O tema dos cuidados paliativos foi abordado de maneira equivocada no Senado Federal, gerando reação de especialistas que apontam a necessidade de melhorar informações sobre o tema
Confundir cuidados paliativos com a eutanásia é um erro técnico que dificulta o entendimento de pacientes e familiares e pode prejudicar boas práticas médicas que geram bem estar e aumentam o tempo de vida de pessoas com doenças graves. Declarações dadas por senadores na CPI da Covid, em Brasília, confundiram a sociedade em relação aos conceitos dos cuidados paliativos, como algo que se limita a pacientes terminais nos seus últimos momentos de vida.
A médica Maitê Dahdal, especialista em medicina de Família e Comunidade pela Unicamp e coordenadora de pós-graduação na Sanar, esclarece que tais práticas são um conjunto de cuidados ofertados por uma equipe multidisciplinar a uma pessoa que sofre de uma doença ameaçadora à continuidade da vida.
Esses cuidados têm o objetivo de promover qualidade de vida, bem-estar e aliviar sofrimento físico, psicológico, espiritual e social.
“A pessoa e sua família são protagonistas do cuidado e não a doença em si. De forma equivocada essa prática tem sido compreendida como abreviação do tempo de vida, que tem outro nome: a eutanásia, proibida por lei no Brasil”, explica.
O tema ganhou ainda mais relevância quando familiares de pacientes acusaram equipes médicas de fazerem uso dos cuidados paliativos como forma de economizar custos em detrimento de outras opções de tratamento.
Associar os cuidados paliativos exclusivamente com a morte é um desserviço em todos os sentidos.
“Em geral, eles devem ser iniciados de forma precoce, junto com as terapias modificadoras da doença em fase inicial. Com o tempo, haverá uma maior proporção dos cuidados paliativos em relação aos cuidados modificadores da doença e mais a frente os cuidados paliativos podem ser exclusivos”, afirma Maitê.
Na prática, um paciente com uma doença grave deve inicialmente ter sua situação analisada pela equipe médica, com uma avaliação para saber se ainda há terapias que podem modificar o estágio da doença, e se sim, qual o impacto que elas podem trazer à qualidade de vida do paciente.
“Em um exemplo prático, um paciente idoso, já com demência em estado avançado, sem possibilidade de reversão do quadro, é possível identificar quais sintomas vem sendo apresentados – físico, psicológico, espiritual e até social, e em conjunto com familiares propormos o alívio dos mesmos. É essencial ter a família próxima, aumentando as redes de apoio e protegendo o paciente de intervenções desnecessárias”, explica a médica especialista em Medicina de Família.
Os cuidados paliativos são oferecidos em diversas modalidades de serviços públicos e privados no país. No SUS, em especial no ambiente domiciliar, existe o programa melhor em casa e um dos objetivos dele é ofertar os cuidados paliativos. Maitê atua diariamente nesta rotina, visitando e cuidando de pacientes deste perfil no interior de São Paulo.
“Há em diversos hospitais públicos de referência no país enfermarias e serviços especializados em cuidados paliativos. No geral ainda são poucos profissionais capacitados em prover esses cuidados e há uma tendência de expansão de especialistas no assunto e de condições de capacitação de todos os profissionais de saúde sobre o tema, para que possam indicar, acompanhar e também prover esses cuidados”, finaliza.
Maitê Dahdal
Médica pela Universidade Cidade de São Paulo; especialista em Medicina de Família e Comunidade pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); professora e coordenadora da pós-graduação em Medicina de Família e Comunidade da Sanar/UniAmérica; pós-graduanda em cuidados paliativos pela UnyLeya. Médica assistente do programa de atenção domiciliar e atenção primária da Unimed Amparo.
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