Música

Carlos Fernando: o frevo com novas asas [MEMÓRIA]

Devido à densidade artística, muitas canções se incorporaram ao repertório verde-amarelo, a exemplo de Banho de Cheiro

Por Gilson Oliveira

A vontade de ver o frevo bater asas e voar bem alto, da Pracinha do Diario para as Américas, para todo o mundo. O compositor e produtor musical Carlos Fernando não conseguiu exportar o ritmo made in Recife para os quatro cantos do planeta, como era seu desejo, expresso na frase acima, em que faz referência à Praça da Independência, localizada em frente ao Diario de Pernambuco e um dos mais tradicionais redutos do frevo durante o período carnavalesco na cidade.

Publicado originalmente no site MangueNius – projeto de conclusão do curso de jornalismo de AD Luna. LINK ORIGINAL

Em compensação – e esse era seu verdadeiro objetivo –, o projeto Asas da América, por ele idealizado e executado, fez o ritmo alcançar grandes alturas pelo firmamento da música popular brasileira, reunindo, ao longo dos sete discos que compuseram a série, uma constelação de intérpretes de primeira grandeza, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jackson do Pandeiro, Lenine, Geraldo Azevedo, MPB4, Elba Ramalho, Fagner, Zé Ramalho, Alceu Valença e muitos outros artistas.

Lançada em 1979, a série, que conta também com composições de outros autores, tornou-se sucesso de público e crítica, tendo muitos especialistas enfatizado a proposta cultural do projeto e seu caráter revolucionário e modernizador do frevo, presente tanto nas estruturas rítmicas como na temática das letras, arranjos e concepção gráfica das capas. Devido à densidade artística, muitas canções se incorporaram ao repertório verde-amarelo, a exemplo de Banho de Cheiro (“Eu quero um banho de cheiro,/ eu quero um banho de lua,/ eu quero navegar”), composta por Carlos Fernando e gravada por Elba Ramalho, executada há mais de 15 anos em todo o Brasil, dentro e fora do período carnavalesco.

“O projeto não parou. Apenas, como não é fácil lançar anualmente um disco com tantos intérpretes, ampliamos o intervalo entre uma produção e outra, mas no próximo ano a série ganhará mais um volume, desta vez com uma roupagem mais pop”, diz Carlos Fernando, acrescentando que os 20 anos de Asas da América serão comemorados com uma novidade que celebrará também a chegada do ano 2000. “No final deste ano, estaremos lançando, com o patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado, o CD Asinhas da América, primeiro disco de frevo interpretado exclusivamente por crianças e adolescentes.”

Integrante de um time de compositores e produtores que “descansam carregando pedras”, ou seja, tocam paralelamente vários projetos, Carlos Fernando está atualmente às voltas com a produção do quarto volume da série Frevoé, patrocinado pela Secretaria Municipal de Cultura da Cidade do Recife. “O disco está programado para sair em dezembro e promove um encontro entre a geração atual e antigos compositores de frevo, mostrando a produção de hoje e resgatando clássicos criados nos últimos 50 anos por gente como Capiba, Nelson Ferreira, Edgard Moraes, Aldemar Paiva e Levino Ferreira”, adianta o produtor, cuja carreira como compositor começou em 1967, quando, reunindo sua primeira letra com a primeira música de Geraldo Azevedo, criou a marcha-de-bloco Aquela Rosa, vencedora de um concurso promovido pela TV Jornal do Commercio e pela revista Manchete.

Respondendo à pergunta implícita na série Frevo: tema para o ano inteiro – criada para debater a situação do ritmo e buscar caminhos que concorram para revitalizá-lo –, Carlos Fernando ressalta que esse gênero musical se ressente exclusivamente de investimentos e divulgação. “No ano passado, por exemplo, João Florentino, da Polydisc, fez compilações das obras de Capiba e Nelson Ferreira e vendeu muito bem, até porque, devido às mortes de Capiba e de Luiz Bandeira, as emissoras de rádio abriram espaço para o frevo. Se, a exemplo do que acontece na Bahia, os nossos empresários procurassem apoiar mais a cultura, o frevo, com certeza, faria muito mais sucesso, inclusive entre os jovens, pois, como o rock, é um ritmo cheio de energia e sensualidade.”

Parceiro de, entre outros artistas, Lenine, Zé da Flauta, Geraldo Amaral, Zé Ramalho, Teca Calazans, Lula Queiroga, Paulo Raphael, Guto Graça Melo, Alceu Valença e Geraldo Azevedo (com quem fez o maior número de músicas), Carlos Fernando já compôs cerca de 200 canções, cultivando também baião, xote, ciranda e outros ritmos. Dessa produção fora da esfera do frevo fazem parte muitos sucessos, como Canta Passarinho e Beleza Agreste, gravadas por Geraldo Azevedo, e Forrozear, registrada em disco por Gilberto Gil.

Como o parceiro mais constante do compositor Carlos Fernando é o produtor Carlos Fernando, as incursões por outros gêneros pernambucanos só poderiam resultar em novos projetos. É o caso de Forró Brasil, lançado em 1996. Transportando para o gênero que consagrou Luiz Gonzaga o espírito de Asas da América, o disco é uma atualização da linguagem rítmica e poética do mais autêntico forró e reúne clássicos e músicas inéditas gravadas por Lenine, Gilberto Gil, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Bubuska Valença, Lula Queiroga e Alceu Valença, entre outros artistas. A perspectiva é de que o segundo volume da nova série idealizada pelo compositor, nascido em Caruaru, saia no próximo ano, fortalecendo ainda mais as “asas” do forró.

ACESSE TAMBÉM

A conexão do compositor Carlos Fernando com Elba, Alceu e Geraldo Azevedo

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