Cientistas Brilhantes: site resgata histórias de mulheres na ciência

 Cientistas Brilhantes: site resgata histórias de mulheres na ciência

Com a criação do website Cientistas Brilhantes, muitas meninas poderão se inspirar em modelos femininos

Por Júlia Massucato Silva*
Arte: Joyce Tenório**
Jornal da USP

Inspirada pela ausência de modelos femininos durante seu ensino escolar, a mestranda Beatriz Ribeiro Zanon decidiu criar o site Cientistas Brilhantes. Seu objetivo foi divulgar as histórias e a contribuição de cientistas mulheres dentro das áreas de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, tornando o conhecimento acessível para todos.

A página é resultado de seu trabalho de mestrado em Ensino de Astronomia pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP. Beatriz é formada em Ciências Biológicas e especializada em Ensino de Biologia. Com mais de 14 anos de carreira como professora em escolas públicas e privadas, atualmente ela se dedica à pesquisa de gênero e divulgação da história das mulheres na ciência, com seu projeto intitulado Cientistas Brilhantes: Divulgação da História das Mulheres na Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas Através de um Website.

“Em 2023, fiz um curso de formação de professores de Astronomia Geral pelo IAG, onde conheci o mestrado profissional e me identifiquei bastante, pois já faz algum tempo que trabalho questões de gênero na escola e achei que poderia fazer um projeto relacionado ao Astrominas”, explica a pesquisadora, que também é voluntária no projeto Astrominas, responsável pelo ensino de ciências da Terra e do Universo para alunas do ensino básico.

website de divulgação científica disponibiliza materiais didáticos, indicações de filmes e livros, imagens e um glossário que une as três áreas do conhecimento do IAG. O mestrado é desenvolvido sob a orientação da professora Andrea Teixeira Ustra e contribui para o quinto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que diz respeito à igualdade de gênero. Beatriz espera que seu site seja usado por estudantes e auxilie na formação de professores. Futuramente, ela planeja uma ampliação do site, com a criação de uma área com jogos didáticos.

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Beatriz Zanon – Foto: Reprodução/IAG-USP

“Acredito que meu trabalho é algo necessário e que agrega demais para a comunidade, é interdisciplinar, enriquecedor e acessível ao público. Ele é feito para jovens, para garotas e para toda a comunidade. Acredito que é um material inspirador. Traz a mensagem de que a mulher pode fazer o que quer, estar onde quer, e principalmente, que elas sempre estiveram presentes e conseguiram ganhos maravilhosos para o conhecimento e a comunidade”, enfatiza Beatriz.

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O projeto destaca as realizações de diversas mulheres, como Yedda Ferraz Pereira, primeira astrônoma profissional do Brasil, e Marie Tharp, geóloga e cartógrafa oceanográfica pioneira no mapeamento do fundo do Oceano Atlântico – Fotos: Revista Manchete (1959, Edição 0374)/Biblioteca Nacional e AIP Emilio Segrè Visual Archives, Gift of Bill Woodward, USNS Kane Collection/Domínio público via Wikimedia Commons

Além de conhecer as histórias das cientistas, os usuários também podem colocar seus conhecimentos em prática por meio de um experimento de espectroscopia, para identificar a composição das estrelas. A espectroscopia é um método de análise que permite observar e medir as interações entre a matéria e a radiação. Ao final do desafio, é possível deixar um retorno sobre a experiência por meio do formulário disponibilizado no site. De acordo com a pesquisadora, em breve também serão incluídos desafios de geofísica e ciências atmosféricas.

“O mais importante desse projeto é fazer a divulgação da contribuição das mulheres nas ciências. Desde criança, não me recordo de ver modelos femininos em livros ou apostilas. Agora, como professora, esse erro persiste. As mulheres cientistas continuam invisibilizadas, não só na minha área de atuação, mas em diversas outras”, afirma Beatriz.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2022 do IBGE, as mulheres compunham 21,3% da população entre 25 anos ou mais com nível superior completo, contra 16,8% dos homens. Contudo, a taxa de participação feminina preta ou parda com ensino superior cai para 14,7%. Muitas mulheres no meio acadêmico continuam sendo invisíveis aos olhos da sociedade. Nesse contexto, a divulgação científica ganhou força para conquistar o interesse de mulheres mais jovens pelas ciências naturais e exatas.

Ao contar sobre sua trajetória, Beatriz lembra das mulheres que marcaram seu trabalho, com destaque para a professora Elysandra Cypriano, coordenadora do projeto Astrominas. “Uma pessoa que realmente foi um divisor de águas para mim foi a professora Lys, do IAG. O entusiasmo dela é contagiante. Ela torna a ciência acessível e mostra que é possível conciliar a vida pessoal e profissional. Casada, com filha, com superideias, trabalha com coletivo, é interdisciplinar e acredita na educação. Ela é uma grande inspiração para mim”, diz.

Cientistas Brilhantes,
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O projeto do trabalho de mestrado traz conteúdos sobre a trajetória de cientistas mulheres, materiais didáticos e desafios – Foto: Reprodução/Cientistas Brilhantes

“Tive professoras durante a escola e a graduação que me marcaram bastante, mulheres fortes, pesquisadoras e mães, que desenvolvem projetos e pesquisas incríveis. Na graduação conheci a história da Rosalind Franklin, uma das cientistas mais notáveis do século 20. Ela fez descobertas cruciais sobre a estrutura do DNA, apesar de enfrentar obstáculos significativos devido ao seu gênero”, conta Beatriz. Assim como ela, com a criação do website Cientistas Brilhantes, muitas meninas poderão se inspirar em modelos femininos.

Pensando no âmbito comunitário, e em como a comunidade do IAG tem enfrentado a questão da igualdade de gênero, Beatriz comentou que “o IAG desenvolve algo incrível com o Astrominas, incentivando tantas garotas e divulgando o trabalho feito por mulheres. O Projeto Cecília, que leva conhecimento às escolas públicas, também é excelente, com monitoras mulheres. Acho que a cada ano, o IAG tem crescido bastante em relação às questões de gênero. Talvez um dia de comemoração das mulheres cientistas, com palestras ou uma semana dedicada às cientistas no IAG, aberto ao público, seria algo que somaria”.

*Mestre em Geofísica, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geofísica do IAG-USP e participante do Grupo de Trabalho para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no IAG-USP. Editado por Gabriela Varão, estagiária sob supervisão de Tabita Said

** **Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

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