Em um “short” (vídeo curto) publicado no canal “A Tenda do Necromante”, o doutor em Ciências da Religião Osvaldo Luiz Ribeiro apresenta uma questão provocadora sobre a relação entre a fé, os valores humanos e a identidade comunitária. Ele argumenta que cada comunidade religiosa tende a projetar seus próprios valores e crenças em Deus, moldando-o à sua imagem e semelhança. Essa ideia, oferece um ponto de partida interessante para uma análise crítica da influência da cultura e da comunidade na compreensão da divindade.
Ribeiro sugere que Deus é frequentemente visto como um reflexo dos valores e ideologias dominantes em cada comunidade. Se uma comunidade é fascista, Deus será apresentado como um fascista. Se uma comunidade é nazista, Deus será apresentado como um nazista. Da mesma forma, se uma comunidade é escravagista, Deus será apresentado como um escravagista. E se uma comunidade é defensora dos Direitos Humanos, Deus será apresentado como um libertário defensor dos Direitos Humanos.
Essa visão de Deus como uma projeção da sociedade levanta questões importantes sobre a natureza da fé e a influência da cultura na formação das crenças religiosas. Em vez de Deus ser uma entidade transcendente e universal, ele parece ser moldado pelas experiências, valores e ideologias da comunidade, tornando-se um espelho da sociedade.
A Influência da Comunidade na Fé
Ribeiro argumenta que as pessoas tendem a se envolver profundamente nas suas comunidades, absorvendo os valores e crenças que circulam no seu seio. Esse “gueto” cultural, como ele o designa, molda a visão do mundo dos indivíduos, incluindo a sua compreensão de Deus. A crença de que Deus é fascista, nazista ou escravagista, por exemplo, pode ser resultado da influência de uma comunidade que possui esses mesmos valores.
Essa ideia ressalta a importância do contexto social na formação da fé. As crenças religiosas, longe de serem verdades universais e imutáveis, são frequentemente influenciadas pelos valores e normas da comunidade em que se inserem.
A Distância entre a Fé e a Realidade
Ribeiro sugere que a projeção dos valores humanos em Deus pode levar a uma distorção da realidade. Em vez de buscar a verdade divina, as pessoas podem estar criando uma versão de Deus que se ajusta às suas próprias necessidades e desejos. Essa “personalização” de Deus pode levar a uma falta de autocrítica e a uma dificuldade em questionar as crenças que se baseiam nos valores da comunidade.
O Legado de Aristóteles
Ribeiro cita Aristóteles para reforçar a ideia de que os deuses são frequentemente criados à imagem dos reis. O filósofo grego argumentava que a adoração de deuses é uma forma de projeção da natureza humana, refletindo o desejo de controlar e dominar. Para Aristóteles, a crença em deuses é uma forma de justificar o poder e a autoridade dos reis.
A citação de Aristóteles oferece uma perspectiva histórica sobre a relação entre a fé, o poder e a sociedade. Sugere que a criação de deuses pode ser uma forma de validar e perpetuar as estruturas de poder existentes.
Reflexões sobre a Natureza da Fé
Ribeiro levanta uma série de reflexões importantes sobre a natureza da fé e a influência da cultura na sua formação. Ele questiona a ideia de uma verdade divina universal, sugerindo que a compreensão de Deus é frequentemente moldada pelos valores e crenças da comunidade.
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