Cada comunidade religiosa projeta em Deus os seus próprios valores

 Cada comunidade religiosa projeta em Deus os seus próprios valores

Imagem de Pexels por Pixabay

Em um “short” (vídeo curto) publicado no canal “A Tenda do Necromante”, o doutor em Ciências da Religião Osvaldo Luiz Ribeiro apresenta uma questão provocadora sobre a relação entre a fé, os valores humanos e a identidade comunitária. Ele argumenta que cada comunidade religiosa tende a projetar seus próprios valores e crenças em Deus, moldando-o à sua imagem e semelhança. Essa ideia, oferece um ponto de partida interessante para uma análise crítica da influência da cultura e da comunidade na compreensão da divindade.

Ribeiro sugere que Deus é frequentemente visto como um reflexo dos valores e ideologias dominantes em cada comunidade. Se uma comunidade é fascista, Deus será apresentado como um fascista. Se uma comunidade é nazista, Deus será apresentado como um nazista. Da mesma forma, se uma comunidade é escravagista, Deus será apresentado como um escravagista. E se uma comunidade é defensora dos Direitos Humanos, Deus será apresentado como um libertário defensor dos Direitos Humanos.

Essa visão de Deus como uma projeção da sociedade levanta questões importantes sobre a natureza da fé e a influência da cultura na formação das crenças religiosas. Em vez de Deus ser uma entidade transcendente e universal, ele parece ser moldado pelas experiências, valores e ideologias da comunidade, tornando-se um espelho da sociedade.

A Influência da Comunidade na Fé

Ribeiro argumenta que as pessoas tendem a se envolver profundamente nas suas comunidades, absorvendo os valores e crenças que circulam no seu seio. Esse “gueto” cultural, como ele o designa, molda a visão do mundo dos indivíduos, incluindo a sua compreensão de Deus. A crença de que Deus é fascista, nazista ou escravagista, por exemplo, pode ser resultado da influência de uma comunidade que possui esses mesmos valores.

Essa ideia ressalta a importância do contexto social na formação da fé. As crenças religiosas, longe de serem verdades universais e imutáveis, são frequentemente influenciadas pelos valores e normas da comunidade em que se inserem.

A Distância entre a Fé e a Realidade

Ribeiro sugere que a projeção dos valores humanos em Deus pode levar a uma distorção da realidade. Em vez de buscar a verdade divina, as pessoas podem estar criando uma versão de Deus que se ajusta às suas próprias necessidades e desejos. Essa “personalização” de Deus pode levar a uma falta de autocrítica e a uma dificuldade em questionar as crenças que se baseiam nos valores da comunidade.

O Legado de Aristóteles

Ribeiro cita Aristóteles para reforçar a ideia de que os deuses são frequentemente criados à imagem dos reis. O filósofo grego argumentava que a adoração de deuses é uma forma de projeção da natureza humana, refletindo o desejo de controlar e dominar. Para Aristóteles, a crença em deuses é uma forma de justificar o poder e a autoridade dos reis.

A citação de Aristóteles oferece uma perspectiva histórica sobre a relação entre a fé, o poder e a sociedade. Sugere que a criação de deuses pode ser uma forma de validar e perpetuar as estruturas de poder existentes.

Reflexões sobre a Natureza da Fé

Ribeiro levanta uma série de reflexões importantes sobre a natureza da fé e a influência da cultura na sua formação. Ele questiona a ideia de uma verdade divina universal, sugerindo que a compreensão de Deus é frequentemente moldada pelos valores e crenças da comunidade.

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