Cientistas usam fibras da planta para criar novo filtro de proteção em máscaras

 Cientistas usam fibras da planta para criar novo filtro de proteção em máscaras

Cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte desenvolveram um filtro sustentável e biodegradável para máscaras descartáveis, feito de fibras naturais de Kapok e PVAc

Cientistas da UFRN desenvolveram um filtro sustentável e biodegradável para máscaras descartáveis, feito de fibras naturais de Kapok e PVAc. O filtro é eficiente, de baixo custo e reduz o impacto ambiental em comparação com os materiais sintéticos tradicionais

Com processamento simples e amostras de protótipo produzidas, um grupo de três cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolveu um produto sustentável e biodegradável para ser utilizado como filtro de máscaras descartáveis. Produzido a partir da combinação de fibras naturais de Kapok, uma planta abundante no RN que não necessita de cuidados especiais e não é comestível, e PVAc, um tipo de polímero atóxico e biodegradável, o filtro tem como vantagem um processamento de baixo custo de produção e complexidade.

Orientadora da dissertação que resultou na nova tecnologia,  Salete Martins Alves explica que os filtros de máscaras cirúrgicas tradicionais são materiais desenvolvidos para evitar a inalação de substâncias tóxicas, além de reter gotículas e proteger o usuário de agentes biológicos, como vírus, bactérias e fungos. Ela pontua que eles consistem em um emaranhado de microfibras sintéticas que foram tratadas e dispostas em camadas, proporcionando longa durabilidade na natureza. Além disso, são comumente utilizadas por profissionais da área da saúde ou enfermos em condições de transporte.

“As máscaras são descartáveis e devem ser substituídas sempre que houver algum dano, como um rasgo e furo, ou ainda sujeira. Também requerem maquinários muito caros e alto consumo de energia em seu processo de fabricação, ao contrário da fibra de kapok que utilizamos na invenção, a qual pode ser cultivada em terras não adequadas para fins agrícolas, sem intervenção do homem e sem uso de substâncias nocivas ao ambiente de aplicação, utilizando matrizes biodegradáveis e solúveis em água. Tudo isso alcançando a mesma eficiência que os produtos tradicionais”, identifica a docente da Escola de Ciência e Tecnologia (ECT).

Kapok é uma fibra celulósica natural obtida a partir do fruto da sumaúma, uma árvore comumente encontrada em regiões de clima tropical. A fibra é extraída das flores da planta, que são similares a pequenas cápsulas que aparecem em algumas estações. Ela pode ser removida das cápsulas enquanto estão na árvore ou depois de caírem naturalmente. Com características antimicrobiana, hidrofóbica, hipoalergênica e atóxico, o uso da fibra kapok e seu potencial como novas modificações de superfícies têxteis ainda é novidade no mercado. É o que pontua Isabela Silva Sampaio, na época estudante do Programa de Pós-graduação em Engenharia Têxtil. Ela salienta que podem ser atrelados à fibra produtos para o isolamento térmico, barreiras contra óleo e aerossóis, enchimento para estofados e travesseiros, permitindo que a engenharia têxtil forneça sugestões adicionais.

Além de Salete e Isabela, também é autora da descoberta científica Íris Oliveira da Silva, professora do Departamento de Engenharia Têxtil e co-orientadora do estudo. O trio salienta que o produto apresenta eficiência de filtragem bacteriológica acima de 95% e eficiência de filtragem e partículas acima de 98%. Segundo as pesquisadoras, o filtro é projetado para reduzir o uso de compostos químicos, mantendo a qualidade do produto e minimizando os resíduos da indústria têxtil. “Dessa forma, há, então, uma oportunidade de estudo para um potencial material sustentável no mercado têxtil, haja vista que reduz significativamente o impacto ambiental em comparação com os filtros descartáveis convencionais”, coloca Íris Oliveira.

O material utilizado atualmente é de polímeros termoplásticos sintéticos, como é o caso do polipropileno (PP), bem como do polietileno (PE) e do polietileno tereftalato (PET), materiais com baixa biodegradabilidade e disposição irregular, atributos que trazem danos ao meio ambiente. “Conseguimos mostrar a viabilidade de produzir um não tecido à base de fibras naturais com propriedades mecânicas, físicas e microbiológicas adequadas para aplicações como elemento filtrante. Como o material apresentou uma boa maleabilidade e ação antibacteriana, estamos buscando viabilizar um projeto para utilizá-lo como curativo com aplicação controlada de fármaco”, coloca Salete Alves.

A proteção da nova tecnologia aconteceu no mês de abril, a partir de um depósito de pedido de patente feito pela UFRN junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), denominado Filtro para máscara cirúrgica de fibra Kapok e PVAc. Na UFRN, cabe à Agência de Inovação da Reitoria (Agir) propiciar o suporte aos inventores durante o pedido de patenteamento. O início de tudo é feito pelo Sigaa, na aba pesquisa, no item notificação de invenção.

“Aqui na agência damos um suporte nesse aspecto, bem como intermediamos participações de pesquisadores em mentorias do INPI. O apoio que oferecemos aos alunos, docentes e pesquisadores abrange orientações sobre o que pode ou não ser patenteado, de acordo com a lei 9.279/96, em seus artigos dez e dezoito. Além disso, há o apoio para realizar a transferência da tecnologia desenvolvida para empresas interessadas na sua comercialização. Mesmo as tecnologias que não puderem ser patenteadas, podem ser transferidas por meio do licenciamento de know-how, conceito que abrange uma reunião de experiências, conhecimentos e habilidades voltadas à produção de um produto ou artefato”, lista o diretor da Agência de Inovação (Agir) da UFRN, Jefferson Ferreira de Oliveira.

Ele acrescenta que a unidade conta com a parceria dos inventores para a proteção dos ativos de propriedade industrial, aproveitando as listas de contatos dos cientistas e o natural conhecimento nas áreas tecnológicas em que atuam, o que os coloca em uma situação privilegiada na identificação de potenciais licenciados. “A AGIR irá trabalhar para expandir a rede de relacionamentos nas áreas de interesse da UFRN, por meio do cultivo de uma boa relação com os parceiros e licenciados existentes, networking pessoal, pesquisas de mercado, eventos do setor, entre outras ações”, frisa Jefferson de Oliveira.

A UFRN mantém uma vitrine tecnológica com todos os pedidos de patentes e as concessões já realizadas, bem como com os programas de computador que receberam registro do INPI. A lista está disponível para acesso e consulta no site da Agência de Inovação (Agir) (www.agir.ufrn.br), mesmo local em que os interessados obtêm informações a respeito do processo de licenciamento.

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