Por AD Luna
Direitos Humanos, um tema muito falado e pouco compreendido. Na edição de número 2, o Interdependente – música e conhecimento recebeu o jornalista e militante pernambucano Ivan Moraes Filho. Além de falar a respeito da história e das características dos DH, também comenta sobre a ameaça dos fundamentalismos diante das liberdades individuais.
As atrações musicais deste programa foram selecionadas pelo próprio Ivan Moraes. Você vai ouvir “Liberdade”, de Edson Gomes, clássico de nove entre cada dez protestos realizados no Recife; vai conhecer um pouco da história do regueiro baiano. Outra canção em destaque é “Toda vez que eu dou um passo, o mundo sai do lugar”, de Siba.
Leia trechos da entrevista
A gente costuma ouvir por aí, ou ler na internet, naquelas caixas de comentários de portais e nas redes sociais pessoas afirmando que Direitos Humanos é para proteger bandido, e não os “cidadãos de bem”. O que você poderia falar a respeito disso?
O que precisamos sempre ressaltar é que a construção histórica dos Direitos Humanos é uma construção do direito para todas as pessoas. É ser humano? Plim! Tem direito à educação, à cultura, ao trabalho, moradia, acesso à água, à soberania alimentar, tem direito a todas essas coisas que fazem com que a gente possa viver de forma plena.
Seja lá quem for a pessoa, independente que quem seja: polícia, político, empregada doméstica, médica, engenheira, jardineiro, motorista… Todas as pessoas que hoje vivem no nosso mundo precisam ter todos os seus direitos garantidos. A nossa luta sempre foi pra isso.
Quais são os principais problemas enfrentados pelas minorias, negros, mulheres, no que se refere aos direitos humanos?
A própria necessidade do esclarecimento sobre o que são os Direitos Humanos já diz pra gente o quanto a gente precisa discutir sobre isso. Naturalmente, numa sociedade machista, racista, patriarcal, capitalista que a gente vive os segmentos historicamente excluídos da sociedade são aqueles que menos têm seus direitos garantidos.
Estamos falando do povo negro, da comunidade de terreiro, da comunidade LGBT, das mulheres, das pessoas do subúrbio, das pessoas que estão no trabalho informal. (…) Enquanto essa população não tiver vez e voz, enquanto todos esses segmentos da sociedade não puderem discutir com o mesmo poder, com o mesmo status, com a mesma possibilidade de mudança, como seus direitos devem ser garantidos, enquanto isso não for possível, a gente não vai ter construído aqueles Direitos Humanos que vão servir a toda sociedade.
De que forma o crescimento do fundamentalismo religioso atinge questões relacionadas aos Direitos Humanos?
Isso pode significar (não quer dizer que vá necessariamente acontecer) um possível retrocesso em toda nossa caminhada civilizatória. Pra mim, o grande perigo do crescimento fundamentalista que a gente observa – não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro – é quando ele se coloca como adversário das construções históricas que nós realizamos enquanto sociedade.
Quando eles vêm negar direitos, negar as possibilidades de igualdade entre as pessoas, negar a importância de um Estado laico, onde todas as religiões podem conviver em paz. Quando as religiões começam a se meter nesse Estado, a gente percebe que existe um problema que precisa enfrentado.
E como podemos tratar disso, sem desrespeitar o direito de crença de cada um?
Num Estado laico, todas as religiões precisam ser respeitadas (evangélica, as de matriz africana, espiritismo), inclusive a não-religião: o direito daquelas pessoas, ateus ou agnósticos, que resolvem ou decidiram que a religião não é uma parte de suas vidas.
É preciso que cada um de nós compreenda que nossa religião não extrapole os limites da nossa própria religião. Não posso impor minha fé sobre outras pessoas, não posso impor aquilo no que acredito enquanto religiosidade para outras pessoas que vivem no mesmo Estado que eu.
Ouça “Direitos Humanos e fundamentalismo com Ivan Moraes #2” no Spreaker.
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