente. Por isso, a preservação da biodiversidade se faz necessária para controlar os riscos de surgimento de potenciais patógenos para a espécie humana.

“Com esse controle, potenciais patógenos seriam encontrados em pequenas quantidades e em seus hospedeiros usuais, com menor risco de transmissão”, comenta.

Outro problema, aponta o pesquisador, é o uso excessivo de antibióticos ou drogas antivirais, inclusive no campo veterinário, o que favorece uma seleção de micro-organismos que se tornam resistentes. Protocolos de segurança na cadeia produtiva de alimentos de origem animal podem ajudar a diminuir os riscos ao manter os animais em ambientes livres de infecção e disseminação de vírus, com medidas de vigilância, controle, teste e eliminação dessas doenças não humanas.

Fonte: Agência Bori

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