Capacitação encoraja candidatas não eleitas de PE a competir novamente
No Estado, duas mulheres participam da formação “Pós-Eleições para não eleitas” desenvolvida gratuitamente pelo projeto social A Tenda das Candidatas
Hannah conta que, embora A Tenda das Candidatas ofereça desde 2020 uma preparação às mulheres que vão disputar uma vaga política, é a primeira vez que o projeto seleciona apenas as veteranas dessa maratona. Nessa edição especial da formação, foram escolhidas 17 alunas – ou “atendidas”, como preferem ser chamadas – para que cada uma tivesse uma consultoria personalizada.
Além de ter concorrido nas últimas eleições, outros critérios foram levados em consideração nessa escolha, seguindo as diretrizes do projeto social: combater as desigualdades racial e de gênero nos cargos do Poder Legislativo e Executivo, pela inserção do público feminino na política, priorizando, inclusive, as negras e indígenas.
Dentre as selecionadas, a pernambucana Ailce Moreira afirma que participar da formação é reconstruir a sua jornada.
“Como candidata de ‘primeira viagem’ participar da formação para candidatas não eleitas d’A Tenda me fez reconstruir o horizonte da luta e do caminho político. Amparo e direcionamento são duas palavras que definem essa experiência. Poder acessar desde o acolhimento psicológico ao estabelecimento de novas metas para o futuro, passando por questões práticas que envolvem a burocracia eleitoral, foram elementos essenciais para me dar a certeza de que o caminho está apenas começando. Tenho muita gratidão pela dedicação e oportunidade que A Tenda oferece para mulheres que dedicam parte de suas vidas à luta pelos direitos humanos na arena política, como eu”, reitera.
Janielly Azevedo narra que a formação d’A Tenda não somente a ajudou enquanto candidata, mas a toda equipe. “E o mais importante, antes de começar as eleições. Quando tudo começou, já estávamos com tudo pronto. A Tenda não só me trouxe mais segurança, mas trouxe um novo horizonte para nossa equipe”, comentou.
É por esse motivo que suas fundadoras decidiram focar os esforços este ano nas “não eleitas”, trazendo às aulas temas que abrangem desde questões práticas (como auxílio para a prestação de contas da campanha) até situações mais complexas como o apoio psicológico para vítimas de violência sofridas durante a disputa.
Para a advogada Laura Astrolabio, co-fundadora da A Tenda das Candidatas, abrir essa oportunidade às candidatas não eleitas também é uma forma de mudar a regra do jogo. “O período pós-eleições é extremamente crucial para a retenção de lideranças no processo eleitoral, pois se uma candidata passou por essa experiência, mesmo não se elegendo, ela já pertence a um quadro mais forte para as próximas eleições”, afirma.
Conta Desigual – Além de formação de mulheres para a política, a Tenda das Candidatas atua na divulgação de estudos e análises sobre as desigualdades nas eleições, como fez na recente campanha “A conta não fecha”, (https://atendadascandidatas.org/campaign/a-conta-nao-fecha/), quando denunciou o subfinanciamento e a sub-representação de gênero e raça nos cargos dos poderes Legislativo e Executivo do País.
Afinal, as mulheres somam 53% do número de eleitores no Brasil, mas são apenas 15% do Congresso, ou 15 mulheres num universo de 81 senadores. No caso das mulheres negras, elas representam 2,5% das cadeiras na Câmara dos Deputados e, no Senado, ocupam só 2 das 54 vagas na atual legislatura.
“A política eletiva tem uma estrutura de exclusão complexa que atua para expulsar mulheres, ao negar uma fonte de recursos que as impede de fazer uma campanha digna. Infelizmente, o fundo eleitoral no Brasil tem gênero e têm cor”, conclui Laura.